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ATROPELAMENTO E FUGA - CARRO DE AUTARCA DE ESPOSENDE ATROPELOU NAIR

Público

2025-08-05 21:05:20

Sociedade Carro do autarca de Esposende atropelou Nair, condutor seguiu e nem olhou para trás Adolescente esteve 16 dias internada com fracturas graves. Alegada condutora, mulher do autarca, nunca a contactou ou à sua família A manhã estava soalheira e Nair olhava para o lado do mar como sempre fazia ao atravessar o passadiço da Ponte Ei el em direcção à escola, em Viana do Castelo, já perto da foz do rio Lima. Pouco passaria das 8h30 do dia 16 de Maio quando a jovem, de 17 anos, pressentiu algo na sua frente. Mal vislumbrou o veículo que lhe bateu violentamente de lado, lançando-a com violência para o chão, ao ponto de perder a consciência. O condutor não parou para prestar auxílio e fugiu do local. Nair foi hospitalizada, em estado grave, com múltiplas fracturas na face e na perna esquerda e lesões nos nervos ópticos. Só recentemente voltou a andar, mas os ferimentos no rosto inibem-na de sair de casa. Muito abalada e ainda traumatizada, a sua família conversou com o PÚBLICO e pede justiça às autoridades. Flávia foi uma das testemunhas do acidente. Esta advogada brasileira, residente no Cabedelo, na margem sul do rio Lima, seguia de carro com a filha em direcção a Viana do Castelo, no mesmo sentido de Nair. “Estávamos a alguma distância na ponte e ouvimos um barulho forte. Quando olhei para a frente, vi um objecto a voar para o rio, pensei ser uma pessoa efiqueiassustada[maistardesoube tratar-se da mochila da jovem atropelada]”, recordou ao PÚBLICO. A advogada tentava perceber o que ocorrera, quando um carro passou a acelerar em sentido contrário. Não conseguiu identificar quem conduzia. “Buzinei e gritei para o carro parar”, contou, mas o veículo seguiria acima dos 30 km/h permitidos na Ponte Ei el e rapidamente desapareceu: “Era impossível não ter percebido o que aconteceu.” Imagens de videoviligância Flávia parou então o carro e foi para junto da adolescente inanimada, que estava a ser assistida por outro jovem transeunte. “Deitava muito sangue pelo nariz e pela boca. Por vezes recuperava a consciência, mas voltava a perdê-la logo de imediato.” Acabou por ser levada pouco depois para o hospital de Viana do Castelo, antes de ser transferida para o Hospital São João, no Porto, onde permaneceu 16 dias. Algumas horas após o acidente, Maria João Faustino apresentou-se no Comando Distrital da PSP de Viana do Castelo. Assumiu que estaria a conduzir um veículo um BMW , envolvido num acidente nessa manhã na Ponte Ei el. O automóvel pertence ao seu marido Guilherme Emílio, presidente da Câmara Municipal de Esposende, e, segundo o PÚBLICO apurou, é quem o costuma conduzir. Maria João Faustino alegou não se ter apercebido do atropelamento e disse que apenas sentiu um choque e um impacto do retrovisor da viatura, que poderia ter sido provocado pelo embate num pino de segurança ou num poste de iluminação. Referiu que só mais tarde se apercebeu que ocorrera um atropelamento e que poderia ter estado envolvida. Face a algumas sugestões nas redes sociais sobre a eventualidade de ser o próprio autarca que assumiu a Câmara de Esposende em 2024 e apresentou sábado a candidatura ao município pelas listas do PSD, nas eleições autárquicas deste ano a conduzir a viatura, a concelhia local dos sociais-democratas saiu em defesa do político. A 16 de Julho, manifestou “o mais veemente repúdio” pelo que qualificou como “tentativa orquestrada de difamação pública”, acusando a oposição de querer envolver Guilherme Emílio no atropelamento. A viatura foi alvo de uma peritagem pelas autoridades e o caso está a ser investigado pelo Ministério Público (MP), encontrando-se o processo em segredo de justiça. Contactada pelo PÚBLICO, Maria dos Anjos Pereira, comandante da PSP de Viana do Castelo, garantiu apenas ter registado todas as informações que lhe foram comunicadas sobre este acidente, assim como as peritagens na ponte e no automóvel, tendo remetido todo este material para a entidade competente. Na posse do MP estão também imagens de vigilância recolhidas na ponte. Vítima ignorada Mais recentemente, em entrevista à TVI, o autarca deu a sua versão dos factos. “Aquilo que a minha esposa partilhou comigo é que ela não teve percepção de ter embatido numa pessoa”, reforçou. “A percepção que teve foi única e exclusivamente de ter embatido num poste de iluminação e, para não criar nenhum tipo de constrangimento adicional de trânsito, continuou para o seu local de trabalho”, acrescentou. Segundo refere, terá sido aqui que Maria João Faustino “tomou consciência, por via das redes sociais” de que teria havido um acidente no mesmo local, à mesma hora. “Num acto de boa-fé, procurou deslocar-se à PSP para prestar todos os esclarecimentos sobre aquilo que lhe aconteceu e perceber se teria envolvimento no acidente.” Questionado pelo PÚBLICO sobre o facto de nunca ter feito qualquer referência ou entrado em contacto com a família da vítima, o autarca referiu que o casal optou por não o fazer para respeitar a família e não ser acusado de aproveitamento político da situação. Maria João Faustino é assistente social em Darque, freguesia de Viana do Castelo, localizada a sul do rio Lima, a poucas centenas de metros da casa de Nair, mas nunca procurou inteirar-se sobre o estado da jovem junto da família. Nem ela nem o próprio autarca, directamente ou por intermédio de terceiros, garante a família. “Mal se podia mexer” “Ela sofreu muito com as dores”, contou ao PÚBLICO Margarida Portela, mãe de Nair: “Teve duas intervenções cirúrgicas, uma à face, a 21 de Maio, onde teve de cortar a parte de cima da sobrancelha, por baixo do olho e o maxilar. No dia 29 de Maio, foi operada à perna, onde sofreu duas fracturas, tendo agora uma placa e dois parafusos entre o joelho e o pé.” Mas uma grande preocupação de Nair era o paradeiro da sua mochila escolar. Ali tinha o trabalho de final de ano lectivo 12.º ano que tinha de entregar em breve para avaliação. “No hospital, só chorava por causa da PAP (Prova de Aptidão Profissional). Eram cerca de 450 desenhos feitos à mão, para uma animação, e não tinha cópia nenhuma”, esclarece a mãe. O pai da jovem, um camionista de pesados de longo curso, que se encontrava na Bélgica quando ocorreu o acidente, procurou aliviar o sofrimentodafilha:colocounarede social Facebook uma foto da mochila, pedindo ajuda a alguém que a tivesse visto. Aperceberam-se depois, pelo relato de testemunhas, que teria ido parar ao rio, com a violência do embate. A solução foi mesmo “repetir os desenhos”, tudo “em oito dias, com muitas horas de noite”, conta a mãe. Depois, a 11 de Junho, tal como os colegas, teve de defender o trabalho, “online porque não queria mostrar-se e deram-lhe esse hipótese na escola”: “Estava na cama e mal se podia mexer.” “A Nair começou recentemente a andar muito devagar, com o apoio de uma muleta, mas custa-lhe muito”, lamenta Margarida Portela. “Teve uma fase em que não queria sair de casa por causa das marcas na cara”, prosseguiu: “Ela está muito revoltada e quer que a pessoa que lhe provocou isto seja responsabilizada. Quem vinha a conduzir teria de estar muito distraído: o passeio da ponte é muito alto e tem pinos de protecção.” A alegada condutora, mulher do autarca, nunca contactou a jovem adolescente atropelada nem a sua família Sociedade, 13 ISNN-0872-1548 Ela está muito revoltada e quer que a pessoa que lhe provocou isto seja responsabilizada. Quem vinha a conduzir teria de estar muito distraído: o passeio da ponte é muito alto e tem pinos de protecção Margarida Portela Mãe da jovem Jovem de 16 anos foi atingida pelo veículo quando atravessava o passadiço da Ponte Eiffel em direcção à escola, em Viana do Castelo, já perto da foz do rio Lima Paulo Curado