LUÍS MOUTINHO PRESIDENTE EXECUTIVO DA MC - “VAMOS INVESTIR EUR1000 MILHÕES ATÉ 2030”
2025-08-18 21:06:51

Textos MARGARIDA CARDOSO Foto Rui DUARTE SILVA “os portugueses estão bem servidos no que respeita ao retalho alimentar”, diz ao Expresso Luís Moutinho, há 16 anos na presidência executiva da MC, empresa da Sonae dona do Continente, líder do sector em Portugal. O país não tem espaço para mais hipermercados, mas continua a haver margem para investir, crescer e inovar, como prova a maior loja inteligente do mundo, aberta em Leiria, em janeiro, numa “antecipação do futuro” que permite ao cliente pagar os produtos sem fazer registo manual. Quanto aos preços, garante: “Somos alheios a fenómenos de inflação. Lutamos para os contrariar” P O Continente tem 40 anos e 400 lojas. Estão onde queriam estar? R Foram décadas de grande transformação. Somos conhecidos a nível nacional e internacional como uma empresa que tem inovado e reinventado o retalho alimentar. Temos vindo a dinamizar os nossos hipermercados, mas também a apostar noutros formatos para diferentes opções de compra. Abrimos a loja número 400, na Madeira. Somos líderes de mercado, com uma quota de 27% que tem estado a crescer fruto do trabalho de dinamização das lojas e da abertura de lojas novas de menor dimensão porque é na conveniência e proximidade que temos espaço para abrir. P E o que se segue? R Um trabalho contínuo de inovação e reinvenção do retalho, que vai continuar a mudar. O Continente vai investir mais de EUR1000 milhões em Portugal até 2030 entre renovação do parque de lojas, expansão e digital. Há cada vez mais ambição. P São quantas lojas mais? R Nos últimos cinco anos abrimos 100 lojas Continente Bom Dia e acreditamos que é possível em formatos de menor dimensão manter o ritmo de 20 lojas por ano. E temos o digital. A penetração das vendas online no alimentar, onde estamos a celebrar 25 anos, é relativamente baixa, a rondar os 4%, mas é o dobro da média nacional e temos uma quota de mercado de 50%. Vamos continuar a crescer, até pelas entregas rápidas, mas sabemos que a experiência em loja vai continuar a ser muito mais forte. Este é um negócio de pessoas para pessoas, de compra frequente, com interação social. Muitos clientes visitam as nossas lojas todos os dias. são conhecidos pelo nome e conhecem-nos pelo nome, mesmo nos hipermercados. Temos 4,6 milhões de contas no cartão Continente. Todas as famílias portuguesas têm cartão. P E não há mais hipermercados? R O hipermercado em Portugal é um formato que já não tem espaço para novas localizações, portanto não vamos ter mais. Vamos sim dinamizar, rejuvenescer dentro da nossa interpretação de hipermercado. E vamos continuar a abrir outras lojas, sobretudo Continente Bom Dia, e a trabalhar o online. Portugal é um mercado muito competitivo, mas não é saturado. Há espaço para crescer nos formatos de conveniência e proximidade, não nos hipermercados. No alimentar, a grande experiência vai continuar a ser em loja, com os frescos a ganharem importância, até pela maior frequência de compra, e as soluções de refeição a ganharem também relevância. Os clientes querem ajuda para cozinhar e temos feito esse caminho. P Pode haver aquisições? R Estamos confiantes acima de tudo na nossa expansão e crescimento orgânicos. Estamos sempre atentos ao que possa acontecer, mas o nosso maior crescimento é orgânico. Até pela nossa quota de mercado esses movimentos seriam mais difíceis porque estaremos sempre limitados pela Autoridade da Concorrência P A relação com a Autoridade da Concorrência não tem sido fácil, com as multas por práticas anticompetitivas. Sentem-se perseguidos? R Quero acreditar que não é perseguição, mas acreditamos que há dossiês injustos e que isso até tem prejudicado a perceção que os clientes têm da nossa atividade. Estamos a defender-nos e acreditamos que o futuro nos dará razão. P A perceção de que o retalho alimentar tem lucros elevados é um estigma? R O retalho em Portugal é muito competitivo e o preço é um eixo muito importante para nós. Trabalhamos com oito grandes operadores, todos internacionais, enquanto nós estamos apenas em Portugal. Todos lutamos para ter os preços mais baixos. Esse éo grande desafio do retalho. Somos alheios aos fenómenos de inflação. Lutamos para os contrariar. Aliás, num momento de maior inflação, as nossas margens baixaram. é injusto associar fenómenos de inflação a interesses nossos. Se crescemos em quota de mercado é porque temos uma proposta de valor cada rezmais forte. P Abriram a maior loja inteligente do mundo. O que vem mais por aí? R Não somos a maior empresa de retalho do mundo, mas queremos ser das melhores em inovação. Adoramos fazer coisas diferentes, disruptivas, que parecem impossíveis. Leiria é um exemplo de antecipação do futuro. Gostamos mais de celebrar o que já fizemos, mas estamos sempre a preparar coisas novas, uma delas é uma nova app para o continente online porque muitas compras já são feitas através do telemóvel. P A entrada em Bolsa está em cima da mesa? R é uma decisão do acionista. O CFO (diretor financeiro) da Sonae disse há pouco tempo que não era impossível vir a acontecer. Não é algo que nos preocupe no dia a 1 dia. P Qual foi o momento mais difícil destes 40 anos? R O maior desafio foi a covid. Quando todos se refugiaram em casa, mantivemos portas abertas, com todas as novidades, regras, incertezas... Valeu a união da equipa. Era muito importante assumir a missão de alimentar os portugueses. P E o salto falhado para Angola não foi um momento difícil? R Nunca passou do papel. Foi um projeto teórico sem qualquer risco até porque não tinha por base investimentos e o que pudesse vir a acontecer era muito mais suportado no nosso conhecimento, na nossa prestação de serviço. P Os fornecedores queixam-se de grande pressão da distribuição sobre os preços. Há risco de vermos marcas a sair das prateleiras como noutros países? R No Continente não há notícias dessas. Temos uma boa relação com os nossos fornecedores, com desafios porque importa servir sempre melhor o cliente. São relações exigentes, não de rutura. Podem queixar-se, mas isso só vem dar resposta ao facto de estarmos a lutar por preços mais baixos na prateleira. O teste do algodão são os nossos resultados. As margens não crescem e às vezes, com inflação, até decrescem. P E como é a relação com os sindicatos? R Fazem o seu papel. Nós temos a melhor relação com os nossos colaboradores. Prefiro responder que a nossa maior força são as pessoas. Temos 26 mil a trabalhar no Continente, 37 mil a trabalhar na MC em Portugal e 44 mil na Península Ibérica. Até 2030, teremos mais 3 mil pessoas no Continente. P Portugal compara bem com o mundo no retalho alimentar? R Muitíssimo bem. O retalho alimentar em Portugal é de grande qualidade e competitividade, com operadores internacionais e com uma qualidade de ativos de lojas muito superior ao que se vê internacionalmente. Os portugueses estão bem servidos e o líder tem contribuído para isso. P As taxas aplicadas pelos EUA VãO trazer subida de preços no supermercado? R Estamos muito atentos, mas no retalho alimentar, não estando isentos dos fenómenos mundiais, podemos estar tranquilos, até por dependermos mais de Portugal. mmeardoso@expresso.impresa.pt a TEMOS 4,6 MILHoES DE CONTAS NO CARTAO CONTINENTE. TODAS AS FAMILIAS PORTUGUESAS TêM CARTAO Luís Moutinho no Continente de Matosinhos, que foi inaugurado há 40 anos * Hã ESPAçO PARA CRESCER NOS FORMATOS DE CONVENIéNCIA E PROXIMIDADE, MAS NãO NOS HIPERMERCADOS MARGARIDA CARDOSO