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“QUEREMOS ESTAR NO PELOTÃO DA FRENTE A NÍVEL TECNOLÓGICO”

Expresso

2025-07-25 21:06:58

Interiores de automóveis onde os plásticos, em vez de serem produzidos exclusivamente a partir de matérias-primas fósseis, passam a incorporar materiais reciclados provenientes de resíduos domésticos e industriais, como cápsulas, rolhas ou embalagens; consolas centrais sem botões físicos, com superfícies táteis que funcionam como o ecrã de um telemóvel; veículos e baterias com etiquetas digitais que indicam a pegada carbónica de cada modelo: a investigação e o desenvolvimento tecnológico na indústria automóvel têm evoluído a um ritmo acelerado nos últimos anos e a Simoldes tem estado envolvida em diversos consórcios onde ocor-rem importantes avanços em inovação. Júlio Grilo, diretor de inovação do grupo, já olha mais adiante e antecipa o momento em que nas fábricas trabalhadores estarão lado a lado com robôs humanoides. Júlio Grilo passou pela “Liga dos Inovadores”, o podcast do Expresso sobre as inovações que as empresas lançam em Portugal, para falar sobre a Simoldes grupo industrial fundado em 1959 por António da Silva Rodrigues , que tem 36 empresas em 16 países. Metade dedicam-se à produção de moldes, enquanto as restantes operam diretamente no sector automóvel, que representa cerca de 80% da faturação do grupo, fornecendo componentes para grupos como a Volkswagen, Toyota, BMW ou Stellantis, O engenheiro integra a empresa desde 1995 e assumiu o cargo de diretor de inovação em 2015, ano em que o escândalo do Dieselgate forçou uma mudança estratégica no sector automóvel: “o paradigma da economia circular deixou de ser um chavão e passou a ser uma realidade”, afirma. Uma década depois, a Simoldes já tem “cerca de 73 materiais diferentes validados” para a produção de componentes como apoios de braços, para-choques, tabliers, botões ou painéis das portas. Esses materiais incluem uma nova geração de polímeros técnicos, que combinam plásticos virgens com materiais reciclados desde resíduos industriais até peças de automóveis em fim de vida, alinhando a produção com os princípios da economia circular. Outra inovação em desenvolvimento e que já “está a atrair bastantes construtores de automóveis” , é a “consola do futuro”, criada em parceria com a Volkswagen Autoeuropa. Trata-se de “uma consola digital da qual, ligando o plástico com a eletrónica - e que dá pelo nome feio de plastrónica desaparecem todos os botões. Conseguimos fazer uma consola central que parece o nosso telemóvel”, descreve. Outra inovação ainda, esta em fase de criação, permitirá, através da leitura de um QR Code, que o consumidor final tenha acesso à pegada carbónica do automóvel que pretende comprar. “o cliente no futuro não vai comprar só pelo preço, vai comprar também pela pegada carbónica”. “Esta etiqueta digital pretende promover escolhas mais informadas e ambientalmente conscientes”, sistematiza. Em todos os projetos conta com parceiros “hoje quase todos os projetos de inovação são feitos em rede”. Robôs e humanos: coabitação à vista Júlio Grilo antecipa agora que “a inovação nos próximos anos vai ser mais nos processos que propriamente no produto”.com a pressão crescente pela competitividade, considera inevitável uma automação muito mais intensa das fábricas. O desafio de integrar robótica avançada e inteligência artificial em ambiente produtivo é “muito grande”. “Temos o sonho de daqui a cinco anos ter fábricas em que as pessoas trabalham com robôs, com humanoides, e dessa forma sermos mais competitivos”. Mesmo que os prazos se prolonguem, acredita que a transformação será inevitável. Outra ambição estratégica passa por entrar mais cedo na cadeia de valor do sector automóvel, posicionando a Simoldes como “líder tecnológica em que fornecemos soluções aos problemas dos nossos clientes, que vai além do fabrico e da conceção de moldes”. “Buscando a analogia ao ciclismo, queremos ser a camisola amarela, ou pelo menos estar no pelotão da frente a nível tecnológico”. E no que toca à presença geográfica? “Posso chegar hoje à Simoldes e se calhar ouvir dizer que já vamos para outro país. Tem sido um crescimento contínuo”. niranda@expresso.impresa.pt A Simoldes aposta em inovação sustentável na indústria automóvel: usa plásticos reciclados, desenvolve consolas digitais sem botões e quer dar a conhecer a pegada carbónica dos carros. Júlio Grilo, diretor de inovação da Simoldes, antevê robôs e humanos a trabalhar em fábricas lado a lado A Simoldes está a desenvolver uma consola digital sem botões para os automóveis que parece um telemóvel a Sim, temos esse sonho de, daqui a cinco anos, termos fábricas em que as pessoas trabalham com robôs, com humanoides, e dessa forma sermos mais competitivos O cliente do futuro não vai comprar só pelo preço, mas também pela pegada carbónica Posso chegar hoje à Simoldes e ouvir dizer que vamos para outro país. e um crescimento contínuo Júlio Grilo diz que hoje quase todos os projetos de inovação são feitos em rede. Raros são os projetos em que a empresa trabalha sozinha FOTO MATILDE FIESCHI ELISABETE MIRANDA; PEDRO LIMA