RISCO DE AUMENTO DOS AUTOMÓVEIS DESCARTÁVEIS É REAL
2025-03-06 22:05:42

Osetor automóvel está a sofrer alterações significativas, uma vez que, até 2050, não deverão existir mais veículos a combustão nas estradas. Esta mudança conduz a uma obsolescência acelerada do atual parque automóvel e a uma eletrificação progressiva do mesmo. A duração de vida dos veículos é atualmente estimada em 19 anos, mas a regulamentação que abala o setor automóvel acelera a sua obsolescência. Para substituir os veículos antigos, as políticas públicas incentivam a compra de veículos elétricos novos. Na Europa, a opção política atual é a de eletrificar o parque automóvel através de normas e de incentivos económicos. Uma vez que os novos veículos de combustão e híbridos deixarão de ser autorizados no mercado europeu a partir de 2035, quase todos os construtores propõem atualmente uma gama de veículos elétricos. Quando utilizados, estes automóveis consomem eletricidade, que, à primeira vista, é menos cara e menos poluente do que os hidrocarbonetos na Europa. Por conseguinte, são um trunfo na luta contra o aquecimento global. No entanto, a sua produção é mais cara e o seu fabrico tem um maior impacto carbónico do que a produção de carros a combustão, devido à bateria. Além disso, a produção de veículos elétricos implica outros tipos de impacto que devem ser tidos em conta na avaliação da pegada ecológica total do setor. Assim, para promover a mobilidade sustentável, a durabilidade e a possibilidade de reparação dos veículos elétricos são um pré-requisito da transição. De um modo geral, o setor enfrenta problemas relacionados com a desmontagem dos veículos, o acesso a peças e componentes sobresselentes e a redução dos serviços pós-venda por parte de alguns fabricantes. O risco de um aumento dos “automóveis descartáveis” é real. As novas vias adotadas por alguns fabricantes, que dão prioridade a custos de produção mais baixos em detrimento da possibilidade de reparação dos veículos, não devem tornar-se a norma. Por último, a presença crescente de eletrónica e software a bordo, que faz com que os veículos conectados se assemelhem a “smartphones sobre rodas”, aumenta o risco de obsolescência do software e torna mais complexas as reparações fora das redes aprovadas pelos fabricantes. As consequências destas práticas afetam os consumidores, que não têm noção do custo total da propriedade de um veículo no momento da compra. Os agentes económicos que compõem o ecossistema da economia circular também podem ser afetados (reparação, recondicionamento, mercado de segunda mão, etc.). Em certos aspetos, os fabricantes de automóveis europeus estabelecidos podem ser considerados vítimas destas práticas. O que está em causa é a sua forte competitividade face aos veículos elétricos vendidos a preços atrativos por um punhado de concorrentes americanos ou chineses, que fazem baixar a qualidade. A indústria automóvel é um negócio a longo prazo. No entanto, isso não deve ser sinónimo de inércia ou de inação face aos sinais preocupantes de uma trajetória insustentável. O que é preciso fazer agora é lançar as bases das boas práticas da economia circular do parque automóvel elétrico, que vai substituir os motores de combustão, para combinar menos emissões de CO2, respeito pelos consumidores e produção responsável.