Os veículos elétricos são uma visão comum nas estradas de todo o mundo - mas não em todo o lado. Na Arábia Saudita, os veículos elétricos (VE) representam pouco mais de 1% das vendas totais de automóveis, de acordo com o estudo "eMobility Outlook 2024: KSA Edition" da consultora PricewaterhouseCoopers (PwC), publicado em setembro de 2024. A nível mundial, cerca de 18% de todos os automóveis vendidos em 2023 foram eléctricos, segundo a Agência Internacional de Energia. Existem vários obstáculos ao lançamento de automóveis mais ecológicos no reino do deserto, mas as coisas estão a mudar rapidamente. A Empresa de Infraestruturas para Veículos Elétricos (EVIQ) está na vanguarda dessa transformação. A EVIQ foi fundada no final de 2023 como uma joint venture entre o fundo soberano do país - o Fundo de Investimento Público (PIF) - e a Saudi Electricity Company. No final de 2023, existiam cerca de 285 pontos de carregamento públicos no país, de acordo com a PwC, na sua maioria carregadores lentos. Em janeiro de 2024, a EVIQ abriu a sua primeira estação de carregamento rápido na capital do país, Riade. Até 2030, planeia ter 5.000 carregadores rápidos instalados em 1.000 locais. "Muito poucas pessoas estão dispostas a comprar um veículo elétrico sem ter o conforto de ver as infraestruturas disponíveis", diz o CEO da EVIQ, Mohammad Gazzaz, à CNN. "Estamos a preparar o caminho." Construir "todo um ecossistema industrial" Atualmente, os veículos elétricos são comprados principalmente por pessoas que "podem carregar em casa com as suas caixas de parede particulares", indica Heiko Seitz, líder global de eMobility da PwC Médio Oriente e um dos autores do estudo da consultora. A falta de estações de carregamento não é a única razão para a lenta adoção de veículos elétricos na Arábia Saudita. Em 2024, mais de 60% dos modelos disponíveis custam mais de 65.d000 dólares (mais de 56 mil euros), segundo a PwC, enquanto quase 73% dos modelos a gasolina custam menos do que isso. Os generosos subsídios aos combustíveis significam que um litro de gasolina custa atualmente aos condutores sauditas cerca de 50 cêntimos. As baterias dos veículos elétricos podem ter dificuldades com as temperaturas típicas do verão saudita e a energia adicional necessária para as arrefecer pode ter um impacto significativo na velocidade de carregamento e na autonomia. E o país é vasto - pouco mais de um quinto do tamanho dos EUA - com a distância entre as suas duas maiores cidades superior a 950 quilómetros, mais longa do que a autonomia média da maioria dos VE. Mas o país tem planos ambiciosos para reduzir a sua dependência das receitas do petróleo e as suas emissões de carbono. O petróleo representava 60% das receitas do Estado em 2024, sendo o petróleo bruto e o gás natural responsáveis por mais de 20% do PIB do país no mesmo período. A Arábia Saudita quer que 30% dos automóveis na sua capital, Riade, sejam elétricos até 2030. Mas a Arábia Saudita não está apenas a adotar os VE, está a "construir todo um ecossistema industrial" à sua volta, afirma Seitz. O país está a adotar a "mobilidade elétrica como uma alavanca estratégica para descarbonizar, diversificar a sua economia e localizar a produção à escala". Isso inclui planos para se tornar um centro de fabrico de veículos elétricos. A PIF é o maior acionista do fabricante de automóveis americano Lucid, que em 2023 abriu a primeira fábrica de automóveis no país. A CEER, uma joint venture entre a PIF e a empresa taiwanesa Foxconn, pretende lançar o seu primeiro veículo elétrico produzido na Arábia Saudita até 2026. Além disso, uma empresa comum entre a PIF e a Hyundai iniciou a construção de uma fábrica no país. Os principais produtores de veículos elétricos estão agora a vender no país. A BYD da China abriu o seu primeiro showroom no país em maio de 2024 e, em abril, a Tesla foi lançada na Arábia Saudita. Seitz diz que a introdução de modelos chineses é suscetível de ajudar a baixar os preços. O site saudita da BYD lista o modelo Atto 3 com um preço inicial de aproximadamente 27.000 dólares (mais de 23 mil euros). Combater a ansiedade em relação à autonomia Mais de 40% dos consumidores sauditas estão a considerar comprar um veículo elétrico nos próximos três anos, de acordo com a PwC. Atualmente, existem carregadores EVIQ em Riade e Jeddah. Em abril, a empresa lançou a sua primeira estação de carregamento de veículos elétricos em autoestrada. "Ainda é um trabalho realmente fundamental", admite Gazzaz. A EVIQ tem como meta 50 a 60 novos locais de carregamento este ano, inclusive em cidades menores como Meca e Medina. Até ao final de 2026, Gazzaz acredita que o país terá uma "rede mínima viável". "Não estamos a falar apenas de cidades de primeiro nível, mas também de cidades de segundo nível e de cobertura de algumas das principais autoestradas", indica. "Em última análise, estamos a tentar cobrir cerca de 70 a 80% das necessidades de deslocação em todo o reino até 2026." A Gazzaz não quis divulgar o montante que terá de ser investido para atingir os objetivos. Seitz diz que a meta oficial do país de 30% de carros elétricos em Riade é provável que seja atingida, mas que "um impulso adicional" pode ser necessário para tornar os VE um produto de massa para todo o país. Vista de Riade em outubro de 2023. Justin Setterfield/Getty Images Um estudo publicado em maio de 2024 pelo Centro de Estudos e Investigação do Petróleo Rei Abdullah da Arábia Saudita e pela University College London concluiu que a adoção em grande escala de VE em Riade exigiria provavelmente que o governo introduzisse incentivos financeiros, tais como a isenção de IVA para veículos novos, carregamento subsidiado e instalação gratuita de carregadores domésticos, "pelo menos nas fases iniciais de implantação". O governo afirma ter introduzido alguns incentivos financeiros e subsídios para os compradores de veículos elétricos. Segundo os especialistas, a melhoria das infraestruturas ajudará a impulsionar a revolução dos veículos elétricos no país. "Os preços dos veículos elétricos estão a baixar, as opções de modelos estão a aumentar e os sinais do governo são claros - mas a ansiedade em relação à autonomia mantém-se", aponta Seitz. "O carregamento público é a principal lacuna e é agora uma prioridade de topo a corrigir." https://cnnportugal.iol.pt/carros-eletricos/veiculos-eletricos/um-dos-maiores-produtores-de-petroleo-do-mundo-esta-a-apostar-nos-veiculos-eletricos/20250802/686e83f4d34ef72ee4482091 [Additional Text]: Vista de Riade em outubro de 2023. Justin Setterfield/Getty Images CNN , Amy Gunia