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CAÇAS DE SEXTA GERAÇÃO. NUNO MELO DISSE QUE PORTUGAL VAI OBSERVAR COMO SE FAZ, QUEM PERCEBE DE DEFESA VÊ ANÚNCIO COMO "PUBLICIDADE ENGANOSA"

TVI Online

2025-07-21 21:05:04

Foi um anúncio em plena CNN Portugal: Nuno Melo, ministro da Defesa Nacional, revelou que Portugal vai observar "sem custos" como se faz um caça de sexta geração. Um estatuto de observador que, para quem percebe de defesa, cria mais dúvidas do que certezas. "O que o senhor ministro está a fazer é publicidade enganosa, é pôr-nos pó para os olhos", reage o major-general Agostinho Costa, especialista em assuntos de defesa e segurança. Também o major-general Arnaut Moreira, especialista em geopolítica e geoestratégica, mostra muitas reticências quanto a este anúncio. "A definição do que é ser observador, num processo em que não se entra com dinheiro, é uma coisa que não conheço. São termos que precisam de ser esclarecidos pelo ministério", diz. "Os outros vão desenvolver, nós vamos acompanhar" Agostinho Costa vinca que, sendo observador e não fazendo parte de um consórcio que produza os caças de sexta geração, Portugal vai acabar a "ver o processo a passar ao lado". "Na prática, significa que os outros vão desenvolver e que nós vamos acompanhar", diz. E as possíveis vantagens deste estatuto esbarram logo numa tradição da indústria em geral - e do armamento em particular: o segredo industrial. "Ninguém nos deixa ter acesso a informação crítica sem qualquer contributo [financeiro]. Tenho muitas dúvidas que nos deixem observar sem serem coisas gerais. Quanto muito, vamos a reuniões onde vão apresentar protótipos", junta Agostinho Costa. "É preciso perceber qual o grau de acesso de um observador a projetos tecnologicamente importantes", aponta Arnaut Moreira. Como se envolvem as empresas portuguesas? Apesar das reticências, Arnaut Moreira acredita que uma ligação portuguesa aos projetos de desenvolvimento de caças de sexta geração poderia beneficiar a economia portuguesa. "A questão é: como é que consigo atrair para estes projetos de desenvolvimento aquilo que é a indústria de defesa nacional?", atira. Pelas palavras de Nuno Melo, até agora, não conseguiu perceber como. A CNN Portugal contactou o Ministério da Defesa, não tendo recebido qualquer esclarecimento até à publicação deste artigo. Caças F-16 norte-americanos em exercício da NATO na Europa (Foto: Ronald Wittek/EPA) Horizonte longínquo Para Agostinho Costa, Nuno Melo está a trazer para cima da mesa um tema - ou melhor, uma tecnologia - que ainda está distante. Para o desenvolvimento de um novo caça, aponta, são sempre necessários pelo menos dez anos. "Se não fizermos parte de um consórcio, não vamos produzir nada", insiste. O especialista em assuntos de defesa e segurança dá o exemplo do consórcio com a Embraer para a produção dos KC-390. "Neste caso, em vez dos caças de sexta geração, seria mais interessante continuar a parceria com a Embraer para caças de quinta geração", diz. O que são caças de sexta geração? Neste momento, ainda são uma ideia embrionária. Todavia, há objetivos que parecem claros para quem conhece bem as lides da guerra: um caça mais rápido, mais ágil, onde a tecnologia toma a dianteira. "É algo que ainda faz parte da ficção científica", simplifica Agostinho Costa. Arnaut Moreira destaca que o que distinguirá esta sexta geração de caças será a sua "capacidade de passarem despercebidos em relação aos meios de deteção aérea convencionais, de entrarem profundamente no território". Já Agostinho Costa antecipa que seja um "caça autónomo, conduzido por inteligência artificial". Na prática, um passo em frente em relação aos atuais drones, conduzidos à distância, que apoiam os caças de quinta geração na hora de penetrar no sistema de defesa aérea do inimigo. O especialista sublinha ainda que a China já tem protótipos da nova geração deste tipo de aeronave. "Estamos a dar os primeiros passos no armamento autónomo", conclui. [Additional Text]: Caças de sexta geração. Nuno Melo disse que Portugal vai observar como se faz, quem percebe de defesa vê anúncio como