LOGÍSTICA - RASTREABILIDADE, AUTOMATIZAÇÃO E ÚLTIMA MILHA: OS PILARES DA LOGÍSTICA NOS CONGELADOS
2025-07-11 21:04:56

fotografia SHUTTERSTOCK A cadeia de frio é, hoje, muito mais do que uma questão de temperatura. ê um termómetro que mede a maturidade tecnológica, a ambição sustentável e a capacidade de adaptação das empresas ao consumidor. Numa era onde o e-commerce e a conveniência moldam hábitos e expectativas, dois grandes operadores , STEF e Logifrio revelam como estão a redesenhar a logística de frio em Portugal, combinando eficiência, rastreabilidade e inovação. A cadeia de frio já não é apenas um sistema técnico que garante a temperatura de conservação. ê, cada vez mais, uma engrenagem complexa que exige inteligência, rastreabilidade, sustentabilidade e capacidade de adaptação. Numa altura em que o consumo de produtos congelados continua a crescer e o e-commerce obriga a reconfigurar por completo os modelos de distribuição, a logística é cada vez mais uma força estratégica e não apenas funcional. O crescimento sustentado do consumo de alimentos congelados tem motivado uma profunda reconfiguração das infraestruturas e modelos Como reconhece Luís Mota, diretor comercial da STEF Portugal, O consumo de produtos congelados tem aumentado nos últimos anos e, portanto, a cadeia de abastecimento tem vindo a adaptar-se às novas tendências e necessidades do mercado e do consumo”. E essa adaptação tem exigido não apenas escala, mas sobretudo inteligência e sustentabilidade. Novo padrão de competitividade De facto, em Portugal, o sector está em rápida transformação e, mais do que um extra, a sustentabilidade é, hoje, a matriz sobre a qual tudo se constrói. A logística da cadeia de frio, em Portugal, tem vindo a evoluir de forma significativa no contexto da sustentabilidade, sobretudo impulsionada por uma regulamentação direcionada, pela exigência dos clientes e dos consumidores, bem como pela crescente consciência ambiental das empresas”. A mudança está, de facto, bem definida, tal como é destacado por Luís Mota. Este papel central da sustentabilidade no contexto da logística é corroborado por Vítor Figueiredo, CEO da Logifrio, que concretiza com exemplos: armazéns que adotam energias renováveis, substituição de gases tradicionais por alternativas ecológicas e veículos movidos a biocombustíveis. Assim, ambos os operadores têm alinhado as suas estratégias com metas concretas de descarbonização. A STEF integrou este compromisso no seu plano Moving Green, que visa, entre outros objetivos, reduzir em 30% as emissões de co, da frota até 2030 e garantir 100% de energia com baixo teor de carbono õnos edifícios até ao final de 2025. Este compromisso materializa-se em ações muito práticas: viaturas euro-modulares (com mais de 50% de capacidade adicional), galeras 100% elétricas, uti-lização de HVO (Hydrotreated Vegetable Oil), rotas otimizadas e entregas desmaterializadas. “só assim poderemos continuar a ser reconhecidos como um operador de referência ”, assegura Luís Mota. Já a Logifrio, que aderiu ao programa europeu Lean&Green, atingiu a sua primeira estrela após reduzir em 20% as suas emissões. Entre as medidas adotadas estão “a otimização das taxas de ocupação dos veículos, a renovação da frota considerando os mais elevados padrões de eficiência, a compra de energia 100% renovável e a melhoria contínua dos sistemas de refrigeração”. Inteligência artificial: O motor da próxima revolução Mas a sustentabilidade também é uma questão de inteligência, literalmente, já que a inteligência artificial começa a ser uma aliada estratégica. A STEF integrou-a õnos seus processos através da ferramenta proprietária STEF AI, usada diariamente na “gestão das operações, no dimensionamento de recursos ou mesmo na definição de forecasts ”, detalha Luís Mota. E na Logifrio, ainda que num estágio anterior, já se dão também os primeiros passos com testes-piloto e a reformulação dos sistemas TMS, WMS e ERP, com vista a facilitar a execução de IA e a otimização da cadeia. “Contamos com equipas de IT dedicadas ao desenvolvimento de soluções de melhoria contínua, personalização e processamento de Big Data, com foco principal na otimização em três áreas principais: económica, lead time e ambiental”. Garantir a integridade da cadeia térmica em tempo real é um imperativo absoluto. Quem gere produtos congelados não pode, de facto, errar. A margem de falha é nula e o rigor deve ser absoluto. A temperatura é um elemento-chave, quer na sua manutenção , evitando variações não desejáveis ao longo de toda a cadeia , quer na sua salvaguarda em momentos operacionais mais críticos, como no processo de carga e descarga. Na STEF, a frota foi equipada com GPS e sistemas de monitorização, em tempo real, das temperaturas, garantindo total rastreabilidade durante o transporte. As plataformas também contam com sistemas integrados de gestão de temperaturas com métodos de alarmística. A Logifrio, por sua vez, segue a mesma lógica. As tecnologias mais relevantes para manter a integridade da cadeia estão focadas principalmente na eficiência energética em todas as operações, garantindo e assegurando a rastreabilidade em todos os momentos”, garante Vítor Figueiredo. A empresa atua com certificações IFS Logistics e BRC Storage and Distribution, garantindo uma total transparência e uma abordagem sistematizada e normalizada dos procedimentos”. Mas não se trata apenas de tecnologia. “Na base de todo o processo estão aS pessoas, estando as nossas equipas devidamente formadas e sensibilizadas para um tema tão relevante e crucial na nossa atividade” , assegura o diretor comercial da STEF. Congelados em casa? Possível e cada vez mais normal Até porque a explosão do comércio eletrónico veio colocar novos desafios à distribuição de congelados. Hoje, entregar produtos congelados à porta do consumidor, com segurança e eficiência, já não é uma miragem, mas requer uma rede robusta, tecnologia de ponta e, acima de tudo, coordenação precisa. Mais do que um sistema de transporte, a manutenção da cadeia de frio em ambiente B2C, com entregas em casa, exige precisão, comunicação e flexibilidade. A cadeia de frio para este tipo de produtos requer exigências específicas. A começar pelas infraestruturas, que devem garantir condições adequadas para armazenamento e pontos de consolidação. Ao nível do transporte, dispor de uma frota adaptada e ca-paz de assegurar a cadeia de frio, com especial foco nas entregas last mile”, sublinha Luís Mota. A STEF considera estar preparada: “temos uma frota dimensionada e adaptada aos vários canais de distribuição, assegurando uma distribuição assertiva e segura independentemente do canal”, assegura o gestor. No canal B2C, “damos especial atenção à coordenação dos horários de entrega, sendo crítico garantir que o consumidor final está disponível para receber a encomenda”. Como tal, a visão é clara: a reinvenção logística está apenas no início. Vítor Figueiredo alerta que há ainda muito a fazer na logística relacionada com o comércio online” e sublinha que “a inovação passa por responder às tendências e ter uma oferta mais completa na cadeia de abastecimento”. A complexidade cresce com a multiplicação de canais, mas a Logifrio acredita que a tecnologia pode articular omnicanalidade, sem redundância de stocks nem ruturas. Centralizar ou automatizar? Ambos Segundo ambos os operadores, o futuro da logística de frio vai, então, passar por uma inevitável centralização estratégica e por um salto em automação. Se há alguns anos a dicotomia era entre centralizar ou descentralizar operações, hoje a questão já é outra: como automatizar inteligentemente, respeitando a especifcidade do frio? Luís Mota é claro: a automação é crucial. “Temos vindo a incorporar soluções que nos ajudam a agilizar aS operações, nomeadamente os rolls automáticos para receção e expedição de mercadorias, estantarias dinâmicas, entre outras” Embora reconhecendo que as soluções de automação são mais restritas e mais onerosas no ambiente de frio, o diretor comercial da STEF considera que compensam com redução dos erros e maior fabilidade. Do lado da Logifrio, a visão também é de convergência entre automatização e sustentabilidade. Acreditamos que os desenvolvimentos recentes no domínio da inteligência artificiai serão um verdadeiro game changer que irá acelerar, de forma muito significativa, o futuro da logística” afirma Vítor Figueiredo. A facilidade com que os sistemas se integram hoje torna “mais fácil abrir frentes de desenvolvimento e poder ter equipas a trabalhar em simultâneo em várias peças de uma estratégia global”. A logística de congelados tornou-se uma frente estratégica e reputacional para as marcas. A exigência é assinalável: manter a temperatura, reduzir emissões, garantir rastreabilidade, entregar em casa, em tempo útil, e ainda preparar o futuro digital. E tudo isto num sector que é estrutural para a segurança alimentar. Como resume Luís Mota, a crescente preocupação dos consumidores com a qualidade e segurança dos alimentos pode impulsionar, cada vez mais, a procura por produtos congelados entregues em condições adequadas”. Em Portugal, o sector está em rápida transformação e, mais do que um extra, a sustentabilidade é, hoje, a matriz sobre a qual tudo se constrói A explosão do comércio eletrónico veio colocar novos desafios à distribuição de congelados. Hoje, entregar produtos congelados à porta do consumidor, com segurança e eficiência, já não é uma miragem, mas requer uma rede robusta, tecnologia de ponta e, acima de tudo, coordenação precisa CARINA RODRIGUES