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CHINA E UE AJUDAM BRASIL A ESTAR MENOS EXPOSTO A TARIFAS DE TRUMP

Público Online

2025-07-12 21:04:10

O Brasil exporta duas vezes mais para a China do que para os EUA e isso constitui uma vantagem importante numa altura em que Trump ameaça fechar as portas do mercado norte-americano. O grau de dependência relativamente pequeno que a economia tem relativamente ao mercado norte-americano é o principal trunfo com que o Brasil conta para enfrentar a ameaça de tarifas astronómicas criadas por Donald Trump. Mas a fragilidade da divisa e a exposição mais alta de alguns sectores de actividade colocam o país numa situação de risco. Numa semana em que Trump voltou - com mais anúncios de subida das tarifas para o cobre, o Canadá e outros parceiros comerciais dos Estados Unidos da América (EUA) - a lançar o globo para um ambiente de guerra comercial aberta, o Brasil acabou mesmo por ser o país alvo do ataque mais agressivo. O Presidente norte-americano anunciou que pretende passar a aplicar taxas alfandegárias de 50% sobre todos os produtos importados pelos EUA ao Brasil, podendo esta medida entrar em vigor dentro de menos de três semanas, a partir do dia 1 de Agosto. Tarifas deste tipo, para além de poderem conduzir a um agravamento dos preços suportados pelos consumidores norte-americanos que queiram adquirir produtos vindos do Brasil, também abalam de forma drástica a competitividade dos produtos que as empresas brasileiras pretendam exportar para os EUA, que é o maior mercado, não só do continente americano, como do mundo. Tal como já aconteceu nos últimos meses a diversos outros governos, o anúncio das subidas de Trump colocam as autoridades brasileiras perante um dilema: não dar parte de fracas e retaliar, esperando que os custos impostos aos EUA os façam recuar, mas arriscando uma ainda maior escalada das taxas. Ou responder com moderação, na esperança de conseguir chegar a um acordo mais favorável. Aumentar O dilema torna-se ainda maior porque os motivos invocados por Donald Trump para subir as tarifas aplicadas ao Brasil são muitos e variados, ficando longe de estar limitados a questões económicas e comerciais. Na carta enviada ao Brasil pelo Presidente norte-americano, fica evidente que um dos principais motivos de Donald Trump para visar o Brasil, um país com o qual os EUA até têm um excedente comercial, são os problemas que o ex-presidente Jair Bolsonaro, um aliado do Presidente norte-americano, tem vindo a enfrentar nos tribunais. Isto torna ainda mais difícil para o Brasil encontrar forma de, numa negociação, fazer concessões que satisfaçam Trump e façam os EUA recuar. Talvez por isso, o Presidente brasileiro Lula da Silva e vários membros do Governo tenham optado ao longo das últimas horas não só por não se precipitarem com uma reacção imediata, como também por passar a mensagem de que a economia brasileira tem condições mais favoráveis do que outros países para enfrentar uma guerra comercial com os EUA. O peso dos EUA O argumento de base é o de que, ao contrário do que acontece com outros países da América Latina, o Brasil não depende tanto dos EUA para a manutenção de um bom desempenho económico. De facto, para além de a balança comercial do Brasil face aos EUA ser deficitária - o que pode significar que os Estados Unidos têm mais a perder do que o Brasil com uma guerra tarifária - o peso das exportações para os EUA no total das exportações brasileiras é relativamente pequeno quando comparado com o que acontece noutros países. Apenas 12% das exportações do Brasil em 2024 foram para os EUA, um número muito inferior aos mais de 90% do México e mais baixo do que o registado na grande maioria dos países da América do Sul. A importância das relações comerciais com a China é a principal explicação para esta relativamente reduzida dependência do Brasil face aos EUA. De acordo com os dados oficiais do comércio internacional, em 2024, o Brasil vendeu para a China mais do dobro do que vendeu para os EUA, com o gigante asiático a absorver 28% das exportações. E o segundo principal comprador de bens ao Brasil foram os países da União Europeia, com um peso de 14,3%. Esta forte presença nos mercados chinês e europeu faz com que, à partida, o Brasil esteja em melhor posição do que outros países da América Latina para absorver os impactos inevitáveis que as tarifas de 50% teriam nas suas vendas para os EUA. Há, no entanto, alguns sectores que estão mais expostos. Entre as principais exportações do Brasil para os EUA estão o petróleo, os produtos metálicos semi-acabados, o café, o sumo de laranja e a carne bovina. Será nestes sectores de actividade que o Brasil, se quiser evitar uma crise, terá de encontrar alternativas ao mercado norte-americano. Do lado das autoridades europeias, a mensagem que está a ser passada é, para já, a de optimismo. Um relatório de impacto produzido pelo ministério das finanças brasileiro destaca que as matérias-primas "constituem a maior parte dos bens exportados para os EUA", e que estas "tendem a ser mais facilmente redireccionadas para outros países ou regiões do que os produtos manufacturados". Estão nesta circunstância, por exemplo, o petróleo e o café, que funcionam numa lógica de mercado mundial. É por isso que, no mesmo relatório, se afirma que o impacto das tarifas no crescimento de 2025 tenderá a ser "pouco significativo". Ainda assim, pensar que tudo continuará na mesma para a economia brasileira depois da maior economia mundial quase fechar as portas aos seus produtos poderá ser optimismo de mais. Vários sectores, como os da indústria aeroespacial, por exemplo, com destaque para a Embraer (que tem presença em Portugal), têm muito a perder e podem gerar problemas numa economia que, tal como as suas vizinhas da América do Sul, é bastante sensível a sinais de instabilidade e a perdas de confiança dos investidores. Uma das preocupações, por exemplo, é que a divisa brasileira, principalmente num cenário de ainda maior escalada das tarifas de parte a parte, entre numa trajectória descendente, algo que apesar de ajudar à competitividade das exportações, traria mais inflação e forçaria o banco central a aumentar as taxas de juro, limitando o crescimento da economia. A incerteza em relação ao que irá acontecer ao Brasil explica por que é que, até agora, há previsões divergentes para a sua economia. Enquanto a firma de investimentos internacional ARX aponta para um "impacto macroeconómico marginal e gerível", o banco de investimento Goldman Sachs prevê que as tarifas de Trump retirem entre 0,3% e 0,4% ao produto interno bruto (PIB) brasileiro. tp.ocilbup@labina.oigres Sérgio Aníbal