SUV: AMADOS POR CONSUMIDORES, DETESTADOS POR AMBIENTALISTAS
2025-06-16 21:05:32

Em 2024, os SUV (Sports Utility Vehicles) confirmaram o seu domínio nas estradas europeias. Com 6,92 milhões de unidades vendidas, atingiram uma quota de mercado recorde de 54% - mais do que quadruplicando a sua presença face a 2010, quando representavam apenas 12% do mercado. Este crescimento rápido e contínuo faz dos SUV o segmento automóvel com maior expansão na Europa. Contudo, este fenómeno de popularidade acarreta consequências ambientais. A crítica central prende-se com o facto de os SUV serem, por definição, veículos maiores, mais pesados e menos aerodinâmicos do que os automóveis de passageiros convencionais. Estas características implicam consumos energéticos superiores - mesmo nos modelos elétricos. No caso dos SUV movidos a motores de combustão interna, isso acarreta maiores emissões de dióxido de carbono (CO?). Mais pesados e gastadores, os SUV são um entrave à redução global de emissões de CO?. A associação ambientalista Zero, que integra a Federação Europeia de Transportes e Ambiente, alerta que, apesar da crescente presença de híbridos plug-in e elétricos neste segmento, os SUV continuam a ser um dos principais entraves à descarbonização dos transportes na Europa. A emissão média real ponderada de todos os SUV vendidos na UE27 em 2024 é de aproximadamente 159 g/CO?/km, valor muito acima do novo limite de 93,6 g/CO?/km que a União Europeia impôs a partir de 2025 para as frotas de veículos novos. "Este desvio significativo afasta o setor automóvel da trajetória de redução de emissões compatível com os compromissos climáticos europeus e internacionais", afirma a associação. Se fossem um país, seriam o 5.º maior poluidor do mundo O problema dos SUV não se limita à Europa. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), no final de 2023 existiam 360 milhões de SUV em circulação no mundo, responsáveis por mil milhões de toneladas de CO? emitidas num único ano. Se fossem um país, os SUV seriam o quinto maior emissor de dióxido de carbono do planeta, atrás apenas da China, dos EUA, da Índia e da Rússia - superando inclusive países como o Japão, a Alemanha e o Irão. Entre 2022 e 2023, os SUV foram responsáveis por mais de um quarto do aumento da procura mundial de petróleo, com o seu consumo a contribuir com cerca de 600.000 barris adicionais por dia. Este tipo de veículo pesa, em média, entre 200 a 399 kg a mais do que um carro de passageiros equivalente, o que se traduz num aumento de cerca de 20% nas emissões de CO? durante a condução. E mesmo os SUV elétricos não escapam às críticas: devido ao seu maior tamanho e peso, consomem mais energia do que os veículos elétricos convencionais e requerem mais matérias-primas, incluindo minerais críticos como lítio, cobalto e níquel para as baterias, que são também maiores. A resposta política e regulatória A AIE recomenda que os governos tomem medidas concretas para inverter esta tendência, nomeadamente ajustando as normas de eficiência energética com base no volume dos veículos. Alguns países já começaram a agir: França, Noruega e Irlanda estudam ou aplicam legislação para desincentivar a compra de SUV. Cidades como Paris e Lyon implementaram tarifas de estacionamento mais elevadas para este tipo de automóveis, penalizando o espaço e impacto ambiental que ocupam. No panorama atual, mesmo com o aumento das vendas de elétricos, o caminho da sustentabilidade automóvel parece cada vez mais dependente de uma mudança de paradigma: abandonar a obsessão pelo "maior é melhor" e apostar em veículos mais leves, eficientes e adequados ao contexto urbano e climático do século XXI. Paulo Marmé Paulo Marmé