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CUIDADO COM A AGENDA ANTES DAS FÉRIAS NOS MERCADOS

Negócios Online

2025-07-29 21:06:03

Resultados de empresas gigantes nos EUA e Europa, reuniões de política monetária da Fed e Banco do Japão, bateria de indicadores que vão medir o pulso à atividade económica e inflação. Esta semana está repleta de eventos que podem incrementar o otimismo que se vive nos mercados, ou colocar em causa os argumentos que justificam o atual rally nas ações.Os acordos celebrados entre os Estados Unidos e os seus principais parceiros comerciais, resultados trimestrais favoráveis, indicadores de atividade económica animadores, abrandamento da inflação e expetativas de descidas de juros por parte da Reserva Federal. Estes são os principais fatores que justificam o bom momento dos mercados acionistas globais, com os principais índices acionistas mundiais a negociarem em máximos históricos ou muito perto disso.O entendimento alcançado entre Donald Trump e Ursula von der Leyen, este fim de semana na Escócia, é uma peça central no sentimento positivo que se vive nos mercados. O acordo, que já estava a ser antecipado pelos investidores e refletido nas cotações, traz uma desejada visibilidade ao mercado e retira a potencial carga negativa à entrada em vigor nas tarifas alfandegárias aos produtos importados pelos Estados Unidos a partir de 1 de agosto.Esvaziada grande parte da tensão sobre o impacto da política comercial dos Estados Unidos, os investidores podem focar-se noutros fatores fundamentais para determinar a direção dos mercados. E a agenda desta semana está repleta de eventos com potencial para moldar a evolução dos preços dos ativos, não só das próximas sessões, mas também para o que resta do ano.É difícil encontrar uma semana com agenda tão preenchida como esta que marca o fim de julho. A conclusão frenética da época de resultados do segundo trimestre coincide com reuniões de bancos centrais e indicadores de atividade económica e inflação que vão dar aos investidores uma fotografia menos turva sobre a saúde financeira das empresas, estado da economia mundial e perspetivas para a evolução das taxas de juro.A última semana de julho é habitualmente marcada por uma agenda muito carregada. Daí que os profissionais e investidores ativos nos mercados adiem o período de férias para agosto, mês com agenda muito mais tranquila. No atual contexto dos mercados acionistas, que negoceiam com avaliações elevadas e acumulam mais de dois anos de valorizações expressivas, esta última semana de julho assume uma particular importância. Existe potencial para validar os fundamentais que têm alimentado o rally das bolsas globais, mas também para colocar em causa a narrativa que sustenta o otimismo dos investidores.Sendo a agenda tão intensa e diversificada, vale a pena dividir os eventos por tema e por dia. A agenda desta segunda-feira foi muito leve e amanhã também será branda, mas a partir de quarta-feira acelera a todo o vapor.Magníficas nos EUA e bancos na Europa· Terça-feira: Visa, P&G, UnitedHealth, AstraZeneca, Merck&Co, Boeing, Barclays, Stellantis, LOreal, Endesa, Mediobanca, Corticeira Amorim.· Quarta-feira: Microsoft, Meta Platforms, Arm, Qualcomm, UBS, Santander, HSBC, Ford Motor, Adidas, Airbus, Caixabank, Intesa Sanpaolo, Leonardo, Mercedes-Benz, Porsche, Siemens Healthineers, Telefonica, Sonae, EDP Renováveis.· Quinta-feira: Apple, Amazon.com, Mastercard, Credit Agricole, BBVA, Societe Generale, Standard Chartered, BMW, Unilever, Standard Chartered, Renault, Euronext, ING, Deutsche Lufthansa, Ferrari, Sanofi, Shell, Universal Music, BCP, Semapa, EDP.· Sexta-feira: Exxon Mobil, Chevron, Colgate-Palmolive, Jerónimo Martins.A listagem em cima reúne as principais empresas norte-americanas e europeias que reportam contas nos próximos dias, mas o número é bem superior. São 159 as cotadas do índice dos EUA S&P500 e 113 as do índice europeu Stoxx600 que publicam resultados esta semana.Em Wall Street destaque para as grandes tecnológicas, que continuam a ser o principal motor de crescimento dos resultados das empresas norte-americanas, bem como do desempenho dos índices acionistas. O S&P500 marca uma valorização de 28% desde os mínimos de abril, com o Nasdaq a escalar 38% neste período. Os resultados do primeiro trimestre das Sete Magníficas foram determinantes para este impressionante desempenho sendo que os números do segundo trimestre serão fundamentais para suportar os máximos históricos que se registam atualmente em Wall Street.A Alphabet já anunciou resultados muito positivos, enquanto a Tesla voltou a dececionar, sendo que nos próximos dias vão ser conhecidos os números da Apple, Amazon.com, Microsoft e Meta Platforms (dona do Facebook). As contas da Nvidia só no final de agosto. Estas quatro gigantes tecnológicas têm um peso em redor de 20% no S&P500 e uma capitalização bolsista conjunta acima de 10 biliões de dólares, pelo que resultados acima do esperado e perspetivas favoráveis para o resto do ano são essenciais para aguentar o momento positivo das bolsas globais.As grandes tecnológicas norte-americanas são as principais responsáveis pelo facto de o S&P500 estar a negociar a 22,6 vezes os lucros estimados para os próximos 12 meses, bem acima da média de longo prazo (15,8 vezes). Resultados fracos e perspetivas sombrias que induzam os analistas a estimativas mais cautelosas motivará uma inevitável correção nas bolsas, sendo que só números que validem a narrativa de expansão da Inteligência Artificial poderão justificar novos máximos nos índices.Se as tecnológicas continuam a dominar Wall Street, na Europa é a banca que se tem destacado, conseguindo mesmo um desempenho superior às Sete Magníficas. O índice Stoxx600 Banks dispara 37% em 2025, suportado por resultados animadores. O Deutsche Bank e o UniCredit já confirmaram a tendência positiva com os resultados do segundo trimestre e esta semana vamos conhecer os números de mais gigantes do setor: Barclays, UBS, Santander, BBVA, Credit Agricole, Société Générale e Intesa Sanpaolo.A semana também será muito intensa em Lisboa, com mais de metade do PSI a reportar contas do segundo trimestre. Destaque para o BCP e Sonae, duas das cotadas nacionais que mais têm brilhado este ano no índice da bolsa portuguesa.Chuva de indicadores económicos· Terça-feira: PIB de Espanha (segundo trimestre) - Expetativas dos consumidores para inflação da Zona Euro (junho) - Índice do Conference Board com confiança dos consumidores dos EUA (julho)· Quarta-feira: PIB de França, Alemanha, Itália, Portugal, Zona Euro (segundo trimestre) - Inflação em Espanha (julho) - PIB dos Estados Unidos (segundo trimestre) - Relatório da ADP com emprego no setor privado nos EUA (maio)· Quinta-feira: Inflação em França, Itália, Portugal e Alemanha (julho) - Taxa de desemprego da Zona Euro - Preços no consumo (PCE) nos EUA e gastos e rendimentos dos consumidores (junho)· Sexta-feira: PMI da indústria da China, Zona Euro, Reino Unido e EUA (julho) - Inflação na Zona Euro (julho) - Emprego nos Estados Unidos (julho) - Índice de confiança dos consumidores dos EUA da Universidade de Michigan (julho)Haverá poucas semanas no ano com uma agenda macro tão intensa como esta. Destaque nos Estados Unidos para dados do PIB, indicador preferido da Fed para a inflação e números do mercado de trabalho, que vão dar uma fotografia mais nítida sobre a resistência da maior economia do mundo às tarifas e juros elevados. Na Europa, o BCE vai ter dados para analisar se a pausa nos juros é para durar, ou o alívio da política monetária regressa já em setembro.Começando pelo PIB dos Estados Unidos referente ao segundo trimestre, é necessária cautela na análise. As estimativas apontam para um crescimento anual de 2,4%, que evidencia uma forte recuperação face aos primeiros três meses do ano (-0,5%). Contudo, o forte aumento das importações no primeiro trimestre (para escapar às tarifas de Trump), que foi decisivo para esta evolução negativa do PIB, foi revertido nos meses de abril a junho. Assim, o que o comércio internacional "roubou" ao PIB no arranque de 2025, vai devolver no segundo trimestre.O mercado vai focar atenções sobretudo no consumo das famílias, que terá evoluído de forma mais fraca, o que pode desvanecer a narrativa de evolução sólida da economia. O dado mais relevante será publicado na sexta-feira, pois os números do emprego devem confirmar um abrandamento do mercado de trabalho, ainda que a um ritmo insuficiente para gerar alarme. Os economistas estimam que tenham sido criados em redor de 100 mil postos de trabalho em julho, contra 147 mil no mês anterior. Um dia antes será conhecido o indicador preferido da Fed para medir a inflação, que terá aumentado para 2,5%, reforçando os argumentos para o banco central manter os juros.Os dados que vão ser publicados na Zona Euro devem confirmar uma evolução fraca da economia e tendência descendente da inflação. O que pode complicar a mensagem do BCE de afastar cortes de juros adicionais no curto prazo. O PIB dos países que partilham o euro terá estagnado no segundo trimestre, enquanto a inflação de julho terá baixado da fasquia dos 2%. Os dois indicadores dos diferentes países da Zona Euro começam a ser publicados já a partir de amanhã, pelo que o tema vai dominar toda a semana na Europa.Expetativas elevadas para reunião da Fed· Quarta-feira: Reuniões de política monetária da Fed, banco central do Canadá e banco central do Brasil· Quinta-feira: Reuniões de política monetária do Banco do Japão e banco central de África do SulA reunião do banco central dos Estados Unidos, em termos isolados, é principal evento da semana. Não porque se esperem alterações na política monetária, mas pelas expetativas de que a Fed dê finalmente um sinal mais claro de que pretende cortar os juros até ao final do ano. Pressionado por Trump a cortar juros, Jerome Powell tem resistido a dar este passo, argumentando que a incerteza com a política comercial ditada a partir da Casa Branca é uma ameaça à inflação e a economia continua resiliente. Com uma maior visibilidade sobre as tarifas de Trump, o líder da Fed tem agora maior margem para transmitir o aguardado sinal de corte de juros em breve. O mercado está a atribuir uma probabilidade superior a 50% a uma descida de 25 pontos base em setembro e desconta reduções acumuladas de 100 pontos base em 12 meses.Horas depois da reunião da Fed, o Banco do Japão vai concluir a sua reunião de política monetária. Não se esperam subidas de juros, mas é provável que o banco central liderado por Kazuo Ueda indique um aumento de juros até ao final do ano. A normalização da política monetária na economia asiática tem sido marcada por sobressaltos e um tom mais agressivo pode acentuar a turbulência que se vive no mercado de obrigações nipónico, onde as yields dos títulos com maturidades mais longas atingiram máximos históricos nas últimas semanas.Os resultados das gigantes tecnológicas norte-americanas e bancos europeus têm potencial para dar uma cambalhota na narrativa de que os resultados trimestrais estão a ser positivos; a reunião de Fed pode derrubar a expetativa de cortes de juros nos Estados Unidos em 2025 e a bateria de indicadores pode colocar em causa a ideia de que a economia mundial está robusta e a inflação controlada. Daí que o melhor é estar alerta e ter cuidado com a agenda dos próximos dias antes de partir para um agosto descansado nos mercados.Gráfico com ValorDólar com melhor mês do anoA moeda norte-americana está a ser uma das grandes vencedoras com os acordos comerciais celebrados entre os Estados Unidos e os seus principais parceiros comerciais. O alívio das tensões está a derrubar o trade "Sell America" que dominou a primeira metade do ano e afetou a cotação do dólar de forma muito agressiva. Depois de fechar com saldo negativo cada um dos primeiros seis primeiros meses do ano, período em que desvalorizou 10%, a divisa dos EUA acumula ganhos de 2% em junho, o que representa o melhor desempenho mensal de 2025. A descida abrupta do euro na sessão desta segunda-feira demonstra como o mercado está a interpretar o fim da incerteza com as tarifas com um trunfo para o dólar. A moeda da Zona Euro corrige 1% na primeira sessão após o acordo EUA-UE, mas conserva um avanço de 12% desde o início do ano.DE SEGUNDA A SEXTA29FMI atualiza estimativasO Fundo Monetário Internacional atualiza o seu World Economic Outlook, devendo modificar as estimativas de crescimento para as principais economias mundiais. Em abril reviu em baixa as projeções, citando níveis de incerteza mais elevados do que durante a pandemia.30Refinanciamento da dívida dos EUAO Tesouro dos Estados Unidos vai detalhar como pretende cobrir as necessidades de financiamento no que resta do ano e em 2026. O mercado aguarda volumes mais elevados nas emissões de títulos de dívida de curto prazo para não pressionar a oferta nas maturidades longas.01Novas tarifas de Trump entram em vigorO início de agosto (último dia da semana) é marcado pela entrada em vigor nas novas tarifas recíprocas de Trump, sendo que a taxa base mínima está agora em 15%. Bem acima dos 10% atuais para a generalidade dos países, pelo que o Tesouro norte-americano deverá aumentar as receitas alfandegárias de forma muito expressiva.Jornalista desde 1999, iniciei a carreira no Negócios, onde durante mais de 20 anos exerci várias funções, sempre com atenção especial aos mercados financeiros. Assino a Newsletter Morning Call, que é distribuída diariamente junto dos assinantes do Negócios.A Newsletter Valor Acrescentado tem como propósito preparar o leitor para a semana nos mercados, com o foco nas tendências dominantes e análise aos eventos que têm o maior potencial para mexer com os preços dos ativos cotados. Deixe-nos o seu feedback e sugestões no email: valoracrescentado@negocios.ptNuno Carregueiro - Jornalistanc@negocios.ptNuno Carregueiro - Jornalista nc@negocios.pt