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"QUERO GANHAR DINHEIRO, ADORO GANHAR DINHEIRO E TRABALHO PARA GANHAR DINHEIRO": A HISTÓRIA DE CELSO LASCASAS, DE REBORDOSA PARA O MUNDO

Expresso Online

2025-08-15 21:07:27

Em miúdo trocou a escola pela fábrica porque queria ter os ténis e as calças de marca que os amigos tinham. Aos 51 anos lidera um grupo empresarial que fatura 40 milhões de euros e quer mais. A fotografia de um Porsche na carteira ajudou a alimentar o sonho É apontado como um dos mais polémicos empresários nacionais. Ativo nas redes sociais, onde soma meio milhão de seguidores, Celso Lascasas, fundador e presidente do Grupo Laskasas, uma das mais internacionais marcas de mobiliário português, personifica a imagem do empresário influencer. Desde criança sempre assumiu que o seu sonho era ser rico e não tem pudor em mostrar tudo o que conquistou, dos carros de luxo à casa em Miami. Com 14 anos deixou a escola e foi aprender a ser marceneiro na oficina de um tio. Aos 51 soma um universo de 22 empresas, com presença em 55 mercados e uma faturação de 40 milhões de euros anuais. Há quem lhe chame o "Elon Musk de Rebordosa", a sua terra natal, pela excentricidade do seu perfil. E ele, confessa, até gosta. O que é que um miúdo de 14 anos, aprendiz de marceneiro, podia imaginar sobre o futuro? Com 14 anos eu só pensava que queria ser independente. Não queria pedir dinheiro aos meus avós, vivia com eles. Estava ansioso por deixar a escola e ganhar o meu ordenado. Queria ter o que os meus amigos tinham, as calças Levis e as sapatilhas Nike. Só havia uma solução: ir trabalhar. Eu também não era um ás na escola, andava lá quase por obrigação. Os meus avós, quando eu os chateava para deixar a escola, diziam-me que tinha de fazer o sexto ano, que era obrigatório. Foi o que fiz. Como é que foi parar à indústria do mobiliário? Não tinha escolha. O meu foco era ter dinheiro para as minhas coisas. Estamos em Rebordosa, Paredes, uma região em que 90% da população vive da indústria dos móveis e estofos. Eu tinha um tio que tinha uma oficina de móveis e fui para lá como aprendiz de marceneiro. Eu gostava, mas mesmo que não gostasse não havia escolha. Ainda se lembra do primeiro salário? Na altura era em contos. Mas eram uns 80 euros e não eram pagos por inteiro, era à semana. Usei-os para comprar umas sapatilhas e umas calças Levis. Sonhava com isso porque era um puto e os meus amigos tinham. Nessa altura, ir ao Porto era como ir hoje a Madrid, Paris ou Londres. Às vezes, ao sábado de manhã, lá ia com eles à Maluka, à Playboy, a duas ou três lojas no centro, mas só olhava. Não podia comprar, mas sonhava poder. Ainda hoje, as pessoas mais velhas recordam-me que eu estava a trabalhar e dizia: "Oh, pá! Eu quero é ser rico." O que era ser rico na altura? Era ter as minhas coisas, o meu carro, a minha casa. Não era nada do que eu tenho hoje. Ser rico era ter o básico. E aos 18 anos era ter um carrinho para ser independente nos trajetos. Os carros em bom vieram mais tarde... [risos] Sim, as coisas começam a acontecer e começamos a acreditar que se calhar é possível e que não é só o outro que pode ter um Porsche. Eu sempre tive na carteira - ainda antes de ter um dólar que me acompanha até hoje - a fotografia de um Porsche 911 que recortei de uma revista. Quando abria a carteira, ele estava ali, para alimentar o sonho. Funcionou... Sim. A determinada altura, tinha a empresa há dois ou três anos, fui ao BPN ver um crédito para comprar um BMW usado. A minha gestora de conta, que conhecia a minha realidade e sabia do meu sonho, diz-me: "O teu sonho não é teres um Porsche?" E eu respondi: "É, mas não posso, porque estou a começar, tenho outras prioridades." E ela diz-me que se quisesse podia. Saí de lá com o bichinho a moer-me. Passados 10 dias tinha o carro na garagem. "Sou duro, moldo-me muito bem às situações. Hoje estou bem, graças a Deus, mas se amanhã tiver de descer três ou quatro degraus da escada que subi, faço isso na boa" Os carros sempre foram o ponto fraco? É um dos poucos vícios que tenho, porque não fumo, não bebo e não jogo. Mas se as pessoas hoje veem nas redes sociais os carros que tenho, a verdade é que durante 15 anos não pensava nisso. As prioridades tinham de ser outras: fábrica, máquinas, marca. Criar uma marca e construir um grupo empresarial sempre foi o meu foco. Só depois é que pensei: "Deixa-me ter os meus brinquedos, os meus sonhos, porque isto não pode ser só trabalhar." Tem quantos carros neste momento? Meus, tenho seis: um Bentley, um Porsche, um Rolls-Royce, um Lamborghini, o Jeep GLE 63 e o BMW. E há mais algum que queira comprar? [risos] O Bugatti. Mas acho que cheguei a um ponto em que o que gostava mesmo de ter era um jato privado. Ah, isso gostava. Aquele com que apareceu nas redes sociais não era seu? [risos] Não, era alugado. Pensaram que era meu porque a equipa colocou lá "Celso Lascasas". Como é que surge a Laskasas? Eu estive desde os 14 anos até aos 22 na oficina do meu tio. Aprendi muito, mas cheguei a um ponto em que tinha de dar o salto. Fui trabalhar para uma empresa maior, também de um tio meu, onde fui ganhar mais algum dinheiro. Comecei a viajar, a ver feiras lá fora, a poupar o que conseguia e a preparar as coisas para montar a minha empresa. E, quando o fiz, ainda estive dois anos a trabalhar para o meu tio. Trabalhava sete dias por semana: de segunda a sábado ia para a empresa do meu tio e ao domingo abria a minha loja para tentar vender alguma coisa. Tem de se abdicar de muita coisa na vida para vencer. As pessoas olham para mim e dizem: "O Celso tem isto." Tenho, sim, mas ando a regar a minha árvore há muito tempo. Lembra-se de quanto investiu para criar a Laskasas? Sim, 17 mil euros. Aquilo era uma lojinha muito pequena e eu não tinha esse dinheiro todo, mas deram-me crédito. Nas primeiras semanas não entrou ninguém, não vendi nada e fiquei em pânico. Lembrava-me da minha avó, que, à sua maneira, me puxava um bocado para trás. Eu montei a Laskasas com 29 ou 30 anos, mas desde os 24 que o queria fazer. A minha avó dizia-me que eu era louco. A empresa não surge logo como a idealizou, com o foco na marca... Não, não pude dar-me ao luxo de montar uma indústria e criar os meus próprios produtos. Comecei por fazer o que os outros fazem: comprar e revender. Mas desde o primeiro dia que queria criar uma marca. Tudo o que ganhava investia em publicidade. Não tínhamos as redes sociais. Comecei a ganhar algum dinheiro e a expandir, primeiro na região Norte. Ir para Lisboa foi decisivo? Nessa altura, ir para Lisboa era quase como ir para o outro lado do mundo, exportar para outro país. Rebordosa, com todo o orgulho que tenho nas minhas raízes, é um meio muito pequeno. Numas férias, fui ver lojas para Lisboa. Havia uma marca, a Interforma, que era muito boa. Eu focava-me um bocado naquilo e conseguia fazer umas coisas parecidas, com um preço menor. Eles tinham uma loja em Alfragide e havia outra ao lado para alugar. Era uma loja muito cara. Eu já tinha quatro lojas nessa altura, na região do Porto, e a renda dessa loja era superior à das quatro juntas. Voltei para casa a achar que ia dar um salto maior do que a perna e que, se aquilo corresse mal, ia tudo por água abaixo. Mas decidi abrir. E foi dos zero aos 100, um salto incrível. Como é que chega à criação da fábrica? Foi um crescimento por fases. A minha primeira unidade fabril só surgiu quatro ou cinco anos depois de criar a empresa e era uma coisa muito pequena. Comecei a ganhar uns dinheiros, a investir, e consegui começar a construir parte desta fábrica onde estamos, que é quatro vezes maior do que a primeira que criei. O ponto de viragem foi no tempo da troika, em 2012, no meio da crise financeira. Na altura arrisquei, comprei máquinas e coloquei as pessoas a produzir na fábrica em vez de andarem a fazer entregas, porque as vendas tinham baixado. Hoje, 95% do que vendemos é feito por nós, em três polos industriais. Quando é que percebeu que isto não ia ser só uma loja? Eu era um puto com ambição, gostava de ter as coisas, mas nunca projetei a esta dimensão. Como não viajava, a minha realidade era Rebordosa. Porque é que haveria de ter 500 trabalhadores e ser o maior empregador da terra se a realidade em que eu vivia era a de empresas que tinham 20, 30, 40 trabalhadores? Se chegasse a esse patamar, já era magnífico. Mas depois começas a ver as coisas a acontecer e acreditas que podes ser muito melhor ou maior do que os outros. Tirou alguma lição desse período da troika? A minha empresa tinha cinco ou seis anos, 95% do que vendia era para o mercado nacional. Tive dois anos muito maus. Achei que ia falir. Tinha começado a fazer a fábrica, estava a investir todo o dinheiro que tinha e as vendas diminuíram 30% a 40%. Como é que superou essa fase? Sou um gajo muito duro, moldo-me muito bem às circunstâncias. Hoje estou bem, graças a Deus, mas se amanhã tiver que descer três ou quatro degraus da escada que subi, faço isso na boa. Tinha comprado outro Porsche quatro meses antes de rebentar a crise e entreguei o carro. Nós éramos poucos trabalhadores (30 ou 40 pessoas) e eu não podia estar a pedir-lhes sacrifícios e sair daqui à noite num carro daqueles. Mas não foi só o carro. Na altura existiam os cheques pré-datados até 90 dias para pagar a fornecedores. Eu passava quase uma hora por dia a ligar-lhes e a pedir-lhes para adiarem os cheques. Nunca tive um cheque devolvido, mas foi muito duro. Alguns desses fornecedores ainda trabalham comigo e são para manter. Reconheço o quanto essas pessoas me ajudaram e agradeço o seu voto de confiança. Foi aí que se voltou para o mercado internacional? Não, nessa altura mudei algumas práticas de gestão para poupar. O salto começou depois de estabilizada a situação. Comecei a estar em feiras internacionais, em Espanha e a ganhar França. Hoje, a quota de exportação do grupo já ronda os 40%. Qual é o melhor mercado da Laskasas? O Médio Oriente. Temos duas lojas, uma em Doha e outra no Dubai, com parceiros locais e com a marca Laskasas. Há três meses abrimos uma loja em Madrid, também com um parceiro local, e temos outra loja em Punta Cana, que abrimos há três anos. Ao todo são quatro lojas internacionais e 12 nacionais, já com a Moozy, que é a nossa marca com preços mais acessíveis. Desde criança que assume que quer ser rico. O que é que ainda lhe falta alcançar? Há uma coisa mais importante do que o jato, é o tempo. Às vezes esquecemo-nos disso. Eu quero ter tempo. Gostava de chegar aos 55 anos, daqui a quatro anos, a gerir completamente a minha agenda e a poder dizer: "Hoje não me apetece trabalhar." Ando a fazer contas para perceber quando posso parar. A dificuldade é saber até quando vou viver. "O k de Laskasas foi porque na altura havia o Grupo K, das discotecas dos filhos do João Rocha, e eu ia às discotecas desta vida. Achei que era porreiro pôr lá o k" O que questiona exatamente? Confesso que cada vez penso mais no que quero para o resto dos meus dias, qual o nível de vida que quero ter e de que recursos preciso. Vivo numa luta entre dois Celsos, que às vezes andam mesmo à pancada: um Celso acha que já tem o suficiente, outro gostava de ter o jato, isto e aquilo. Mas para isso tenho de continuar a vir para aqui às sete da manhã. Ter dois filhos, um deles ainda muito pequeno, condiciona? Claro. Mas também tenho uma mulher muito minha amiga, a Diana, que me diz que não precisamos de mais e que podemos sossegar. Foi essa vontade de ter mais tempo que o fez passar a liderança da empresa para a sua mulher? Sim, mas não me libertou tanto quanto eu imaginava. Embora em casa tenhamos uma regra: não se fala de trabalho. E há visões divergentes quanto à estratégia? A Diana não pensa como eu. É uma pessoa mais calma, mais tranquila. É a grande aliada do Celso que quer ter mais tempo e gozar a vida. É muito ativo nas redes sociais e nem sempre consensual, o que já lhe rendeu até o título de um dos mais polémicos empresários portugueses. O que vemos é genuíno ou é um personagem? É 100% genuíno, sem filtros na cara nem no discurso. Acho que é por isso que neste ano e meio tive este boom nas redes sociais. As pessoas identificam-se comigo. Claro que agora tenho uma equipa mais profissional a tratar das redes e que, por vezes, me limita algumas coisas. Confesso que não tinha noção de que o mundo digital era tão feroz. Não pensou no impacto negativo das redes sociais ou não estava emocionalmente preparado? Nunca penso muito, porque se pensar não faço. O que decido fazer nem sempre corre bem. Mas corre melhor do que pior, pois de outra forma não estávamos aqui. O desafio das redes sociais e de criar a minha marca pessoal começou em 2023. Pensei que era importante contar a minha história e fazer umas brincadeiras. Para dar a conhecer a marca? Sim, e essa foi uma batalha ganha. No departamento de comunicação nunca tínhamos conseguido deixar claro que a marca era 100% portuguesa, com móveis produzidos em Portugal e com um dono português. Agora, os portugueses sabem que o fundador da Laskasas é o Celso de Rebordosa. Mas quando deu o seu nome à marca não queria parecer estrangeiro? Não. Coloquei o nome Laskasas por causa do meu pai. Ele teve uma microempresa e portou-se mal, não cumpriu com as suas obrigações. O nome Lascasas, aqui na região, tinha uma conotação menos boa. E, quando vem o filho, as pessoas pensam logo que é igual ao pai, a etiqueta já lá está à partida. Era uma forma de limpar o nome e também um estímulo. Eu sabia que não podia mesmo falhar, para não dar às pessoas o gozo de dizerem que o filho era igual ao pai. Mas porquê o k no nome? O k foi porque na altura havia o Grupo K, da Kapital, das discotecas dos filhos do antigo presidente do Sporting, o João Rocha. Eu ia às discotecas desta vida e, pronto, achei que era porreiro pôr lá o k. Ter ficado pelo sexto ano nunca foi uma limitação para si? Não. Tenho uma máxima: o mais bem preparado trabalha para mim. Eu arrisco, sou o mais corajoso. O mais bem preparado tem medo de arriscar e trabalha para mim. Eu não tenho medo, arrisco, é um dom que tenho. Às vezes corre mal, mas aprendo e sigo em frente. O sucesso desta empresa é um pouco isso. Sou eu que decido, para o bem e para o mal. Para o bem tiro os dividendos. Para o mal tenho de pagar. Recebe muitos pedidos de ajuda nas redes sociais? Muitos vêm ter comigo, mas eu não posso ajudar toda a gente. Nas empresas temos uma cultura de responsabilidade social que eu gosto de comunicar, até para mostrar a outros empresários, como eu ou maiores do que eu e com mais capacidade, que também o podem fazer. Às vezes dizem-me: "Quem ajuda não mostra." Eu gosto de mostrar e não tenho problemas com isso. Dou com mais prioridade às instituições e às famílias da minha terra, Rebordosa, porque é daqui que são quase todos os meus trabalhadores e acho que tenho uma obrigação com a minha aldeia. É uma cidade, mas para mim é uma aldeia. Para os meus, os que estão aqui perto, enquanto eu puder, é sempre. As brincadeiras que faz com os seus trabalhadores nas redes sociais são polémicas... Eles gostam. Essas brincadeiras, normalmente, têm um complemento financeiro. Na última juntei quatro trabalhadores carecas como eu. Um deles não é totalmente careca, tem aquele capacete assim meio de lado, à moda antiga. Ele nunca rapou o cabelo, e eu disse-lhe que se o rapasse, para ficar como o meu, ganhava 500 euros. Ele hesitou, mas rapou. Aos outros fiz ao contrário, pedi-lhes que deixassem crescer um capacete igual ao do colega. Recebia nas redes sociais mensagens de pessoas que achavam que o dinheiro me era devolvido no fim. Não é, fica para eles. Mas também recebe comentários de ódio. O que é que o marca mais? Os que envolvem morte, coisas como: "Devia morrer, porque não faz falta nenhuma." Marca um bocadinho quando se lê. Isso e dizerem que vou acabar na falência. Mas até gosto de ler algumas dessas coisas. Dão-me combustível. Quando estou na mó de baixo e começo a pensar nas pessoas que têm a garrafa de champanhe no frigorífico, pronta para abrir quando eu falir, digo logo: "Esquece, não vai acontecer." É por isso que prefere ter inimigos? Sim, digo isso muitas vezes. Gosto de ter inimigos, adoro ter inimigos. São eles que me dão força, não lhes posso dar o gosto de me verem falhar. Esse ódio das redes é resultado de se diabolizar o sucesso? Sim. É por isso que eu gosto do mindset americano. A pergunta que sempre me fiz foi: "Se eu não sou mais do que os outros, e se eles têm isto e aquilo, porquê é que eu não posso ter?" Os americanos têm esta abertura, o perguntar como é que eu posso conseguir também. E devia ser sempre assim. As pessoas que invejam e criticam o sucesso dos outros são, normalmente, aquelas que não dão nada à sociedade. Se eu comprei um carro de 500 mil euros, paguei quase 200 mil euros em impostos. Contribuo para a máquina do Estado, não só com os trabalhadores que emprego mas também com aquilo que faturo, compro e movimento. E há ainda o velho argumento de que cheguei aqui porque pago ordenados mínimos a quem trabalha para mim. É mentira. Basta olhar para o mercado de trabalho para perceber que ou pagas bem ou ficas a trabalhar sozinho. A exposição pública trouxe-lhe mais oportunidades ou mais desafios? Trouxe-me muitas oportunidades. Hoje abro uma empresa e rapidamente comunico o meu investimento. Ainda agora, quando abrimos a Lascasas Real Estate, no sector imobiliário, se eu não tivesse esta exposição toda, demorava um ano ou dois a comunicar que era um novo negócio ou então tinha de investir muito em comunicação. Tem quantos seguidores? Nas redes todas quase 500 mil. Então há mercado para o empresário influencer? Há. Não temos muitos em Portugal, mas é um conceito comum nos Estados Unidos. Na Apple, quem é que apresentava as coisas? Na Tesla, quem é? O Musk... "É óbvio que, se estou nas redes sociais em força, seria muito burro se não tivesse uma ficha limpa. Da mesma forma que tu me vês, o tipo das Finanças também me vê" Por falar nisso, já o apelidaram de "Elon Musk de Rebordosa". É mito? [risos] Sim, já. Eu gosto do tipo, só não gosto do seu lado político. Identifico-me com a sua visão de empresário. É maluco ou doido, como dizem, mas arrisca, faz coisas. É sobredotado e, goste-se ou não, está muito à frente, leva décadas de avanço. Agora, o outro lado, a faceta política... Não o atrai a política? Nada. Já me convidaram várias vezes, mas ter a obrigação de ir aos funerais, às missas, inaugurações e festas, não dá para mim. Eu ao domingo adoro estar em casa, juntar os meus, curtir os meus filhos e fazer zero. Fala muito de uma mentalidade de crescimento. O que é para si uma mente pequena? São aquelas pessoas que criticam tudo e não fazem nada. Às vezes estou em jantares com amigos e até me enervo. Reclamam do país, dos impostos, disto e daquilo. É o país em que estão e, se não estão bem, não há fronteiras, é pegar no carro e andar. Não tem problema em mostrar o que conquistou. Não é criticado por isso? Há a ideia de que um empresário, tendo muito dinheiro, o devia dividir pela sociedade. E quando corre mal, a sociedade dá dinheiro ao empresário? Não dá, nem tem de dar, porque a responsabilidade é minha. Uma empresa tem de dar lucro, e eu estou aqui para ganhar dinheiro. Não tenho problema nenhum em dizê-lo: eu quero ganhar dinheiro, adoro ganhar dinheiro e trabalho para ganhar dinheiro. E isto é mal aceite. Foi uma das coisas que chocou nas redes sociais quando comecei a fazer as minhas partilhas. Se calhar, penso como todos pensam, mas não têm coragem de o dizer. Se tiver os meus carros todos aqui à frente da empresa, qual é o problema? São meus, estão pagos e pago os meus impostos todos os anos. É óbvio que, se estou nas redes sociais em força, seria muito burro se não tivesse uma ficha limpa. Da mesma forma que tu me vês, o tipo das Finanças também me vê. De todos os negócios que tem, onde é que ganha mais dinheiro? Ainda é no mobiliário, mas vai deixar de ser. Agora, para ganhar dinheiro a sério, tem de ser no imobiliário. Foi uma decisão boa que tomei há quatro anos. Comecei a ler e, realmente, 80% dos milionários e dos multimilionários têm a componente de imobiliário nos seus negócios. Peguei em alguma liquidez e comecei a investir. Tenho uma casa em Miami, nos EUA, várias casas aqui em Portugal, Lisboa, Porto, investimentos em Rebordosa e no Dubai. Nos próximos dois a três anos terei à volta de 45 milhões de euros em investimento imobiliário e tenho vários projetos a andar. Criámos este ano a Lascasas Real Estate, focada no ramo imobiliário de luxo, e pretendemos investir 60 milhões de euros até 2028. E também investe em criptoativos... Gosto de investir. A cripto, na minha opinião, é como um casino: podes acordar amanhã e não ter lá nada. Tem de ser um risco calculado. Invisto 7% a 10% do meu dinheiro e tenho, felizmente, ganho alguma coisa. Invisto também em Bolsa, em Portugal e nos Estados Unidos. "Vivo numa luta entre dois Celsos, que às vezes andam mesmo à pancada: um Celso acha que já tem o suficiente, outro gostava de ter o jato, isto e aquilo" Está a lançar-se nos Estados Unidos? Já temos a Laskasas USA registada, em Miami, na Florida. Mas ainda não está no ativo. A ideia era lançar lá a marca, começar um pouco a vida do zero, agora que tenho outros recursos. Mas não sei se acontecerá. É um desafio que só faz sentido em família e a Diana não quer. Ela diz que é por causa de Donald Trump, não é? É desculpa. Não é nada o Trump, são os pais dela, é o conforto que tem aqui e a proximidade à família. E ou vamos todos ou não vai ninguém. E, na Europa, a guerra não afetou a vossa operação? Temos 22 marcas. As principais são a Laskasas, a Domkapa [estofos] e a Serralux [serralharia]. Depois temos as duas empresas do imobiliário, a Eyeon Properties, que é a promotora, e agora a Lascasas Real Estate, que fará a mediação dos nossos investimentos. Estamos em 55 países, faturamos 40 milhões de euros. Tínhamos muitos clientes na Rússia e tudo isso acabou. E tínhamos uma operação engraçada em Londres que diminuiu por causa do Brexit. Mas compensámos no Médio Oriente, que é o nosso maior mercado, e queremos abrir mais lojas lá fora. Lembra-se do primeiro móvel que fez? Sim, foi um escaparate para pôr a Nossa Senhora de Fátima. Está lá em baixo, não o vendi. Pensando no título do seu livro, "De Pobre a Milionário", quando é que se sentiu de facto milionário? Eu já me sentia muito rico se ganhasse acima de 5 mil euros. Mas, depois, começo a conhecer o mundo e acho-me pobre. Fui ao Mónaco ver a Fórmula 1 e voltei de lá com a sensação de pobre: pensas que és rico até chegares ao Mónaco. Voltei de lá a achar que não tinha nada: não tenho um helicóptero, um jato... [risos] Na minha aldeia tenho umas coisas engraçadas, mas só lá. Conseguir o meu primeiro milhão é porreiro naquele dia, mas no dia seguinte deixa de ser porque já quero ter dois milhões. E já está a tratar da compra do jato? [risos] Não. Tenho o dinheiro, mas tenho outras prioridades. Se calhar, daqui a uma semana penso ao contrário. Cátia Mateus Jornalista Cátia Mateus