REPORTAGEM De olhos postos na Lua: estudantes ao leme da inovação a descoberta Um conjunto de 29 jovens foram selecionados para participar num programa de verão, promovido pelo CEiiA, focado na exploração lunar danielafjogo@jn.pt Por estes dias, o Centro de Engenharia e Desenvolvimento (CEiiA), em Matosinhos, parece uma fábrica de sonhos e descobertas, onde o que parece impossível ganha forma à boleia do desafio de simular uma missão na Lua. São 29 OS jovens do Ensino Secundário e Universitário que integram a 6.a edição do “Sustainable Living Innovaters” (SLI) com o objetivo de responder ao repto proposto pelo programa de construir casas, obter ener-gia limpa, encontrar soluções de mobilidade e responder aos desafios de saúde num ambiente extremo. Divididos em quatro equipas de sete elementos, os participantes estão desde o dia 11 de julho a trabalhar nas respostas a estes quatro desafios, tendo em conta o “contexto inóspito” que é a Lua, mas que permite, ao mesmo tempo, “pensar em soluções a partir do zero e reinventar estes desafios, estes domínios”, explica Emir Sirage. Nas primeiras duas semanas do SLI, os “innovators” desenvolveram os concei-tos: na construção, a resposta passa por construir uma base subterrânea para proteger da radiação; na área de energia, o caminho consiste em criar um sistema de painéis solares verticais, combinando outras fontes de energia, como as baterias para dar energia à base lunar; a resposta ao desafio da mobilidade é um “rover” modular de transporte; e, por fim, na parte da saúde e bem-estar, foi projetada uma aplicação para monitorização médica. DA LUA PARA A TERRA Depois de definidas e de-senvolvidas as ideias, está na hora de passar do papel para a ação e transformar os conceitos em demonstradores, com sentido de realismo. Para o coordenador do SLI e diretor-executivo da New Space Portugal, “o percurso feito nestes quatro desafios permite não só demonstrar aquilo que são as tecnologias para explorar na Lua, mas como é que estas tecnologias e soluções depois podem ser replicadas na Terra”. As soluções energéticas apresentadas, como os painéis ajustáveis com inteligência artificial ou as baterias de alto rendimento, podem dar energia em zonas de catástrofe natural, assim como o “rover” modular pode fazer a diferença em cenários de resgate ou exploração. E a monitorização em tempo real abre horizontes para a melhoria do atendimento médico em situações de emergência. A missão do “Sustainable Living Innovaters”, promovida pelo CEiiA, é aliar as possibilidades infinitas permitidas pela exploração espacial à melhoria da qualidade de vida na Terra. AFINAR A ORQUESTRA Esta “orquestra tecnológica” de soluções interdependentes está a afinar os “instrumentos” para a apresentação final óno dia 8 de agosto, com a colaboração de mais de 20 parceiros nacionais e internacionais, desde empresas consolidadas óno mercado a instituições do Ensino Superior. “são parceiros que também se identificam com esta visão de formação das novas gerações e de olharmos para o futuro pensan-do no hoje”, destaca Emir Sirage. Desta forma, os participantes estão expostos a “um conjunto de saberes multidisciplinares que os capacita a pensarem em como é que vão abordar estes desafios e a terem sucesso na missão”. Pela primeira vez, desde a sua criação em 2020, o SLI abriu as portas à internacionalização e aliou-se à Fundação Araucária, do Brasil, para "potenciar uma rede de network” e também abrir portas à possibilidade de formar jovens promissores de outros paises. A 6.9 edição conta com a participação de dez alunos brasileiros. MAIS-VALIA Para lá das competências técnicas, que os estudantes já trazem na bagagem e podem aperfeiçoar durante a iniciativa, a participação no SLI é uma mais-valia óno desenvolvimento de outro tipo de capacidades. “os quatro desafios são interdependentes, portanto, eles têm de ter a capacidade de colaborar, a capacida-de de liderar e a capacidade de confiar uns nos outros e de partilhar. e se levarem estes valores com eles, para além de todas as competências técnicas que vão adquirir, acho que óno fínal do dia serão bons profissionais”, defende. SELEçAO RIGOROSA O processo rigoroso de seleção dos jovens das 300 candidaturas, apenas 29 foram selecionadas prova que este programa quer ser mais do que “um mero estágio de verão”. O objetivo é formar futuros líderes tecnológicos que poderão integrar o CEiiA, o seu ecossistema e impactar o setor espacial. “Nesta edição, um jovem do ano passado esteve integrado na equipa de coordenação e, portanto, diria que, mais que uma rede, já se torna quase uma família de contactos absolutamente relevantes e interessantes, que futuramente vão contribuir para aquilo que é a estratégia do CEiiA”, explica o diretor da New Space Portugal. . PROGRAMA 29 participantes Mais de 300 jovens candidataram-se ao programa, mas só 29 conseguiram um lugar. Parceiros Mais de 20 parceiros, entre empresas e instituições de Ensino Superior, associaram-se ao SLI. Apresentação final Programa termina óno dia 8, com a apresentação de demonstradores dos conceitos desenvolvidos. ECONOMIA Setor espacial está a crescer em Portugal Nos próximos dez anos, o setor espacial “vai crescer significativamente” em Portugal. A garantia é dada por Emir Sirage, diretor da New Space Portugal, um programa que tem como objetivo impulsionar a indústria espacial no país. “Será um setor muito importante para a economia portuguesa que irá gerar I,2 mil milhões de euros de vendas do setor e a criação de mais de cinco mil postos de trabalho altamente qualificados”. Portugal tem em mãos a liderança do projeto internacional “Constelação do Atlântico”, um conjunto de I6 satélites de observação da Terra, cujo desenvolvimento e operação envolvem o CEiiA e outras empresas portuguesas. D.J. Equipa liderada por Emir Sirage procura recriar condições de vida para aplicar num contexto inóspito como a Lua Daniela Jogo