ALVORADA - SEIS TEMAS PARA O DEBATE AUTÁRQUICO
2025-07-25 21:05:27

Como dentro da minha atividade de cidadania teço comentários à atividade autárquica, sinto a responsabilidade de levantar questões que considero cruciais para o desenvolvimento e a qualidade de vida de São João da Madeira. Não são apenas preocupações, mas propostas para um debate construtivo, com o propósito duma gestão autárquica com o compromisso do bem-estar de todos. Um dos pilares para o futuro é a habitação. É imperativo que as políticas municipais vão além da mera gestão e se foquem na execução efetiva da reabilitação urbana. É necessário encontrar solução para os concursos vazios, além de desburocratizar os processos de licenciamento e criar um pacote de incentivos robusto sejam eles fiscais, como a isenção de IMI para imóveis reabilitados, ou pela criação de apoios diretos para obras em edifícios de interesse histórico, ou em áreas degradadas. Esta aposta na reabilitação não é só uma questão de melhoria do parque habitacional existente; é uma estratégia-chave para a captação de novos investimentos e de habitantes. Ao oferecer habitação de qualidade, diversi- ficada e acessível, o concelho torna-se mais competitivo e atrativo para famílias, jovens profissionais e empreendedores que procuram um lugar para viver, trabalhar e prosperar. Conectado intrinsecamente à habitação está o desenvolvimento social da população. As infraestruturas desportivas e culturais do concelho já são uma mais- -valia, mas o desafio é otimizar a sua uti- lização, tornando-as verdadeiros centros de dinamização comunitária. Promover a inclusão e a integração de todos os habitantes, com programas dedicados que apoiem as famílias, os seniores e, crucialmente, os novos residentes, incluindo os emigrantes. Ao criar redes de apoio e de convívio, e ao potenciar o desporto e a cultura como ferramentas de coesão, garante-se que ninguém fci a para trás e que o concelho se enriquece com a diversidade. Um ambiente socialmente vibrante é um fator de fixação e atração, complementando a oferta habitacional e criando um ciclo virtuoso de crescimento humano, ajudando a fomentar o espírito comunitário. Para consolidar esta visão de um concelho mais coeso e dinâmico, é fundamental uma aposta estratégica na cultura e na educação, para caminharem de mãos dadas. As infraestruturas culturais e a capacidade de organização de eventos em São João da Madeira são notáveis, mas é preciso ir além. A proposta passa por uma redefinição da oferta educacional, com a criação de cursos profsi sionais focados nas áreas da gestão de eventos, produção artística, som, luz, interpretação e dinamização cultural. No curto prazo, estes cursos darão resposta às necessidades de mercado. A médio prazo, é vital que se explore a sua integração com o ensino superior, permitindo que os alunos progridam sem desmotivação e com reconhecimento do seu percurso prático. Além disso, a autarquia deve assumir um papel ativo na promoção de espetáculos em rede nacional, estabelecendo parcerias com outras promotoras e concelhos. Esta abordagem permite a partilha de recursos, o acesso a produções de maior qualidade e a promoção da criatividade local, elevando o estatuto cultural de São João da Madeira e criando sinergias com as novas formações profissionais, sendo um fator diferenciador, capaz de atrair jovens para a cidade. A vitalidade económica do nosso concelho exige uma melhoria das zonas industriais, que passa por otimizar as acessibilidades e modernizar o licenciamento. Não basta uma nova ligação a norte ao IC2; precisamos de uma via de circulação estrutural entre as três zonas industriais (noroeste, sudeste e sul), articuladas com ligações estratégicas ao IC2, a tal nova a norte, como já existente a sul do concelho. Esta rede não só otimiza o tráfego de pesados, desviando-o das áreas urbanas e melhorando a qualidade de vida dos residentes, como também cria uma alternativa de circulação nascente-poente para a restante população, descongestionando o trânsito interno. Para a indústria, propõe-se igualmente a criação de uma Zona Empresarial Responsável (ZER) unificada nas nossas áreas industriais. Isto permitiria uma simplificação significativa do licenciamento para as empresas, atraindo novos investimentos, promovendo a simbiose industrial e tentando desenvolver a economia circular, o que, por sua vez, reforçaria a imagem do concelho como um polo industrial inovador e sustentável. A coesão territorial na Área Metropolitana do Porto é crucial para São João da Madeira. A ligação ao grande Porto e ao resto do país não pode depender apenas da rodovia. É urgente a transformação e eletrificação da Linha do Vouga num moderno sistema de metro de superfície, que se integre de forma fluida na rede do Metro do Porto. A solução mais promissora seria uma extensão a sul do Metro do Porto, partindo de Vila d Este (Vila Nova de Gaia), passando por Grijó e ligando-se ao corredor da Linha do Vouga em São Paio de Oleiros. Dali, a linha seguiria para Santa Maria da Feira, São João da Madeira e Oliveira de Azeméis. Esta integração elimina a desmotivação da mudança de composição em Espinho, aumenta drasticamente a frequência e atratividade do serviço, e prepara a Linha do Vouga para ser um alimentador da futura linha de TGV que cruzará a região. Esta interligação vital reforçará a competitividade da cidade e desta região, reduzirá a pressão sobre a rodovia e aproximará os cidadãos do Porto. Por fim, e transversal a todos os outros pontos, a sustentabilidade e a transição energética devem ser uma prioridade inegociável. Além da promoção da economia circular e das energias renováveis em geral, deve-se explorar soluções inovadoras e de “baixo custo-benefício” elevado. A microgeração de energia em edifícios municipais é um exemplo claro. É preciso ir além do solar fotovoltaico, estudar soluções eólicas e investigar o aproveitamento “hídrico”, ou seja, a instalação de pequenas turbinas na rede de abastecimento de água municipal em pontos de quebra de pressão ou na captação de energia em coletores intermunicipais. Estas iniciativas, embora de menor escala individual, somam-se para reduzir a pegada carbónica coletiva, diminuir a fatura energética municipal e posicionar São João da Madeira na vanguarda das cidades inteligentes e sustentáveis. As ideias estão lançadas. Outras preocupações haverá. Caberá a quem for eleito agir com determinação, para construir um futuro melhor para São João da Madeira. Rui Guerra