O IMPACTO EM PORTUGAL DAS TARIFAS DE TRUMP
2025-07-31 21:06:51

Tarifas de Trump afetam mais de cinco mil milhões de euros de produtos portugueses. EUA são o quarto mercado de destino das exportações nacionais. A indústria farmacêutica poderá ser a mais afetada, mas há outros setores que sofrerão por tabela A partir do dia 1 de agosto, as empresas portuguesas que exportam para os EUA verão os seus produtos serem taxados em 15% quando derem entrada nas alfândegas daquele país. Ao todo, serão cerca de 5,3 mil milhões de euros de bens que passarão a ter este custo adicional. Em 2024, Portugal exportou um total de 79,3 mil milhões de euros, sendo os EUA o nosso quarto maior mercado externo, responsável por 6,7% das nossas vendas ao exterior. LEIA TAMBÉM: Tarifas: Que consequências vai ter o acordo de rendição da UE face às ameaças de Trump O primeiro-ministro, Luís Montenegro, congratulou-se com esta decisão e admite que o acordo traz "previsibilidade e estabilidade", elementos "vitais para as empresas portuguesas e a economia". Com as tarifas definidas, a estabilidade dos negócios entre os dois maiores blocos económicos do mundo pode estar garantida, mas ainda existem muitas contas a fazer por parte das empresas. Algumas já admitiram que irão assumir parte do novo custo, reduzindo as margens de venda, enquanto outras irão passar a "fatura" imposta por Donald Trump para o consumidor final, ou seja, os cidadãos norte-americanos. Qualquer uma das estratégias acarreta riscos, pois no primeiro caso as empresas irão ter menos receita e, no segundo irão perder competitividade naquele que é um dos mercados mais competitivos do mundo. Um dos setores nacionais que poderão ser mais afetados pelas tarifas é a indústria farmacêutica, que no ano passado vendeu mais de 1,2 mil milhões de euros para os EUA, o que representa 23% das nossas exportações para aquele país. Em abril, Donald Trump chegou a ameaçar impor tarifas de 200% para esta indústria, o que praticamente inviabilizaria a venda de medicamentos europeus nos EUA. A meta de 15% agora estabelecida permite a tal estabilidade de que fala Luís Montenegro, mas, mesmo assim, ficará cerca de dez pontos percentuais acima da média das tarifas que existiam antes de Trump, que em média ascenderam a 4,7% para os medicamentos importados. Embora não tenha o mesmo peso da indústria farmacêutica, o setor têxtil, que representa pouco mais de 8% das nossas vendas para os EUA, poderá também sentir fortes efeitos derivados das tarifas, com a agravante de muitas empresas portuguesas dependerem quase exclusivamente do mercado norte-americano para a sua atividade. Quem também mostra fortes sinais de preocupação são os vitivinicultores e a razão não é para menos. Uma em cada dez garrafas de vinho vendidas ao exterior tem como destino os EUA. Um aumento de 15% no preço pode representar uma enorme perda de competitividade do nosso vinho naquele mercado. Ao todo, esta indústria exporta cerca de 100 milhões de euros para os EUA e a entrada em vigor das tarifas é mais um problema a somar aos muitos que o setor já atravessa. E a situação pode ser ainda mais grave para as empresas exportadoras da Região do Vinho Verde, pois os EUA são o principal mercado comprador deste produto português. Já a indústria automóvel, um dos grandes motores da economia nacional nos últimos anos, pode não ser diretamente afetada pelas tarifas - em 2024 Portugal vendeu menos de três mil carros para os EUA -, mas os efeitos colaterais poderão ser devastadores, sobretudo para a indústria dos componentes. Apesar de os EUA representarem menos de 5% das vendas ao exterior, as fábricas nacionais são grandes fornecedoras de marcas vendidas no mercado norte-americano, como a Mercedes, a BMW ou a Porsche. E se as vendas destes veículos baixarem, as empresas portuguesas serão afetadas por tabela. Paulo M. Santos Paulo M. Santos