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ENTRE LIVROS - ONDOYANTES 3

Artes Entre as Letras (As)

2025-07-20 21:05:34

Dos livros que recentemente me vieram parar às mãos, não posso deixar de destacar um cujo título é “ROQUEMONT - Fragmentos para uma novela”, da autoria de José Viale Moutinho, editado pela Teodolito. José Viale Moutinho, autor de obras traduzidas em várias línguas, recebeu já vários prémios (Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco; Prémio D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus; e o Grande Prémio da Literatura DST (2024)), tem como característica forte da sua produção a de ser um grande especialista em Camilo Castelo Branco. Neste livro, ficciona um encontro entre Camilo C. Branco, num botequim do Porto (O Águia DOuro), à Praça da Batalha, a que se segue uma visita a casa do escritor e onde o romancista o põe a par das características do portuense. Na realidade Augusto Rocquemont foi mesmo amigo de Camilo, e foi-lhe apresentado por um seu primo, de seu nome Simão Botelho, nome que Camilo terá usado para o personagem de “Amor de Perdição”. Camilo descreve a Augusto o Porto que tão bem conhecia , ruas mal-afamadas, histórias da origem da cidade, botequins, costumes e frases frequentes nesta terra... Augusto Roquemont, de naturalidade suíça, veio para Portugal acompanhando seu pai, o Príncipe de-Hesse-Darmstadt, o qual veio como mercenário para integrar as forças de Miguel I, na luta travada contra o seu irmão, D. Pedro IV, e primeiro Imperador do Brasil. Veio acompanhado do seu lugar-tenente Bartholmé Bayard que é também aio e professor de seu filho, Augusto. Do que se sabe, Augusto seria filho ilegítimo do príncipe e nunca terá conhecido a mãe. O príncipe, ao chegar a Portugal, foi apoiado pela Condessa da Azenha, nomeadamente na aprendizagem do português, tendo sido alojado inicialmente na casa dos Arcos, em Guimarães, local de convívio e alojamento de partidários de D. Miguel, designados pelos seus adversários como os “corcundas”. O príncipe bem tentou que o filho Augusto seguisse a carreira das armas, mas Augusto só se interessava pela pintura, a qual aprendera, nomeadamente em Veneza, com o contributo do fiel Bayard.com a derrota de D. Miguel, o príncipe abandonou o país, mas Augusto resolveu ficar em Portugal, dedicando-se à sua arte (a pintura), nomeadamente ao retrato. Durante muito tempo continuou a viver na casa dos Arcos, continuando depois a sua vida no Porto, onde fez bastantes amigos, nomeadamente o já referido Simão Botelho. Roquemont deixou uma vasta obra, estando alguns dos seus retratos depositados no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, e muitos outros na posse de famílias do Porto. Roquemont é considerado um retratista prestigiado, símbolo do romantismo e que vale a pena conhecer. De realçar o tom jocoso com que José Viale Moutinho descreve e trata os seus personagens, nomeadamente os parvenus da nova nobreza, bem como os tiques ridículos das senhoras em ascensão social. A sátira de Camilo aos novos aristocratas tem como exemplo a frase, que lhe é atribuída: “Foge cão, que te fazem barão. Mas para onde se me fazem visconde”? Mas, de facto, Camilo foi agraciado com o título de Visconde de Correia Botelho e está sepultado no cemitério da Lapa, no jazigo da família do seu amigo Freitas Fortuna. FOTO: DR jurista NOTA Roquemont - Fragmentos para uma novela, José Viale Moutinho. Teodolito, 2024. Jose VIelea João Pimenta