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O QUE REVELAM OS FICHEIROS SECRETOS DA TESLA?

Jornal Económico (O)

2025-07-11 21:04:56

Automóvel No livro “The Tesla Files”, um dos títulos mais aguardados e que será publicado este mês, são reveladas as histórias de centenas de acidentes, alguns deles fatais, com modelos Tesla. Condutores e passageiros ficaram presos em veículos em chamas ou envolvidos em travagens repentinas a alta velocidade. asarmento@medianove.com Oalemão Stefan Meier despediu-se da mulher, Rita, e dos três filhos antes de se dirigir para a garagem de casa. Este empresário do setor da madeira, residente na cidade de Tettnang, próximo do Lago Constança, preparava-se para visitar uma feira em Milão. Entre O BMW e O Tesla Model s acabado de comprar, Stefan decidiu levar o carro criado por Elon Musk. Verificou no trajeto os pontos de recarga e, por fim, arrancou. Teria de conduzir 400 quilómetros até à cidade italiana, um percurso que nunca chegou a cumprin. às 15h18 de 10 de maio de 2018, perdeu o controlo do automóvel na autoestrada A2, perto do túnel Monte Ceneri. A uma velocidade de 100 km/h atravessou várias marcações e placas de aviso antes de colidir com um guard rail de proteção de estrada. “A colisão lançou o veículo para o ar, capotando várias vezes antes de parar”, diz o relatório oficial do acidente. O Tesla Model s parou mais à frente, no lado oposto da estrada, deixando um rasto de destroços. Algumas testemunhas relataram que o carro se incendiou ainda no ar. Várias pessoas tentaram abrir as portas para resgatar o empresário, mas não conseguiram destrancá-las. Quando ouviram explosões e viram chamas pelas janelas, recuaram. Os bombeiros também nada puderam fazer. Este foi um dos primeiros acidentes fatais relacionado com a marca Tesla na Europa. Na altura, a fabricante norte-americana divulgou um comunicado, no qual afirmou estar “profundamente triste” e acrescentou: “Estamos a trabalhar para reunir todos os factos e a cooperar totalmente com as autoridades locais”. A mulher de Stefan, Rita Meier, guardou tudo o que a polícia lhe entregou após a investigação inconclusiva. “Talvez um dia tudo isto seja necessário novamente”, disse. Rita ainda não perdeu a esperança de descobrir a verdade e foi uma das várias pessoas que contactou os jornalistas Michael Verfúrden e Sõnke Iwersen (do grupo alemão Handelsblatt), autores do livro “The Tesla Files”, que será lançado este mês na Europa, e no qual serão reveladas as histórias de centenas de acidentes. Em junho de 2023, a dupla de jornalistas recebeu 100 GB de dados de “vários informadores” dentro da Tesla, que revelam como a empresa tratou milhares de reclamações sobre os seus recursos avançados de assistência ao condutor, o Autopilot (piloto automático). Os dados continham 23 mil ficheiros internos, com reclamações desde 2015 até março de 2022. Nesse período, a Tesla recebeu 2.400 relatórios sobre problemas de autoaceleração e 1.500 casos sobre problemas de função de travagem. Este último incluiu 139 reclamações sobre travagem de emergência não intencional e 383 sobre paragens fantasma de falsos avisos de colisão. Os ficheiros incluíam ainda mais de mil relatórios de acidentes e uma tabela de três mil incidentes em que os condutores expressaram preocupações de segurança sobre o sistema de assistência ao condutor da Tesla. Embora a maioria dos incidentes relatados tenha ocorrido nos Estados Unidos, algumas das reclamações vieram de condutores na Europa e na Asia. De acordo com o jornal alemão, foram contactados dezenas de clientes dos ficheiros para confirmar os seus relatórios, e alguns até conseguiram partilhar vídeos dos acidentes. Enfrentar a Tesla Numa pré-publicação do livro, divulgada pelo “The Guardian”, Rita Meier não foi a única viúva a procurar os jornalistas. Clientes desiludidos, funcionários atuais e antigos colaboradores, analistas e advogados enviaram informações para Verfúrden e Iwersen. “Mais de uma pessoa escreveu que já era hora de alguém enfrentar a Tesla , e Elon Musk“, escreveram os autores. Outro dos casos relatados é o de Oliver Schuster, um entusiasta de tecnologia e fascinado por Elon Musk. Este empresário do setor hoteleiro tinha quatro Teslas, mas não confiava no piloto automático. A forma como o software parecia tomar decisões por conta própria nunca lhe agradou. No dia 13 de abril de 2021, o seu Model x preto saiu da pista na estrada B194, entre Loitz e Schõnbeck, no nordeste da Alemanha. As 12h50 o carro colidiu com uma árvore e incendiou-se. Os acidentes de Meier e Schuster Ocorreram num intervalo de tempo superior a três anos, mas as semelhanças eram evidentes. Os jornalistas examinaram relatórios de acidentes, relatos de testemunhas, fotos do local da colisão e solicitaram dados dos veículos à Tesla, que nunca foram fornecidos. No caso de Meier afirmaram que não havia dados disponíveis. No de Schuster disseram que não havia informação relevante. “Em muitos acidentes, em que os carros saíram inexplicavelmente da estrada ou bateram, as autoridades não solicitaram dados à Tesla. Quando lhes perguntámos o porquê, houve silêncio. A nossa impressão é que nem sequer sabiam que podiam fazê--lo. Em outros casos, agiram só quando pressionados pelas famílias das vítimas”, escreveram os autores Michael Verfúrden e Sõnke Iwersen. Nos últimos dois anos, os jornalistas falaram com vítimas de acidentes, famílias enlutadas e especialistas em todo o mundo. Descobriram uma caixa preta , um sistema projetado não apenas para recolher e controlar cada byte de dados dos clientes, mas para proteger a visão da condução autónoma de Musk. Em fevereiro de 2024, outro relato trágico: um acidente numa estrada rural perto de Dobbrikow, em Brandemburgo, na Alemanha. Dois jovens de 18 anos morreram quando o Tesla em que estavam colidiu com uma árvore. Os socorristas não conseguiram abrir as portas. Um perito designado pelo tribunal da Dekra, uma das maiores autoridades de testes da Alemanha, concluiu que o incidente fosse classificado “como uma falha”. Se o sistema tivesse funcionado conforme previsto, “presume-se que os socorristas poderiam ter extraído os passageiros do banco de trás antes que o fogo se tornasse mais intenso”. Um outro caso envolveu Hans von Ohain, de 33 anos, funcionário da Tesla em Evergreen, Colorado. No dia 16 de maio de 2022, bateu numa árvore a caminho de casa, após uma partida de golfe; o carro incendiou-se e morreu no local. Um outro passageiro sobreviveu e disse à polícia que von Ohain, que estava alcoolizado, havia ativado o sistema de piloto automático. A Tesla, porém, disse que não conseguia confirmar se o sistema estava ligado , porque nenhum dado foi transmitido no incidente. Musk interveio mais tarde: alegou que Von Ohain não teria a versão mais recente do software , então não poderia ter causado o acidente. Cybertruck Quando um jornalista perguntou a Musk, em outubro de 2015, o que diferenciava o sistema de assistência da Tesla, ele respondeu: “A frota inteira da Tesla opera como uma rede. Quando um carro aprende algo, todos aprendem. Isso vai além do que as outras fabricantes fazem”. Ou seja, milhões de carros alimentam uma central gigantesca de dados, com o objetivo de melho-rar a eficiência da condução e proporcionar mais segurança aos passageiros. Apesar dos acidentes relatados, a tecnologia de data science e a inteligência artificial tornaram a fabricante norte,americana numa das marcas mais valiosas do mundo. No início deste ano, outro problema. Uma carrinha Cybertruck da Tesla explodiu em frente ao Trump International Hotel, em Las Vegas, provocando um morto e seis feridos. As imagens difundidas pelas televisões mostram um Tesla Cybertruck cinzento, estacionado junto à entrada do hotel de 64 andares, envolto numa nuvem de fumo. Segundo Musk, as características do modelo Cybertruck fazem deste veículo um dos “melhores produtos de todos os tempos”: é um veículo de aço inoxidável e ultra resistente, cujo vidro aguenta o impacto de uma bola de basebol a 112 km/h, tem uma capacidade de reboque de 4.990 quilos e vai dos zero aos 100 km/h em 2,7 segundos. Esta pick-up pouco convencional rapidamente se tornou a mais vendida do seu segmento nos Estados Unidos , mas muitos destes veículos tiveram de regressar à fábrica este ano por apresentarem defeitos nos painéis de aço inoxidável e no acelerador. Além disso, as vendas da Cybertruck ónos EUA caíram 32,5% entre janeiro e fevereiro deste ano, para um número estimado de 2.619 unidades. Enquanto as causas do incidente estavam a ser investigadas, o fundador da Tesla garantia que a explosão não estava relacionada com a carrinha. Numa publicação no x, Musk escreveu que a explosão “não tem relação com o veículo em si” e que foi causada por fogos de artifício e por “uma bomba transportada na base do Cybertruck alugado”. “Toda a telemetria do veículo era positiva no momento da explosão e toda a equipa sénior da Tesla está a investigar o incidente”, garantiu. Segundo os autores do livro “Tesla Files”, Musk não é apenas CEO. De repente, tornou-se investigador. Instruiu os técnicos da Tesla a destrancarem remotamente o veículo chamuscado e entregou as filmagens internas registadas até ao momento da explosão. “o CEO da Tesla transformou um indicente numa prova de superioridade da sua tecnologia”. Em junho de 2023, jornalistas do grupo alemão Handelsblatt receberam 100 GB de dados de vários informadores dentro da Tesla, que revelam como a empresa tratou milhares de reclamações sobre os seus recursos avançados de assistência ao condutor A Tesla encontra-se numa disputa legal para impedir que dados específicos sobre de condução assistida se tornem públicos Nos últimos dois anos, os autores do livro “The Tesla Files” falaram com vítimas de acidentes Clientes desiludidos, funcionários atuais e antigos colaboradores, analistas e advogados enviaram informações para as investigações Condutores e pas chamas, de acord Vendas da Tesla afundam As vendas globais da Tesla afundaram 13% no segundo trimestre face ao período homólogo para mais de 384 mil unidades, anunciou a empresa a 2 de julho. A companhia precisa agora de entregar mais de um milhão de veículos elétricos no segundo semestre, que costuma ser forte, para evitar uma segunda queda consecutiva nas vendas anuais. Ainda assim, em junho, a Tesla interrompeu oito meses consecutivos de queda nas vendas na China, um sinal de que o Model y renovado estava a atrair compradores, apesar da forte concorrência de rivais chineses mais acessíveis, como a BYD. Entre as causas para esta queda encontra-se a feroz concorrência dos rivais, mas também a rejeição por parte dos consumidores à entrada de Musk no mundo da política - o empresário anunciou que iria criar um novo partido político, O Partido da América. “Quando se trata de levar o nosso país à falência com desperdício e corrupção, vivemos num sistema de partido único, não numa democracia", escreveu Musk na plataforma x. 338 mil milhões de euros Embora a SpaceX e a Tesla continuem a representar mais de 80% do património líquido estimado em 338 mil milhões de euros de Musk, este também detém participações mais pequenas na xAl, X Corp (anteriormente Twitter), na Boring Company, uma empresa de construção de túneis, e na Neuralink, uma empresa de implantes cerebrais. acidentes que envolvem os seus sistemas sageiros ficaram presos em veículos em lo com as investigações António Sarmento