EDITORIAL - ESPAÇO PÚBLICO - INCÊNDIOS: AS ASAS SÃO PARA VOAR, A NÃO SER QUE...
2025-08-06 21:06:31

Editorial Portugal tem aparentemente um problema com aparelhos de asas ou hélices, cuja operacionalidade depende sempre de externalidades que os impedem de cumprir a sua função. Há uns tempos, noticiou-se, a questão era o tamanho dos helicópteros contratualizados para o transporte de pessoas em estado crítico para hospitais: o Merlin EH-101, da Força Aérea Portuguesa (FAP), era o único que conseguia voar à noite, mas só podia aterrar num heliporto de um hospital: o de Braga. O Merlin é simplesmente demasiado grande e demasiado pesado para aterrar nos lugares onde é mais preciso, obrigando as ambulâncias a fazer estafetas entre o sítio onde aterram e o sítio onde o doente será tratado. Agora, segundo esta última notícia do PÚBLICO, Portugal tem dificuldades em usar aviões hercúleos comprados à brasileira Embraer para o combate aos fogos. Sendo justo, acudir a incêndios não é a especialidade do KC-390, mas a verdade é que, na descrição feita pela própria Força Aérea Portuguesa, esta competência é lá referida. O texto da FAP diz o seguinte: “O KC-390 é a mais recente aquisição da Força Aérea Portuguesa. É um avião de transporte militar multifacetado, para uso táctico e logístico, reabastecimento em voo e combate a incêndios florestais,” Em 2019, quando se anunciou a compra dos aviões, o ministro socialista João Gomes Cravinho garantiu o mesmo: “O KC-390 vai substituir a frota de C-130, com já 40 anos de idade e que está no limite da sua utilizabilidade”, e terá um “duplo uso civil e militar, incluindo combate aos incêndios.” Qual é o problema neste caso? O Estado ainda não comprou um kit específico que permite a esta aeronave executar trabalhos nos incêndios. Acrescem a isto outras questões relacionadas com os helicópteros Koala (Portugal ainda não comprou os baldes) e Black Hawk (só estarão operacionais em 2026) na luta contra as chamas. O texto da jornalista Mariana Oliveira detalha melhor o que se passa. Ora, no final de tudo, isto representa um investimento na ordem das várias centenas de milhões de euros ao longo de vários anos; os KC-390, por exemplo, custaram 960 milhões. Não pondo em causa o reforço da defesa e a renovação da frota desactualizada ou obsoleta, há uma escolha por aparelhos que, pelos vistos, não servem ou não têm uso prático para atenuar o flagelo dos incêndios. Nas últimas contabilidades criativas, já se disse que ardeu o equivalente a 36 mil campos de futebol ou a três cidades de Lisboa inteira, e as chamas lavram no país desde 26 de Julho. Não pondo em causa o reforço da defesa e a renovação da frota desactualizada ou obsoleta, há uma escolha por aparelhos que, pelos vistos, não servem ou não têm uso prático no combate às chamas Pedro Candeias