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ESTANTE

Jornal de Letras, Artes e Ideias

2023-04-19 18:41:11

19 de abril a 2 de maio de 2023 JORNALDELETRAS.PTLETRAS ESTANTE originalmente em diferentes livros, foram incluídos por EL nas versões francesa de Mitologia da Saudade e não surgem agora noutros títulos das Obras Completas; b) de algumas reações-chave de terceiros ao Labirinto; c) de dois textos de EL sobre reações e de um prefácio inédito a esta publicação.” A fechar a obra agora dada a lume, a indicação da origem dos textos, referência bibliográficas e índice remissivo. Nota para que, nos agradecimentos, João Dionísio salienta que a sua ”maior dívida vai para João Nuno Alçada, responsável, na prática, pelo recenseamento dos testemunhos cujo textos editei”. Acabado de sair, também, na coleção da Gradiva dedicada às obras de Eduardo Lourenço, a sua Correspondência com Jorge de Sena, (39 missivas de EL e 19 de Sena, deste se tendo perdido oito), correspondência publicada originalmente na Imprensa Nacional, em 1991, com organização e notas de Mécia de Sena. J Eduardo Lourenço e o seu Labirinto › Eduardo Lourenço O LABIRINTO DA SAUDADE E OUTROS ENSAIOS Organização e prefácio de João Dionísio, Fundação Calouste Gulbenkian, 410 pp., 22 euros › Eduardo Lourenço – Jorge de Sena CORRESPONDÊNCIA Gradiva, 208 pp., 14 euros O Labirinto da Saudade e outros ensaios sobre a cultura é o 13.º e último volume das Obras Completas de Eduardo Lourenço, em boa hora editadas pela Fundação Calouste Gulbenkian. A edição deste volume é de João Dionísio (JD), prof. e investigador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, autor também de muito interessante “introdução”, de 43 páginas. Muito interessante, mas também esclarecedora e completa – pelo que JD escreve não só sobre o mais “famoso” livro do ensaísta e os outros textos reunidos neste volume, como pelas muitas lembranças/citações do que de mais relevante outros escreveram, contextualização na obra de Lourenço, pequena história até de sucessivas edições do Labirinto, desde a 1.ª (e outras...) com imensas gralhas, etc., etc. Claro que JD fala também do critério da sua “edição”, nesta curta recensão justificando-se sobretudo transcrever a parte em que explicita o seu conteúdo e/ou a sua organização. Assim, diz que este volume “funciona como uma abstração construída a parir do conceito de livro que se vai desfazendo à medida que vai sendo lido”. E continua: “Na primeira parte, todo o livro que é O Labirinto da Saudade, segundo a versão dotada do texto introdutório ‘Para uma revisitação improvável’; na segunda parte quase todo o livro que o explora ou com ele dialoga, Portugal como destino Mítico seguido de Mitologia da Saudade; na terceira e última parte, uma miscelânea feita: a) daqueles ensaios que, tendo aparecido › José Manuel Castanheira UM LUGAR PARA TRANSFORMAR O TEMPO Companhia de Teatro de Almada, 120 pp, 5 euros Novo volume do programa “O Sentido dos Mestres”, do Festival de Teatro de Almada, realizado em parceira com a Share Foundation. Em cada edição do festival, um criador dirige um curso com cinco sessões sobre o seu trabalho e a sua relação com o teatro. Em 2022, foi a vez de José Pedro Castanheira, um dos mais destacados cenógrafos portugueses. Ao conjunto das suas masterclass (“Um lugar para o espetáculo”, “Laboratório d’A Cenografia”, “Manual de sobrevivência de um cenógrafo”, “Ensinar ou proporcionar” e “Para onde vai tanto tempo perdido”) deu o título de Um Lugar para Transformar o Tempo. “Com este volume, mais uma vez, estamos diante de um original tesouro bem revelado”, escreve, no prefácio, Doris Rollemberg. “Por essa perspetiva, podemos reconhecer que o curso torna visível a existência do espaço prévio à criação como o necessário lugar utópico e solitário edificado e habitado pelo artista para o ato criativo. Um mundo idealmente projetado no qual nos instalamos para refletir sobre a alegria, como algo inseparável do processo de criação.” J José Manuel Castanheira FICÇÃO Filomena Marona Beja Novo livro de Filomena Marona Beja, agora não em romance ou em conto, áreas em que se destacou, mas na novela. História mais aprofundadas, mas nas quais se mantém o seu ritmo veloz, resultado de um estilo único, no osso. Os temas, esses, também são familiares aos leitores da escritora, que antes publicou Lisboa Indo e Vindo, Um Rasto de Alfazema, Barca Novas Levam Guerra, Avenida do Príncipe Perfeito, A Sopa (Grande Prémio de Literatura DST) ou A Cova do Lagarto (Grande Prémio de Romance e Novela da APE): a esperança, o amor ou o desejo de desafiar os limites. Novelas sobre mulheres que cruzam vários tempos da nossa História, incluindo a muito recente e a marcada pela pandemia. › Filomena Marona Beja NOVELAS AO VENTO Parsifal, 136 pp, 15 euros Joana Bértholo “Como foi que vim parar aqui? Oh, essa história não a consigo contar de forma breve. Há muitos anos, afligia-me saber que os dias se perdiam em mim. Cada qual se atarefava na pouco menos do que infinita lista de tarefas diárias (...). Tinha tempo e não percebia a fortuna.” Assim começa Natureza Urbana, o novo livro de Joana Bérholo, integrado na coleção de contos da Relógio d’Água, que tem curadoria de Ana Margarida de Carvalho e na qual já foram publicados histórias curtas de Sandro William Junqueira, Marta Pais Oliveira e Luís Afonso, entre outros autores estrangeiros. Na narrativa de Bértholo, autora ainda de A História de Roma, Ecologia, O Lago Avesso ou Diálogos para o Fim do Mundo, confrontam-se os mundos urbano e natural, num abismo que se afirma na diferente entre chamar um táxi e um rebanho.” › Joana Bértholo NATUREZA URBANA Relógio d’Água, 64 pp, 8 euros Richard Zimler Aquilo que procuramos está sempre à nossa procura é a segunda parte do romance A Aldeia das Almas Desaparecidas, o novo projeto literário de Richard Zimler. É também um regresso à família Zarco, que já aparecia em outros romances do autor, e ao tema da intolerância religiosa. No segundo volume, Isaaque Zarco está de regresso ao Porto, depois dos esforços para salvar a sua avó. Mas ela fora outra vez presa pelo Santo Ofício, estando agora em perigo de voltar à fogueira. A demanda de Zarco para salvar a sua avó é o pretexto para Zimler reconstituir o que rodeou o auto de fé realizado em Madrid, em 1680, e o terror da perseguição das Inquisições portuguesa e espanhola. Com o conhecimento histórico e a vivacidade literária que os seus leitores já bem conhecem, o autor de O Último Cabalista de Lisboa dá-nos uma época em que amor, tradição, sacrifício e coragem conviviam numa mesma sociedade, comunidade ou pessoa. › Richard Zimler A ALDEIA DAS ALMAS DESAPARECIDAS II Tradução de Inês Fraga e Luís Santos, Porto Editora, 568 pp, 22,20 euros Javier Cercas Terceiro volume da série Terra Alta, na qual Javier Cercas entra nos territórios do policial e do thriller, géneros que, no entanto, acabam subvertidos pelo escritor espanhol. Na sequência de Independência, encontramos Melchor Marín já fora da polícia e a trabalhar como bibliotecário. Cuida da filha, Cosette, mas esta descobre que o pai não lhe contou tudo sobre a morte da mãe. A sua fuga e posterior desaparecimento levam Melchor a confrontar-se com o passado. “A primeira memória que Cosette conservava do pai era muito vívida: estava enfiada numa cadeirinha anatómica infantil, no banco traseiro de um carro, e à sua frente, ao volante, ele dizia que a mãe tinha morrido”, lê-se no início de O Castelo do Barba Azul. Nascido em 1962 e com um dos percursos mais consagrados nas letras espanholas, Javier Cercas é autor ainda dos romances Soldados de Salamina, A Velocidade da Luz, Anatomia de Um Instante ou O Impostor. › Javier Cercas O CASTELO DO BARBA AZUL Tradução de Helena Pitta, Porto Editora, 336 pp, 18,85 euros Stefan Zweig Dois livros para regressar a Stefan Zweig, escritor, ensaísta, biógrafo, uma das grandes vozes europeias da primeira metade do século XX, que se suicidou, no Brasil, em 1942. Em reedição, Novela de Xadrez é, nas palavras do seu tradutor, Álvaro Gonçalves, “o paradigma da nouvelle alemã, com todas as características formais de uma narrativa curta, compacta e comedida, apresentando a incontornável categoria do ponto de viragem”. Conta o encontro dos passageiros de um navio a caminho de Buenos Aires com um campeão de xadrez. Foi Ele?, integrado na coleção Gato Maltês, também revela a mestria do escritor austríaco na forma (ainda mais) curta. Desta vez, numa história entre vizinhos e, segundo o tradutor Francisco de Nolasco Santos, um dos seus textos mais negros. › Stefan Zweig NOVELA DE XADREZ Tradução de Álvaro Gonçalves, Assírio & Alvim, 104, 13,30 euros › FOI ELE? Tradução de Francisco de Nolasco Santos, Assírio & Alvim, 72 pp, 8,85 euros Autora Venturini Nascida em La Plata, na Argentina, e autora de mais de 30 livros, sobretudo de poesia, Aurora Venturini só foi reconhecida literariamente no final da sua vida. Até lá, pesou o seu exílio em Espanha e sobretudo a ligação ao casal Péron. O que mudou para vir a ser tão falada? Um concurso literário de inéditos (anónimos) promovido pelo jornal Página/12 e pelo Banco Provincia. Isto em 2007, quando Venturini tinha 85 anos. A grande entusiasta do original e que integrava o júri do prémio foi a escritora (também argentina, nascida em 1983) Mariana Enríquez, autora de A Nossa Parte da Noite ou As Coisas que Perdemos no Fogo. A primeira coisa que lhe chamou a atenção foi o original batido à máquina de escrever e a história de família, que depois veio a perceber ser autobiográfica. Tudo isto revela no prefácio ao romance vencedor, As Primas, que tem tido enorme êxito no universo da língua espanhola. Chega agora a Portugal com a história de Yuna e Petra, duas primas enredadas numa família disfuncional. Uma narrativa de mulheres que tentam fugir ao destino e a um futuro de submissão. › Autora Venturini AS PRIMAS Tradução de Rita Custódio e Alex Tarradellas, Alfaguara, 208 pp, 18,45 euros Douglas Adams A vida, o Universo e Tudo o Resto é a terceira parte da conhecida série de livros À Boleia pela Galáxia, que celebrizaram o escritor inglês Douglas Adams. Arthur Dent e Ford Prefect, na companhia de outros amigos, têm novas aventuras pela frente, num universo superpovoado por humanos e não só, cheio de viagens interplanetárias e através do tempo. Depois de uma quase destruição da terra, o perigo está agora no planeta Krikkit. Os seus habitantes, poderosos robots, não querem aniquilar apenas o seu habitat, mas todo o universo. Num ritmo alucinante e com muitas situações inesperadas e divertidas, seguem-se 200 páginas em que o futuro da existência celeste é jogado no tabuleiro mais difícil: o do improviso. › Douglas Adams A VIDA, O UNIVERSO E TUDO O RESTO Tradução de, Saída de Emergência, 224 pp, 16,60 euros POESIA Ruy Belo Na edição de toda a obra poética de Ruy Belo (1933-1978) livro a livro, com um prefácio inédito, sai agora Toda a Terra, que teve a sua 1.ª edição em 1976, oitavo dos seus nove livros. Neste caso o prefácio é de Luís Adriano Carlos, poeta, ensaísta e prof. da Fac. de Letras da Un. do Porto, que o considera a “confirmação superlativa” de que a poética do autor “suporta uma estética muito dependente das configurações rítmicas”. “Lemos esta poesia e sentimos que há de facto um sujeito e que esse sujeito é a historicidade da linguagem, uma linguagem cujo epicentro é exatamente a subjetividade”, sublinha. › Ruy Belo TODA A TERRA Assírio & Alvim, 240 pp., 16,65 euros OUTROS Livros e livrarias Apaixonado por livros e livrarias, o espanhol Carrión tem percorrido o mundo em busca desses templos da leitura, onde se podem encontrar as mais variadas e inesperadas edições. Mas nas suas muitas andanças ou na sua Barcelona natal, também encontrou uma transformação crescente, em parte devido às grandes multinacionais. Foi sem surpresa, por isso, que em 2019 lançou o manifesto Contra a Amazon. A este texto juntou outros que deram corpo ao livro que agora se publica em Portugal. Em todos, o mesmo ativismo e a mesma certeza: “As boas livrarias são perguntas sem resposta. São lugares que nos provocam intelectualmente, que cifram enigmas, que nos surpreendem e propõem desafios.” Além de textos sobre várias lojas de livros e motivos para as preservar, um pouco à semelhança do que fizera no volume Livrarias, também já publicado pela Quetzal, este volume inclui ainda artigos sobre Iain Sinclair, Jorge Luis Borges ou Alberto Manguel. › Jorge Carrión CONTRA A AMAZON Tradução de Margarida Amado Acosta, Quetzal, 256 pp, 17,70 euros Bibliotecas Também sobre livros, mas em bibliotecas, uma obra de Roberto Calasso, nascido em 1941 e falecido em 2021, editor, escritor e ensaísta italiano. São quatro textos sobre as muitas implicações de editar, ler e arrumar um livro nos mais variados espaços. O mais sedutor é o que dá título ao conjunto: Como Organizar uma Biblioteca. Mais do que respostas, Roberto Calasso problematiza a questão, convocado questões práticas e filosóficas: “Organizar uma biblioteca é um tema altamente metafísico. (...) De facto, proporciona-nos uma boa ocasião para indagar sobre uma questão capital: o que é a ordem? Uma ordem perfeita é impossível, simplesmente porque existe a entropia. Mas sem ordem não se vive. Com os livros, como com tudo o resto, é necessário encontrar um compromisso entre estas duas frases.” Além das reflexões sobre a arrumação, Calasso junta ainda muitos (e muito interessantes) exemplos de personalidades célebres que se destacaram pelas suas bibliotecas e hábitos bibliotecários. › Roberto Calasso COMO ORGANIZAR UMA BIBLIOTECA Tradução de João Coles, Edições 70, 132 pp, 14,90 euros