C.M. BRAGA E U. MINHO: UNDE VENIS, QUO VADIS?
2025-08-03 21:02:35

Opinião. C.M. Braga e U. Minho: unde venis, quo vadis? A Universidade do Minho (UM) é uma das cinco maiores Instituições de Ensino Superior (IES) e de investigação a nível nacional e um dos maiores empregadores do concelho de Braga, onde tem o seu maior campus. O concelho de Braga é o maior fora das áreas metropolitanas de Porto e Lisboa, e tem ambições sustentadas de se afirmar como um polo tecnológico e inovador no panorama nacional, existindo no concelho inúmeras empresas na área tecnológica e indústrias relevantes que o tornam um dos maiores exportadores do país. A convergência entre estas duas forças como pilar do desenvolvimento tecnológico do concelho deveria ser óbvia. Mas não é. Décadas passaram e o que encontramos é uma relação morna, marcada por oportunidades perdidas, silêncios institucionais e a falta de uma estratégia partilhada, que atravessa várias instâncias dos órgãos de gestão da UM e da CMB, neste caso mesmo de cores partidárias distintas. Onde está o problema? Para ilustrar o que acabo de referir, deixo alguns exemplos: O terreno em frente ao campus de Gualtar (lado sul) é emblemático. Este terreno tem sido alvo de diversos propalados planos, que vão desde o edifício tão necessitado para a Associação Académica da UM, a centros tecnológicos, combinando com a extensão do campus. Ouvimos isto pelos corredores pelo menos desde os anos 1990 e nada acontece. O terreno continua ermo e o dito maior campus científico da Europa, que ligaria a UM ao Instituto Ibérico de Nanotecnologia (INL) fica adiado. Quando ouvida a Reitoria da UM e a CMB, a culpa fica solteira. Na colaboração tecnológica, há promessas mas pouca execução. O que dizer do anunciado "hub" na área biomédica que Ricardo Rio anuncia como arma eleitoral, sem o financiamento estar aprovado, para começar a ser construído apenas em 2026, e onde a importância da UM e outros parceiros de investigação é menorizada, talvez por necessidade eleitoral. Infelizmente, este até é talvez o melhor exemplo recente de colaboração em projetos estratégicos entre a CMB (Startup Braga) e as IES, o que diz muito sobre o que deveria ter sido feito. Na mobilidade, o desinteresse é evidente. Porque razão os autocarros da TUB nunca entraram no campus de Gualtar, obrigando quem queira ir para o campus a percorrer a pé distâncias consideráveis? Para quem tem mobilidade reduzida, essa limitação torna o uso do transporte simplesmente inviável. Sendo habitual ver outros autocarros a circular dentro do campus, dificilmente se pode alegar um impedimento técnico. E mais uma vez, quando se tenta perceber de onde vem a decisão, a tarefa é impossível. Um exemplo recente é o projeto BRT, menina dos olhos da atual gestão camarária, que foi inicialmente planeado sem qualquer contacto com a Reitoria da UM, apesar de prever uma linha a cruzar o interior do campus. Poder-se-ia aceitar este esquecimento, não fosse o impacto direto no espaço universitário. A solução encontrada, após negociações já no lavar dos cestos da vindima, parece mais uma correção apressada do que um verdadeiro planeamento conjunto. No fim, a acessibilidade continua comprometida. Até nos eventos científicos, Braga fica aquém. Estes são comuns nas IES graças à sua dinâmica, mas qualquer pedido de suporte à CMB redunda em apoios meramente simbólicos e pouco relevantes. Parece que o turismo científico está longe de ser uma prioridade. Em comparação, as Câmaras Municipais de Guimarães e Coimbra cedem amiúde instalações nobres da cidade para receções no âmbito de congressos científicos, dando forte valorização a estes eventos. Para onde vamos? Identificado o problema, para onde deveremos ir? Claramente, num ano em que teremos as eleições de nova Reitoria na UM e órgãos autárquicos, há uma oportunidade de fazer mais e melhor e construir uma verdadeira parceria estratégica entre a CMB e a UM, envolvendo também o INL, o IPCA e a Universidade Católica de Braga, entre outros. Em primeiro lugar, há que trabalhar nas melhores soluções para as questões acima apontadas: uma solução para o terreno referido que valorize o campus e tenha planeamento urbano racional e sustentável, a entrada de autocarros no campus criando as condições técnicas se for esse o obstáculo, maior valorização dos eventos científicos promovendo de forma integrada o turismo científico, bem como a construção em verdadeira parceria do Bio-MedTech Hub e outros projetos estruturantes aproveitando os fundos europeus ainda existentes de desenvolvimento regional. Em complemento, deixo propostas concretas que a CMB em colaboração com a UM e outras IES poderiam implementar para a prossecução desta parceria: Programa que possa financiar projetos exploratórios de investigação científica das IES relacionados com áreas relevantes para o município (cidades inteligentes, administração autárquica, sustentabilidade, áreas sociais, entre muitas outras); Programa de bolsas de estudo garantindo que nenhum estudante do município deixe de frequentar o Ensino Superior por falta de condições económicas; Colaboração da CMB com as IES na área da Inteligência Artificial e cidades inteligentes, promovendo projetos estruturantes com maior eficiência dos serviços e planeamento urbano mais sustentável; Desenvolvimento de cursos de formação especializada entre as IES e a StartUp Braga alinhando as necessidades das empresas tecnológicas com a oferta formativa; Melhoria dos acessos do campus de Gualtar ao centro de Braga, criando um eixo pedonal estrutural e aproximando os estudantes do centro da cidade. Há certamente muito a fazer. A recente criação do Conselho Consultivo Local de Inovação e Ciência é um primeiro passo, que se espera não seja meramente simbólico, mas revele uma verdadeira vontade de fazer diferente. Braga pode liderar no ensino, na ciência e na inovação, se as Universidades e o Município não atuarem isoladamente e construírem, juntos, um plano ambicioso e realista. Miguel Rocha 3 agosto 2025 [Additional Text]: facebook twitter whatsapp linkedin copy default user photo