SEMPRE TEREMOS PARIS?
2025-07-21 21:04:46

Não se trata de submissão aos EUA. Proselitismo intelectual não paga as contas de quem perderá o emprego. Paris pode ser linda, mas milhões de brasileiros precisam trabalhar lá mesmo, no Brasil. Advogado especialista em imigração Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil. Acesso gratuito: descarregue a aplicação PÚBLICO Brasil em Android ou iOS. Paris é incrível - isso nem se discute -, mas a referência, talvez sofisticada em salões intelectuais, não contribui para dimensionar o cenário preocupante diante das consequências concretas que as sanções de Donald Trump impôs ao Brasil podem trazer para milhões de brasileiros. É preciso reconhecer de forma clara a conexão entre os últimos acontecimentos geopolíticos e a tragédia econômica que pode se abater sobre o Brasil, que exportou US$ 40,4 bilhões para os EUA em 2024, representando 12% do comércio exterior do país. Com as tarifas de 50%, setores estratégicos como petróleo (US$ 7,5 bilhões), ferro e aço (US$ 5,3 bilhões) e aeronaves serão devastados. A Embraer, gigante brasileira, será uma das mais atingidas, assim como a siderurgia nacional. Não estamos falando de abstrações diplomáticas, mas de empregos reais, famílias dependentes dessas indústrias e cadeias produtivas inteiras que podem ser destruídas. A medida pode reduzir drasticamente as exportações, desestimular investimentos, gerar desemprego e aumentar a volatilidade cambial. É preciso enxergar a realidade tal como ela se apresenta: quando determinadas instituições, pelas mais diversas razões, assumem feições políticas, ficam expostas a medidas políticas, inclusive internacionais. Trump não está brincando. A postura americana é claramente punitiva, muito além das expectativas do mercado. Quer receber notícias do PÚBLICO Brasil pelo WhatsApp? Clique aqui. O Brasil recebeu a maior tarifa entre todos os países sancionados - não por acaso, mas como resposta direta ao que Trump considera como atitudes abusivas dos Poderes do país. Minimizar essa realidade, quando estamos na iminência do maior choque comercial desde os anos 1930, pode ser perigoso. Diante desse quadro incontornável, é preciso concentrar-se na verdadeira origem do atual problema: Trump mencionou Bolsonaro, mas seu efetivo descontentamento é com as escolhas geopolíticas que o Brasil tem feito. O país se aproximou da China e da Rússia, defendendo alternativas ao dólar em transações internacionais - uma postura que nem os próprios chineses consideram factível no curto prazo e que empurra o Brasil para uma luta em prol de uma causa que não é nem sua, nem dos terceiros que poderiam ser potencialmente beneficiados por ela. As consequências podem ir muito além das tarifas comerciais. É possível antever cenários ainda mais graves, como o bloqueio do sistema GPS americano no território brasileiro ou até mesmo o fechamento do espaço aéreo dos EUA para companhias brasileiras e voos vindos do Brasil. Tais medidas paralisariam setores inteiros da economia, desde a aviação civil até a agricultura de precisão, que depende do GPS para operações básicas. A navegação marítima, o transporte rodoviário, a mineração e mesmo aplicativos de entrega poderiam ser severamente afetados. Para milhões de brasileiros que trabalham nos setores afetados, a perspectiva não é uma viagem à Cidade Luz, mas o desemprego, a queda na renda e o aumento do custo de vida. O setor de carnes pode se tornar inviável nos EUA, prejudicando toda uma cadeia produtiva. O agronegócio já enfrenta impactos diretos no câmbio e no aumento do custo de insumos importados, criando um efeito dominó que atinge desde o grande produtor até o consumidor final. Uma liderança responsável precisa abrir diálogo direto com Trump - algo que ainda não aconteceu desde a posse do americano - para negociar as questões comerciais separadamente dos impasses judiciais. Não há demérito no pragmatismo diplomático. Seria mais eficaz do que adotar posições de pretensa defesa da soberania nacional enquanto as consequências econômicas recaem sobre quem não tem a proteção e estabilidade de cargos públicos. Não se trata de submissão aos EUA, mas de responsabilidade com o povo brasileiro. Proselitismo intelectual não paga as contas de quem perderá o emprego. Paris pode ser linda, mas milhões de brasileiros precisam trabalhar lá mesmo, no Brasil. E, para isso, necessitamos de lideranças que tratem crises diplomáticas com a seriedade que elas merecem. A hora é de pragmatismo, diplomacia ativa e, principalmente, de reconhecer que ações têm consequências - que recaem sobre pessoas comuns, não sobre titulares de passaporte diplomático e cujas férias europeias estão garantidas. A vida real pode ser bem diferente das telas de cinema, mas uma coisa é certa: o tempo urge. Promo App PÚBLICO BrasilUma app para os brasileiros que buscam informação. Fique Ligado! Advogado especialista em imigração Fábio Pimentel