PREÇO - HÁ SINAIS POSITIVOS NO LÍTIO. SERÃO SUFICIENTES?
2025-09-09 21:06:05

MATÉRIAS-PRIMAS Há sinais positivos no preço do lítio. Mas será suficiente?? Aquele que é conhecido como “ouro branco” tem vindo a perder terreno nos últimos anos, depois dos recordes de 2022. Ainda há quem Ihe vaticine um ano vermelho em 2025, mas a recente retoma traz a expectativa de uma inversão. A questão é se será duradoura. cpedro@negocios.pt Olítio teve um desempenho explosivo no arranque da atual década, como auge a ser atingido em novembro de 2022, quando chegou a valer mais de 80.000 dólares por tonelada. Menos de três anos depois, os preços rondam os 10.500 dólares, tendo até chegado a anegociar abaixo dos 9.000 dólares em junho passado. Este caminho descendente nos mercados tem sido penoso para os produtores, mas há sinais de viragem que apontampara umaretomao em curso a questão é saber se é apenas “fogo de vista”, ouse veio para ficar. A fulgurante performance do lítio, àconta da crescente procura, levou a um forte investimento em nova produção, especialmente quando os preços atingiramo opico em 2022. Segundo dados da Fastmarkets, a produção mundial deste metal disparou de 737.000 toneladas em 2022 para quase 1,2 milhões de toneladas em 2024. Resultado: um excedente da oferta quie, conjugado com a desaceleração do crescimento da procura por veículos elétricos (à conta de juros epreços elevados), tem estado a pressionar os preços. A rápida expansão da capacidadepor parte dos produtores anível mundial coincidiu com taxas de adoção de veículos elétricos mais lentas do quie o esperado nos mercados ocidentais. Enquanto isso, a robusta constituição de stocks ao longo de toda a icadeiade abastecimento criou uma situação de oferta excedentária que o mercado não conseguiu absorver com rapidez suficiente. E atendendo a que o investimento em nova capa-cidade mineiras só começa, no caso do lítio, a adar frutos passados três anos, a tendência de queda dos preços estava ainda mais visível no início de 2025. Mas agora, contra a maioria das expectativas, o preço do metal está a recuperar. No mês passado, o lítio valoriZOU mais de 9%, o que o ajudou a ficar com saldo positivo no acumulado do ano (+4,54%). E isto àconta, sobretudo, da notícia de 10 de agosto de que a gigante chinesade baterias Contemporary Amperex Technology (CATL) suspendeu pelo menos durante três meses a produção de uma das mais importantes minas de lítio, na província de Jiangxi, pelo facto de a licença de exploração ter expirado. De acordo com O Morgan Stanley, esta mina do sudeste da China deveria fornecer 58.500 toneladas de lítioem 2025 , ocorrespondente a cerca de 4% da oferta mundial. Estes ganhos constituem; sinais de mudança, que apontam para uma potencial retoma no total de 2025, mas é ainda cedo para os investidores festejarem. A volatilidadeé grande e nos primeiros dias de setembro os preços estiveram no vermelho. O que falta, então, para quie haja uma reviravolta mais suStentada? Há vários catalisadores com potencial para alimentarem um reequilíbrio do mercado euma recuperação dos preços, como os cortes de produção, incentivos governamentais à compra de veículos elétricos, desenvolvimentos tecnológicos em matéria de baterias (que exijam um maior teor de lítio por killowatt-hora), perturbações na cadeia de fornecimento e armazenamento estratégico através de iniciativas governamentais oL empresariais para garantir o yabastecimento a longo prazo. “Estes catalisadores podemalterar rapidamente o sentimento do mercadoe acelerar o cronograma para a normalização dos preços, especialmente se vários fato-res convergirem simultaneamente. Desenvolvimentos como a esperada nova refinaria de baterias da India também podem afetar os equilíbrios regionais entre ofertae procura”, dizo fundadore CEO da Discovery Alert, John Zadeh. Contudo, se a oferta continuar a aumentar, o crescimento deste mercado continuará a desacelerar. Por isso, se não forem tomadas medidas, o excedente de oferta será substancial ao longo dos próximos anos , e os preços continuarão a cair. Há i sobretudo duas formas de ação porparte do setorpara combater este panorama, diz Zadeh. Uma delas é “criar condições para aumentar a constituição de inventários (na expectativa de vender o produto mais tarde, quando os preços estiverem mais atrativos)”. Mas, ressalva, este é um cenário totalmente novo no setoro do lítio e cria uma série de desafios, “desde a demora em obter receitas até àpotencial degradação do produto com o passar do tempo”. Outradas "soluções” serácortar a produção o que traz poupanças nos custos de armazenamentod e/ oureprocessamento, mas também implica uma perda permanente de receita potencial. Há, pois, quepesar bem todas as alternativas. A recente trajetória ascendente dos preços deve-se ao facto de estar já a observar-se alguma racionalização da oferta, com o encerramento ou suspensão de operações mineiras que não estavam a ser rentáveis. E a retoma das cotações “sugere que o sentimento de mercado pode estar a mudar, passando de pessimista para cauitelosamente otimista”, refere o fundador da Discovery Alert. Se esta disciplina na oferta se mantiver, talvez 2025 venha a ser um ano positivo. Mas há quem tenha dúvidas, já que, mesmo quando os preços caem abaixo dos custos de produção, os produtores hesitam muitas vezes em encerrar as suas operações, na esperança de que alguém o faça primeiro. Segundo dados da Bernstein Research, citados pelo Financial Times, perto de metade da produção global de lítio não cobre OS CLIStos operacionais diretos aos preços atuais. Noentanto, poucosprodutores se mostraram dispostos a reduzir a produção, à espera de umaviragem nospreços. Ainda: assim, algumas das suspensões de atividade como é o casoda CATL , estão a ser suficientes, pelo menos por agora, para dar um impulso a este metal em bolsa. Mineiras do “ouro branco” já sentem benefícios da viragem Algumas das principais mineiras que produzem lítio estão já com saldo positivo em 2025, muito à conta dos fortes ganhos registados no último mês. As empresas mineiras quie apostam na produção de lítio têm vivido dias mais amargos desde 2023. Depois dos tempos áureos de início da década em 2020 avançou 13,15%, em 2021 disparou 442,8% e no ano seguinte o saldo manteve-se bastante positivo, ao ganhar 72,49% deu-se um forte auimento da produção, o que levou a um excesso de oferta, fazendo com que o preço do metal afuindasse 81,42% em 2023 e 57,34% em 2024. Agora, o »mercado está a retomar, mas é ainda cedo para afirmar que a tendênciado recuperação veiopara ficar. E o mesmo se pode dizer damelhor performance das cotadas do setor, como é o caso da norte-americana Albemarle Corp, dachilena SQM, das chinesas Ganfeng Lithium e da Tianqi Lithium OLl da australiana Liontown Resources. Deste grupo, a Albemarle é a aúnica que ainda tem saldo negativo no ano, com uma queda de 5,5%. Noentanto, este recuo é agora bem menor do que em julho, devido à subida de 16% ao longo do mês passado. No caso da SQM, o ganho anual é de 26,7%, com a ajuda do pulo superior a 20% nos últimos 30 dias Tambémcom valorizações anuais (acima dos 40%) estão as chinesas Ganfeng e Tianqi - com avanços na ordem dos 13% em agosto. A Liontown surge atualmente como a grande vencedora, ao escalar 70,18% este ano. Apesar de ainda haver algumas reticências quanto ao desempenho do lítio no cômputo deste ano já que, segundo a consultora Wood Mackenzie, muitos produtores estiveram a operar com margens zero ounegativas nos últimos meses, o grupo anglo-australiano Rio Tinto mostra-se muito otimista. O conglomerado, que produz lítio e que está a expandir substancialmente as suas operações depois da aquisição da Arcadium Lithium e de projetos como o Rincón na Argentina, não mostra receios perante a queda de 90% dos preços face ao máximo histórico de 2022. Pelo contrário: em junho passado, a gigante mineira disse que se mantinha “consistente na convicção de um bom panorama para o lítio no longo prazo”. Resta saber se o otimismo é justificado, mas há casas de investimento, como o BNP Paribas, que apontam para uma melhoria do cenário a partir de finais de 2026. Lítio, para que te quero? Quando se falar no lítio, éimediata a associação ao seu uso nas baterias de iões de lítio para os veículos elétricos. Mas este metal alcalino tem uma utilização muito mais vasta. e o caso das aplicações industriais, como vidro e cerâmica ou ligas metálicas me utilizadas em aeronaves, por exemplo. E mais: é um recurso na energia nuclear, atua como analgésico em operações de risco e marca presença emmuitas pastas dentífricas. E não se fica por aqui, sendo igualmente usado como estabilizador do humor, em casos de depressão e doença bipolar. Além disso, há novos estudos que sublinham o seupapel como neuroprotetor. O lítio, que nos tempos dasubida fulgurante dos preços foi apelidado de “ouro branco”, alimenta tambémmuitos dos aparelhos e gadgets que usamos diariamente, como os computadores portáteis, telemóveis ou mp3. Em 2016, o papel esperado para este metal na revolução dos veículos elétricos, no âmbito da transição para as energias verdes, levou a que o Goldman Sachs dissesse que o lítio era “a nova gasolina”. Outro aspeto importante: não abunda na crosta terrestre. Pelo contrário, é um metal escasso e disperso em certas rochas, podendo ser encontrado também em sais naturais, águas salgadas e águas minerais. Daí que a sua oferta, atualmente excedentária, tenha de ser agora doseada para voltar a ver dias de fortes ganhos em bolsa. CP 10.500 PREçO O lítio negoceia em torno dos 10.500 dólares por tonelada, depois de um pico acima dos 80.000 dólares em 2022. O lítio é muito procurado para as baterias dos veículos elétricos. EUR. Se não forem tomadas medidas, o excedente de oferta de lítio será substancial ao longo dos próximos anos. JOHN ZADEH CEO da Discovery Alert 57,3 QUEDA O preço do lítio caiu 57,3% no ano passado. Em 2025 já tateia terreno positivo, mas ainda com timidez. 90 MERGULHO O metal afundou 90% desde o pico de novembro de 2022. Agora está a retomar e cotadas São beneficiadas. 2016 PROMESSA Em 2016 já o lítio se mostrava mais promissor na transição energética , sendo chamado de “nova gasolina”. CARLA PEDRO