NISSAN LEAF - TERCEIRA TEMPORADA
2025-07-29 21:04:02

Ao volante. A Nissan convidou um grupo muito restrito de jornalistas para o primeiro contacto dinâmico com versões pré-produção da terceira geração do Leaf. E, desta vez, na conceção do herdeiro do pioneiro dos automóveis elétricos fabricados em massa, a marca acertou no estilo. Contamos-lhe tudo o que muda. Aprimeira geração do Leaf foi lançada em 2010 e tinha imagem entre o estranho e o original. Em 2018, a Nissan introduziu a segunda geração, com um desenho mais anónimo. Entre um extremo e o outro passaram 15 anos e foram vendidas cerca de 700.000 unidades, por isso parecendo que a marca gastou bem o tempo para produzir uma terceira “temporada” cheia de conteúdos, com a “ajuda” da Renault. O Leaf novo tem a elegância de um “fastback” num formato do tipo “crossover”, o que aproxima muito do SUV adorado na Europa, a personalidade de um familiar compacto seguro de si e a dose necessária de identificação com a marca. Não é um produto branco, nem uma bizarria, mas apenas um automóvel de que os olhos gostam facilmente. E esta tarefa não foi tão simples como pode parecer. Tal como fez com o Micra - partilha a plataforma, a mecânica e os painéis da carroçaria mais importantes com o Renault 5 E-Tech Electric = o novo Leaf também partilha a plataforma CMF-EV (66% mais rígida do que a anterior) e os motores com Megane e Scenic E-Tech Electric. A margem de manobra com que os estilistas tiveram de trabalhar não era, por isso, muito grande, mas conseguiram um bom resultado. Uma frente “sorridente” é sempre um bom ponto de partida, uma linha de cintura horizontal transmite confiança, a zona inferior das portas em preto reforça a postura “crossover”, a pintura em dois tons, com a parte de cima em preto, faz o automóvel parecer mais baixo e, finalmente, a traseira vertical confere-lhe carácter e é boa para a aerodinâmica, como demonstra o cx de 0,25 com pneus 235/45 R19. Este compacto também conta com “air curtains”, jantes carenadas e persianas móveis na grelha dian-teira, além de fundo plano. Depois, somam-se os detalhes como os farolins com dois (Ni, em japonês) segmentos horizontais sobrepostos, seguidos de três (San) elementos verticais. A Nissan tenta competir com o 23 sempre que entra numa competição, a exemplo do que sucede, por exemplo, na Fórmula ? , é o número de Oliver Rowland, o britânico que venceu o título mundial de pilotos deste ano no campeonato de monolugares elétricos! Base nativa elétrica Comparando com o Leaf anterior, o novo modelo passa da suspensão traseira de barra de torção para a arquitetura multibraços; motor, inversor e redutor estão integrados num mesmo elemento e o sistema de climatização transita do habitáculo para o compartimento sob o “capot” e a tração é às rodas da frente. Curiosamente, O comprimento de 4,35 metros é 14 cm inferior e a distância entre eixos de 2,69 metros é apenas 1 mm mais curta. Contudo, o espaço interior aumentou, pois esta plataforma foi feita exclusivamente para elétricos, o que não acontecia no antecessor. Pela mesma razão, o diâmetro de viragem é 60 cm inferior. Se o exterior é uma grande mudança, o interior representa uma revolução, ainda na comparação com a geração precedente. O painel de instrumento encontra-se numa "prancha” que inclui o ecrã tátil central, sob o qual estão os botões táteis da climatização. Mais abaixo existe um conjunto de quatro botões físicos e um inesperado botão rotativo para o volume do som, uma solução “à antiga”. O volante tem dois braços e patilhas para seleção dos três níveis da regeneração de energia durante as desacelerações e travagens. Os botões P, R, N e D da transmissão são individuais, grandes, quadrados e estão colocados de forma muito pouco elegante e prática no meio da consola, por baixo das saídas de ar da climatização. Ao lado estão os seletores que ativam os modos de condução e a função One Pedal. Espaço suficiente Os lugares de trás têm comprimento suficiente e o acesso não é demasiado baixo, o piso apresenta-se plano e há algum espaço para os pés sob os bancos da frente. A mala tem acesso não muito alto e é ampla, mas o vidro traseiro, devido ao desenho “fastback” da carroçaria, limita o transporte de objetos altos. Tem 437 litros de capacidade. Também não falta espaço à frente e a posição de condução pareceu-me correta, se bem que um pouco alta. os bancos são macios, mas não têm muito apoio lateral. O volante dispõe de ajustes suficientes e botões fáceis de usar. Este primeiro contato dinâmico foi feito na pista alpina de Millbrook, um complexo no Reino Unido, e aconteceu no mesmo dia da experiência com o Micra e, por isso, nas mesmas condições. As primeiras impressões chegaram da direção, com assistência não exagerada e precisão suficiente para um “crossover” familiar. A gestão dos 354 Nm pareceu bem feita, sem arranques súbitos, mesmo durante as acelerações a fundo. O pedal de travão mistura bem a travagem inicial magnética com a travagem dos discos, e o sistema de regeneração com as patilhas funciona como se espera. A insonorização está bem feita, mesmo em pisos que simulavam pavimentos degradados. Dinâmica competente Na segunda volta ao circuito, ativou-se o modo Sport e a função One Pedal. Nas descidas relativamente íngremes do circuito de testes, a segunda foi uma boa ajuda nas zonas de travagem. O piso não apresentava muitas irregularidades, mas a suspensão, que pareceu razoavelmente confortável (para nossa surpresa, o Micra pareceu melhor neste aspeto!), absorveu bem todas as que encontrámos. A dinâmica caracteriza-se por reduzida inclinação lateral em curva, um pouco de subviragem quando se inicia a curva demasiado depressa e uma traseira que se mantém estável, mesmo nas travagens em apoio. Um comportamento adequado para um automóvel com estas características. Num arranque a fundo, numa reta apropriada, os 217 cv não mostraram dificuldade em puxar os 1937 kg do Leaf, que demora 7,6 s para cumprir o 0-100 km/h, segundo a Nissan. Importante dizer que testámos uma versão equipada com a bateria de 75 KWh de capacidade (útil), que ficará disponível em Portugal a partir de março de 2025, no arranque da comercialização (posteriormente, introdução da bateria mais pequena, que tem apenas 52 KWh de capacidade). A Nissan anuncia autonomias WLTP de até 604 km para a bateria maior e 436 km para a menor. Como seria de esperar, a tomada Chademo foi substituída por uma ccs para os carregamentos rápidos com potências até 150 KW. Ainda de acordo com a Nissan, em 0h30, recuperam-se 417 km de autonomia. Em conclusão... A Nissan ainda não tem preços definidos para o novo Leaf, mas não se espera uma mudança radical de posicionamento comercial, considerando o número cada vez maior de concorrentes neste segmento (Kia EV3, por exemplo). A partilha da plataforma e motores entre marcas tornar-se-á cada vez mais comum nos próximos anos, pois os elétricos adaptam-se facilmente a este tipo de estratégia. Só é preciso que o estilo exterior, o ambiente interior e, preferencialmente, a dinâmica sejam distintas entre parceiros de plataformas. ? este primeiro contato permitiu confirmar que a Nissan foi bem-sucedida no cumprimento dessa missão. FRANCISCO MOTA