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ECONOMIA GUERRA COMERCIAL - CHINA E UE AJUDAM BRASIL A ESTAR MENOS EXPOSTO A TARIFAS DE TRUMP

Público

2025-07-12 21:04:28

Brasil exporta duas vezes mais para a China do que para os EUA, que ameaçam fechar as portas do seu mercado O grau de dependência relativamente pequeno que a economia tem relativamente ao mercado norte-americano é o principal trunfo com que o Brasil conta para enfrentar a ameaça de tarifas astronómicas criadas por Donald Trump. Mas a fragilidade da divisa e a exposição mais alta de alguns sectores de actividade colocam o país numa situação de risco. Numa semana em que Trump voltou com mais anúncios de subida das tarifas para o cobre, o Canadá e outros parceiros comerciais dos Estados Unidos da América (EUA) a lançar o globo para um ambiente de guerra comercial aberta, o Brasil acabou mesmo por ser o país alvo do ataque mais agressivo. O Presidente norte-americano anunciou que pretende passar a aplicar taxas alfandegárias de 50% sobre todos os produtos importados pelos EUA ao Brasil, podendo esta medida entrar em vigor dentro de menos de três semanas, a partir do dia 1 de Agosto. Tarifas deste tipo, para além de poderem conduzir a um agravamento dos preços suportados pelos consumidores norte-americanos que queiram adquirir produtos brasileiros, também abalam de forma drástica a competitividade dos produtos que as empresas brasileiras pretendam exportar para os EUA, que é o maior mercado do mundo. Tal como já aconteceu nos últimos meses a diversos outros governos, o anúncio das subidas de Trump coloca as autoridades brasileiras perante um dilema: não dar parte de fracas e retaliar, esperando que os custos impostos aos EUA os façam recuar, mas arriscando uma ainda maior escalada das taxas. Ou responder com moderação, na esperança de conseguir chegar a um acordo mais favorável. O dilema torna-se ainda maior porque os motivos invocados por Donald Trump para subir as tarifas aplicadas ao Brasil são muitos e variados, ficando longe de estar limitados a questões económicas e comerciais. Na carta enviada pelo Presidente norte-americano, fica evidente que um dos principais motivos de Donald Trump para visar o Brasil, um país com o qual os EUA até têm um excedente comercial, são os problemas que o ex-Presidente Jair Bolsonaro, um aliado de Trump, tem vindo a enfrentar nos tribunais. Isto torna ainda mais difícil para o Brasil encontrar forma de, numa negociação, fazer concessões que satisfaçam Trump e façam os EUA recuar. Talvez por isso, o Presidente brasileiro Lula da Silva e vários membros do Governo tenham optado ao longo das últimas horas não só por não se precipitarem com uma reacção imediata, como também por passar a mensagem de que a economia brasileira tem condições mais favoráveis do que outros países para enfrentar uma guerra comercial com os EUA. O peso dos EUA O argumento de base é o de que, ao contrário do que acontece com outros países da América Latina, o Brasil não depende tanto dos EUA para a manutenção de um bom desempenho económico. De facto, para além de a balança comercial do Brasil face aos EUA ser deficitária o que pode significar que os Estados Unidos têm mais a perder do que o Brasil com uma guerra tarifária , o peso das exportações para os EUA no total das exportações brasileiras é relativamente pequeno quando comparado com o que acontece noutros países. Apenas 12% das exportações do Brasil em 2024 foram para os EUA, um número muito inferior aos mais de 90% do México e mais baixo do que o registado na grande maioria dos países da América do Sul. A importância das relações comerciais com a China é a principal explicação para esta relativamente reduzida dependência do Brasil face aos EUA. De acordo com os dados oficiais do comércio internacional, em 2024, o Brasil vendeu para a China mais do dobro do que vendeu para os EUA, com o gigante asiático a absorver 28% das exportações. E o segundo principal comprador de bens ao Brasil foram os países da União Europeia, com um peso de 14,3%. Esta forte presença nos mercados chinês e europeu faz com que, à partida, o Brasil esteja em melhor posição do que outros países da América Latina para absorver os impactos inevitáveis que as tarifas de 50% teriam nas suas vendas para os EUA. Há, no entanto, alguns sectores que estão mais expostos. Entre as principais exportações do Brasil para os EUA estão o petróleo, os produtos metálicos semiacabados, o café, o sumo de laranja e a carne bovina. Será nestes sectores de actividade que o Brasil, se quiser evitar uma crise, terá de encontrar alternativas ao mercado norte-americano. Do lado das autoridades europeias, a mensagem que está a ser passada é, para já, a de optimismo. Um relatório de impacto produzido pelo Ministério das Finanças brasileiro destaca que as matérias-primas “constituem a maior parte dos bens exportados para os EUA”, e que estas “tendem a ser mais facilmente redireccionadas para outros países ou regiões do que os produtos manufacturados”. Estão nesta circunstância, por exemplo, o petróleo e o café, que funcionam numa lógica de mercado mundial. É por isso que, no mesmo relatório, se afirma que o impacto das tarifas no crescimento de 2025 tenderá a ser “pouco significativo”. Ainda assim, pensar que tudo continuará na mesma para a economia brasileira depois de a maior econo-mia mundial quase fechar as portas aos seus produtos poderá ser optimismo de mais. Vários sectores, como os da indústria aeroespacial, por exemplo, com destaque para a Embraer (que tem presença em Portugal), têm muito a perder e podem gerar problemas numa economia que, tal como as suas vizinhas da América do Sul, é bastante sensível a sinais de instabilidade e a perdas de confiança dos investidores. Uma das preocupações, por exemplo, é que a divisa brasileira, principalmente num cenário de ainda maior escalada das tarifas de parte a parte, entre numa trajectória descendente, algo que, apesar de ajudar à competitividade das exportações, traria mais inflação e forçaria o banco central a aumentar as taxas de juro, limitando o crescimento da economia. A incerteza em relação ao que irá acontecer ao Brasil explica porque é que, até agora, há previsões divergentes para a sua economia. Enquanto a firma de investimentos internacional ARX aponta para um “impacto macroeconómico marginal e gerível”, o banco de investimento Goldman Sachs prevê que as tarifas de Trump retirem entre 0,3% e 0,4% ao produto interno bruto (PIB) brasileiro. UE ainda aguarda Presidente dos EUA agrava tarifa sobre Canadá para 35% Diogo Cavaleiro Antes de a União Europeia (UE) receber a sua carta, foi o Canadá a ser informado publicamente, com a missiva a ser publicada na rede social Truth Social de que vai sentir mesmo um agravamento das tarifas quando quiser vender produtos aos EUA. Donald Trump anunciou, numa publicação na sua própria rede social, que seria imposta uma tarifa de 35% sobre as importações de produtos vindos do Canadá, a entrar em vigor a 1 de Agosto (a nova data para o arranque destes custos comerciais). É uma resposta ao que Trump diz ser uma retaliação canadiana face à tarifa de Fevereiro. A taxa que reflecte um agravamento face aos 25% já impostos em Fevereiro não ficará por aí se houver retaliação, promete o Presidente americano, dizendo que será sempre colocado um intervalo de 35% sobre uma eventual tarifa de resposta do Canadá. O Canadá é o segundo parceiro comercial dos EUA, segundo a Reuters, e a tarifa será aplicada aos bens que não estão dentro do acordo comercial que une a América do Norte (juntamente com o México). Mark Carney, o primeiro-ministro canadiano, promete continuar a negociar até àquela data (“para salvar vidas e proteger comunidades nos dois países”), segundo uma publicação no X, onde refere que tem feito “progressos para parar o flagelo do fentanil” opióide que foi citado por Trump, em Fevereiro, para elevar as tarifas, e que voltou agora a ser referido na publicação do Truth Social, com o americano a dizer que, se a luta for efectiva, pode reconsiderar esta taxa. Na resposta, Carney também refere como tem vindo a reforçar a sua força junto de outros parceiros “num contexto de desafios comerciais globais, o mundo está a virar-se para parceiros económicos fiáveis, como o Canadá”, escreveu numa outra publicação. Já numa entrevista à NBC, Trump anunciou que prevê impor taxas de 15% ou 20% à maioria dos parceiros comerciais, quando, até aqui, a taxa base é de 10%. Esta semana tem sido rica no que diz respeito às tarifas, com o envio de missivas a determinar quais os custos que vão ser impostos aos produtos importados pela maior economia do mundo. Japão e Coreia do Sul foram visa-dos, Filipinas e Sri Lanka também, o Brasil é outro dos destaques. A NBC contabiliza 22 países já afectados. Os EUA e a UE têm estado a negociar as tarifas (Trump até referiu que os europeus têm “tratado muito bem” os Estados Unidos), sendo esperado que haja alguma espécie de anúncio em breve. Muitos países são também atingidos por tarifas específicas sobre os países, as sectoriais, como é o caso do cobre, cuja taxa de 50% foi anunciada esta semana. Na carta a Carney, Trump deixa claro que serão sempre tarifas separadas, a impor acima da taxa aplicada ao país. No caso de importações automóveis, Trump continua a insistir e fá-lo na carta ao Presidente canadiano que não há tarifas se a opção dos parceiros for fazer a construção dos bens em solo americano. China visa “parceiro” A China e o Canadá devem encararse mutuamente de uma forma mais objectiva e racional e reforçar a cooperação num espírito mais positivo e aberto, disse ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, ao seu homólogo canadiano, na Malásia. Os dois países “podem claramente ser parceiros para o sucesso mútuo”, afirmou Wang, de acordo com um comunicado divulgado pelo seu ministério. A China opõe-se à “repressão irrazoável” das suas empresas e espera que o Canadá proporcione um bom ambiente para as empresas chinesas investirem e operarem, afirmou. com Reuters Lula da Silva e vários membros do Governo optaram por não reagir de forma imediata Trump prevê impor taxas de 15% ou 20% à maioria dos parceiros Sérgio Aníbal