AS GARAGENS TAMBÉM CONTAM UMA HISTÓRIA DA ARQUITECTURA
2025-08-17 21:07:07

As garagens Comércio do Porto e Passos Manuel, o Silo-Auto e o parque de Matosinhos Sul: quatro casos que testemunham a evolução do lugar do automóvel em relação com o movimento moderno do Porto. Garagens há muitas, por todo o país!... Mas poucos portuenses saberão que o edifício da Garagem Comércio do Porto, na Baixa da cidade, tem de raiz três pisos com 45 escritórios; ou que a Garagem Passos Manuel, a escassas centenas de metros, incluía no seu programa original um manancial de serviços, entre os quais uma engraxadoria, uma barbearia e um botequim, além das funções de stand de vendas, estação de serviço e estacionamento. E poucos saberão também que o Silo-Auto, junto ao Mercado do Bolhão, foi idealizado com uma pista de gelo na cobertura, que nunca sairia do papel; ou que o mais recente parque de estacionamento na marginal de Matosinhos Sul serviu já de improvisada pista de rali para motoristas de automóveis ministeriais... Estes quatro equipamentos, projectados e construídos num arco temporal de sete décadas (1932 a 2002), são um espelho da evolução do conceito de garagem e serviço de estacionamento e, simultaneamente, da própria arquitectura modernista na região do Porto. A Garagem Comércio do Porto, de autoria dos arquitectos Rogério de Azevedo (1898-1983) e Baltazar de Castro (1891-1967), abriu em 17 de Maio de 1932, com os serviços de oficina e de estacionamento (além dos referidos escritórios); a Garagem Passos Manuel, desenhada por Mário Ferreira de Abreu (1908-1996), foi inaugurada no dia 19 de Março de 1939 também como estação de serviço e stand de vendas da Chrysler-Dodge, além de estacionamento e também com um piso de escritórios e habitação. Ambos os edifícios são exemplares, de algum modo precoces, do modernismo e da estética art déco, com a assinatura de arquitectos que marcaram a emergência deste movimento no Porto, nos anos que mediaram as duas guerras mundiais. O Silo-Auto, referência da estética brutalista no miolo da cidade, foi projectado pelos arquitectos Alberto Pessoa (1919-1985) e João Abel Manta (n. 1928), ambos com atelier e obra principalmente construída em Lisboa; o primeiro tendo integrado a equipa que desenhou a sede e o Museu Calouste Gulbenkian; Manta mais conhecido como pintor e cartoonista do que como arquitecto. Pensado em meados da década de 1960 para integrar um conjunto de seis parques de estacionamento, no âmbito do Plano Director da Cidade do Porto elaborado pelo francês Robert Auzelle (1913-19823), o Silo-Auto foi desenhado em 1964, abriu os dois primeiros dos seus oito pisos em 1970, só tendo sido concluído no final dessa década - sem a pista de gelo e sendo o único dos parques construído daqueles que foram equacionados para a urbe portuense. Na viragem do milénio, o plano projectado por Eduardo Souto de Moura (n. 1952) para a reconversão da faixa marginal de Matosinhos Sul (2000-02), no âmbito do programa Polis, incluiu um parque de estacionamento subterrâneo cuja forma - uma gare com extensão de cerca de 500 metros - responde da forma mais simples possível à sua função: acolher os automóveis dos frequentadores do calçadão e da praia frente ao Atlântico. Um edifício pioneiro A palavra "garagem" radica no verbo francês "garer" ("abrigar", "recolher") e a sua utilização e significado acompanharam, ao longo do século XX, a própria história do automóvel, desde os primeiros protótipos motorizados até à sua lenta mas progressiva massificação, a partir do momento, em 1908, em que o americano Henry Ford lançou o seu Modelo T. No início, a garagem era uma espécie de extensão da casa, o "abrigo do automóvel". Com a industrialização acelerada do novo invento, ganha autonomia e transforma-se em equipamento urbano: a garagem, mesmo com este nome, é sobretudo uma oficina, estação de serviço, e só suplementarmente é usada como parque de estacionamento. Em 1929, Rogério de Azevedo e Baltazar de Castro são desafiados pelo empresário e professor Bento Carqueja a desenhar um novo edifício geminado com a sede do diário O Comércio do Porto, que ele próprio dirigia, e que os mesmos arquitectos tinham já também projectado (1927-30). Decidem propor-lhe uma garagem, com um programa que surge como pioneiro, já que associa as funções de estação de serviço à de parque de escritórios. Nelson Garrido Nelson Garrido Nelson Garrido Nelson Garrido Fotogaleria Nelson Garrido Autora de uma tese sobre a figura e a obra de Rogério Azevedo (Projecto e Circunstância, ed. Afrontamento, 2021), a arquitecta e professora Ana Alves Costa guiou uma visita do P2 a esta garagem, que, no contraste que estabelece com a estética Beaux-Arts do edifício Comércio do Porto, na Avenida dos Aliados, se apresenta como "um momento de viragem na arquitectura portuguesa". Aqui, a garagem é também "um edifício pioneiro no Porto, marca o início da modernidade, muito à frente no seu tempo", nota a também docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP). "Olhando para o edifício, percebe-se que os arquitectos tiveram total liberdade para fazerem o que queriam, sem estarem condicionados às regras do plano para os Aliados", acrescenta Ana Alves Costa. E chama a atenção para os grandes vãos na fachada envidraçada da garagem, o uso do betão armado, as paredes claras (que incluíam um mapa das estradas), as janelas horizontais, e ainda para o facto de ela "ter sido projectada antes da abertura da Praça Filipa de Lencastre, em frente". Nos sete andares do edifício, o programa atribuiu quatro pisos à valência garagem, com espaço de oficina (na cave), estação de serviço (com abastecimento de combustíveis) e estacionamento; os três pisos cimeiros acolhem escritórios, todos actualmente alugados e com muitos arquitectos e designers como inquilinos. Foto "Olhando para o edifício, percebe-se que os arquitectos tiveram total liberdade para fazerem o que queriam", diz Ana Alves Costa, autora de uma tese sobre Rogério de Azevedo Nelson Garrido A garagem, concessionada à empresa de estacionamento Saba, serve agora apenas de parque, mas tanto esta empresa como a família proprietária têm garantido a salvaguarda das suas características originais, com destaque para os azulejos em pastilha verde-amarela ou pormenores como o velho relógio no piso de entrada. "Isto ainda tem um grande simbolismo para nós, proprietários", diz ao P2 José Seara Cardoso, bisneto do empresário fundador, assegurando que o objectivo continua a ser "manter este património na família Carqueja Seara Cardoso". Garagem Comércio do Porto Autores: Rogério de Azevedo e Baltazar de Castro Propriedade: família Carqueja-Seara Cardoso (concessionada à empresa Saba) Localização: Ruas do Almada, 28, e Elísio de Melo, 196 Inauguração: 1932 Lotação: 84 lugares Uma garagem frente ao Coliseu Cerca de uma década após a abertura da Garagem Comércio do Porto, em 1939, foi inaugurada a sua congénere na Rua de Passos Manuel, mesmo em frente ao já então demolido Jardim Passos Manuel, e ainda à espera da construção do Coliseu. O arquitecto Mário Abreu, autor da nova garagem, haveria também de dar uma mão ao projecto daquela que, em 1941, se tornaria a maior sala de espectáculos na Baixa da cidade, completando o projecto original de Cassiano Branco. Coube-lhe, além do espaço interior, desenhar a torre do Coliseu, tendo-o feito em articulação com a fachada da Garagem Passos Manuel, cuja torre também mudou de lugar relativamente à ideia inicial. Carolina Leal, mestre em Arquitectura pela FAUP, dedicou a sua tese a fazer "uma aproximação" à obra de Mário Abreu. Nela realça precisamente o facto de o arquitecto utilizar a "torre" de circulação vertical da garagem "não só como elemento de afirmação urbana, mas também como uma espécie de ecrã publicitário, através dos néones que desenham um vitral colorido com o mapa de Portugal, simplificadamente desenhado, e as letras que anunciam a Estação de Serviço Passos Manuel". Esta garagem foi construída por encomenda das irmãs Eliza Chambers Marques e Maria Amélia Chambers de Sousa. Mas desde o início foi arrendada à firma Amorim, Brito & Sardinha, Lda., uma sociedade onde pontificava a figura de Arnaldo Rocha Brito (1880-1969), empresário do ramo automóvel, concessionário no Porto da General Motors e da Citroën, com stand na vizinha Rua de Santa Catarina. Simultaneamente, tinha quotas na gestão dos teatros Sá da Bandeira (onde Mário Abreu assinaria também uma requalificação nos anos 50) e Águia dOuro, e depois também no Coliseu. Foto Aquando da sua abertura, a Garagem Passos Manuel oferecia aos utentes uma panóplia de serviços, incluindo stand de vendas, espaço de recolha de "camionetes", zona de lavagem e lubrificação, barbearia, engraxadoria, loja de cigarros e jornais e bar Nelson Garrido Carolina Leal realça, de resto, o papel desta figura, "um homem muito viajado, que para a idealização da garagem trabalhou de perto com a família Chambers e com o próprio arquitecto", intervenção que certamente ajudou a modelar este edifício de traça modernista e art déco, diz ao P2. A jovem arquitecta - actualmente membro da equipa da Domus Social - Empresa de Habitação e Manutenção do Município do Porto, e que continua a estudar a obra de Mário Abreu, como tema de futuro doutoramento - associa a arquitectura da Garagem Passos Manuel à do Comércio do Porto, dois exemplares, na cidade, de "um primeiro modernismo", e expressão de "um período de transição e adaptação a novos materiais construtivos", escreve na sua tese. O automóvel, "cânone da modernidade" É uma época em que a evolução da arquitectura anda de par com a entrada do automóvel na vida urbana. "Garagens e estações de serviço, assim como salas de espectáculo, representavam nos anos 30 os edifícios ligados aos sinais de progresso transformador da vivência do nosso quotidiano, os símbolos que na cidade se identificavam como o modo moderno de estar", lembra também Carolina Leal, citando o catálogo da exposição Depois do Modernismo (Lisboa, 1983). É assim que a obra de Mário Abreu, antes de ser uma garagem, se apresentava como uma estação de múltiplos serviços, que na época respondia a essa ideia do "automóvel enquanto cânone da modernidade", uma "peça urbana que vê no automóvel não apenas a máquina, mas um novo estilo de vida - de mero depósito automóvel, passa a cenário de exaltação da máquina", como pode ler-se no Guia da Arquitectura Moderna - Porto, de Fátima Fernandes e Michele Cannatà (ed. Asa, 2002), no texto dedicado à Garagem Passos Manuel. Nelson Garrido Nelson Garrido Fotogaleria Nelson Garrido Expoente da estética art déco - de resto, o edifício está classificado por via da sua inclusão na Zona Especial de Protecção da Baixa da cidade -, e principalmente inspirado no modelo americano, o novo equipamento oferecia aos utentes uma panóplia de serviços, em que se destacava, na montra iluminada para a rua, o stand de vendas, mas também um espaço de recolha de "camionetes", zona de lavagem e lubrificação, além da citada barbearia (que se manteve sempre em funcionamento), da engraxadoria, da loja de cigarros e jornais e de um bar. Numa visita do P2, o seu actual proprietário, Nuno de Campos, explicou que o piso superior estava reservado à venda de carros usados, mas tinha também um palco para animação musical; seguia-se, acima, uma oficina de mecânica e manutenção, e o estacionamento apenas no terceiro piso. "Nessa altura, o parque de automóveis era de tal modo limitado que não se justificava este serviço, além de que os automobilistas podiam estacionar na rua", lembra Nuno de Campos. Foto A fachada da Garagem Passos Manuel dialoga com o Coliseu do Porto, mesmo em frente Nelson Garrido Um dos seus seis pisos estava reservado a uma espécie de hub de empresas (onde Arnaldo Rocha Brito tinha o seu escritório e onde hoje está o bar Maus Hábitos) e o último era um amplo apartamento. Consciente do valor afectivo, mas também patrimonial, da sua garagem, o proprietário avança estar apenas à espera do licenciamento de um projecto de restauro, destinado a "devolver à cidade a aura original do edifício, tanto na sua arquitectura como na sua decoração interior". Entretanto, irão avançar já esta semana trabalhos básicos de recuperação e reposição de peças originais, nomeadamente clarabóias e cerâmicas, e também o relógio e os néones da fachada, que, com o mapa das estradas de Portugal e o cruzamento de linhas horizontais e verticais, de cores branco e tijolo, remetem claramente para o imaginário do automóvel. Garagem Passos Manuel Autores: Mário Abreu Propriedade: GPM174, Lda. Localização: Rua de Passos Manuel, 174/178 Inauguração: 1939 Lotação: 92 lugares Um silo para viver melhor? Ainda na Baixa do Porto, o P2 visitou o Silo-Auto para acompanhar uma inesperada iniciativa académica da FAUP: uma "maratona de projecto" que desafiou uma dezena de estudantes de Arquitectura a imaginar para este edifício icónico uma "unidade de habitação não convencional". É verdade que o Silo-Auto, mesmo nunca tendo conseguido conquistar os favores da cidade, é desde há mais de meio século um equipamento crucial para o estacionamento na Baixa, com os seus cerca de 800 lugares, mantendo ainda hoje uma taxa de ocupação de cerca de 80%. Do ponto de vista da arquitectura, o projecto de Alberto Pessoa e João Abel Manta "parece transparecer uma síntese entre o funcionalismo que define um equipamento do género implantado no local designado e uma adaptação do material escolhido para a obra (betão armado) à sua volumetria; por outras palavras, parece cruzar a lógica industrial da fábrica de automóveis da Fiat em Lingotto (1923) com a materialidade crua do béton brute presente nas Unité dHabitation e nos edifícios públicos de Chandigahr, projectadas por Le Corbusier nas décadas de 1950 e 1960", escreve o arquitecto e crítico Pedro Treno no artigo inserto no livro Porto Brutalista, coordenado por Magda Seifert e Pedro Baía (ed. Circo de Ideias, 2020). Foto A implantação do Silo-Auto na malha urbana da Baixa da cidade nelson garrido O Silo-Auto é, assim, um reconhecido exemplo deste estilo do modernismo surgido em meados do século XX, cujo nome deriva do uso do citado béton brut como material construtivo. (E não será ao acaso que um dos seus autores, Alberto Pessoa, esteve também ligado ao desenho da Fundação Calouste Gulbenkian, com Ruy dAthouguia e Pedro Cid.) Escavado numa pedreira em pleno centro urbano, o Silo-Auto nunca foi verdadeiramente acabado, e não apenas pela falta da projectada pista de gelo na cobertura. Em contrapartida, em paralelo com o serviço de parque de estacionamento (e tendo também já funcionado como estação de serviço e de abastecimento de combustíveis), acolheu e continua a acolher inúmeras funcionalidades: dancetaria, mercado de antiguidades, galeria de arte, palco de concertos e de sessões DJ... Foto O Silo-Auto foi escavado numa pedreira em pleno centro urbano Nelson Garrido Actualmente gerido pela empresa municipal Ágora, o Silo divide os seus pisos também com a PSP (serviço de recolha de automóveis rebocados), mas mantém-se simultaneamente como desafio a outras utilidades e ideias. Foi a essa característica que a FAUP se mostrou agora sensível, ao escolhê-lo para a iniciativa "Habitar o Silo-Auto". "Escolhemo-lo, primeiro, pela grande força, mesmo que controversa, que esta peça bruta tem na cidade", diz ao P2 Carla Garrido, arquitecta e professora da faculdade portuense. A coordenadora (com a também docente Gisela Lameira) desta maratona académica explica ainda que a vertente de obra aberta deste edifício, que parece sempre "em subaproveitamento ou passível de alteração do seu modo de vida, associado a novas políticas de descarbonização e de fomento de mobilidade sem automóvel", faz do Silo-Auto um viável caso de estudo, mesmo que para um projecto-manifesto agora aparentemente utópico. Na sequência da visita realizada em meados de Abril, os estudantes da FAUP, associados a colegas do Politécnico de Milão, que se encontram a realizar trabalhos idênticos nesta e em duas outras cidades italianas, Bari e Trieste, vão apresentar os seus projectos nos dias 11 e 12 de Setembro, na Bienal de Arquitectura de Veneza (cuja 19.ª edição decorre até 23 de Novembro), no pavilhão da Áustria, cuja representação nacional tem este ano por tema Agência para uma Vida Melhor. Silo-Auto Autores: Alberto Pessoa e João Abel Manta Propriedade: Câmara Municipal do Porto Localização: Rua de Guedes de Azevedo, 180 Inauguração: 1970 Lotação: 804 lugares Improvisada pista de rali... Já fora da fronteira norte da cidade do Porto, e num novo salto no tempo da história da arquitectura moderna, o parque de estacionamento que Eduardo Souto de Moura incluiu no seu plano para a faixa litoral de Matosinhos Sul expressa bem a evolução do conceito de garagem até uma espécie de regresso ao seu significado original: um lugar para abrigar carros. Aqui, "a forma segue a função", respeita o princípio básico do funcionalismo fixado pelo norte-americano Louis Sullivan e desenvolvido pela Bauhaus, uma estética que marcaria também a evolução do movimento moderno, na arquitectura como no design. "O parque foi a base de que eu precisava para fazer a promenade junto ao mar: faço dois muros, em vez de pilares, para a contenção das terras, de um lado, e das areias, do outro, ligando-os com vigas pré-fabricadas para os grandes vãos", diz Souto de Moura ao P2, especificando ter-se tratado de "uma solução tipicamente construtiva", sem nenhuma narrativa para além disso. Foto A entrada para o parque de estacionamento é paralela ao calçadão da praia de Matosinhos Nelson Garrido Um percurso subterrâneo, paralelo ao calçadão, de cerca de meio quilómetro, com uma entrada e uma saída, e uma cobertura ligada a um espaço verde... "Não me inspirei em nada", acrescenta o arquitecto, admitindo, contudo, que a sua é uma obra de arquitectura moderna. "Do ponto de vista do conceito estrutural, tem que ver com o Mies van der Rohe, com as grandes vigas de betão pré-fabricado, paredes de tijolo, um efeito muito usado", nota, mantendo-se fiel à lição deste pioneiro germano-americano do movimento moderno. Apesar desta simplicidade, o Parque de Estacionamento de Matosinhos Sul, o primeiro que projectou, já mostrou a Souto de Moura que pode ser mais do que um lugar de estacionamento: acolheu já uma festa de aniversário da revista Time Out; e foi também equacionado pela curadora Guta Moura Guedes para uma exposição de design português. "Foi uma surpresa, quando a Guta me telefonou a dizer que tinha encontrado ali a melhor sala de exposições no país para esse fim. Acabou por não se realizar, mas fiquei contente só com essa ideia", confessa. Foto Nelson Garrido Mas a surpresa maior, Souto de Moura experimentou-a no dia da inauguração da Nova Marginal de Matosinhos Sul, em 2002, quando, chegado ao local para a cerimónia, decidiu entrar no parque para verificar a iluminação. "Desci e ouvi um barulho enorme de carros, uma dezena de Mercedes e BMW dos ministros [José Sócrates e Isaltino de Morais] e autarcas alinhados, com os respectivos motoristas a levá-los para o outro topo da garagem, porque o lugar da inauguração tinha sido mudado à última hora, e a acelerar a grande velocidade - era como aquelas corridas proibidas que se fazem de noite -, a ver quem chegava primeiro. Foi um espectáculo inesperado e teve graça", conta o arquitecto, entre risos, feliz por verificar assim as potencialidades da sua obra. "O parque é como a Cordoaria [em Lisboa]: uma grande nave onde se pode fazer tudo, exposições do Ai Wei-Wei, de antiguidades, da bienal, da trienal... É só tirar os carros e aquilo está pronto para ser um multiusos." Parque de Estacionamento Matosinhos Sul Autores: Eduardo Souto de Moura Propriedade: Câmara Municipal de Matosinhos Localização: Avenida do General Norton de Matos Inauguração: 2002 Lotação: cerca de 250 lugares tp.ocilbup@edardnas tp.ocilbup@odirragn Sérgio C. Andrade