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TURQUIA VAI A ELEIÇÕES PARA DECIDIR SE QUER MUDAR DE REGIME

NOVO

2023-05-13 07:02:07

ÇÕES I I R Mais de 6 ilhões de Riscos estão egistados para irem as urnas este domingo, para escolher entre a continuidade e 3 mudança. Numa sociedade muito polarizada, no ano em que se comemorará o centenário da república. o resultado é imprevisível. mesmo se as sondagens indicam alguma vantagem do candidato da oposição. A questão é saber se é confirmada a mudança no poder e se esta resultará em instabilidade ou se Erdogan, no poder há 20 anos, se eterniza ecep Tayyip Erdogan está há duas décadas no poder. na Turquia, primeiro como primeiro-ministro, depois como Presidente, e formatou o país recuperando a economia, com a pro moção do investimento em construção e infra-estruturas. e reabilitando o orgulho turco e uma dimensão internacional do país que o posicionou como uma potência regional. com voz própria e capacidade de intervenção. Erdogan transformou também a Turquia numa autocracia alterando o quadro político, retirando poder ao Parlamento para o concentrar na Presidência, procurou subalternizar o poder judicial face ao político, promoveu a erosão da secularidade do regime e reprimiu a oposição. E é este legado que os partidos da oposição. reunidos no apoio a uma candidatura, de Kemal Kiliçdaroglu, líder do Partido Popular Republicano (CHP). querem reverter nas urnas este domingo. As sondagens têm indicado consistentemente que Kemal Kiliçdaroglu está à frente de Recep Tayyip Erdogan nas intenções de voto e a última sondagem do Instituto Konda - que previu a vitória de Erdogan e do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) em 2018 -, divulgada a 11 de Maio. atribuía 49,3% a Kiliçdaroglu e 43,7% a Erdogan. Este estudo ainda incluía Muharrem Ince. que conquistava 2.2% das preferências mas que desistiu da corrida na quinta-feira, o que os analistas consideram poderá beneficiar o candidato da oposição. Um quarto candidato, Sinan Ogan, regista 4.8% das intenções de voto, de acordo com o mesmo estudo. Se nenhum obtiver mais de 50% dos votos. realizar-se-á uma segunda volta a 28 de Maio. No caso das legislativas, as projecções indicam uma vantagem muito ligeira da coligação liderada pelo AKP, de Erdogan. face à coligação liderada pelo CHP. de Kiliçdaroglu, sem que nenhuma das duas esteja perto da maioria absoluta. "As causas desta expectativa na mudança são essencialmente três, e todas relacionadas: o descontentamento com um sistema político crescentemente ditatorial e limitador de direitos e liberdades fundamentais; uma inflação galopante em consequência de uma política macroeconómica pouco ortodoxa, com péssimos resultados; e. a gota de água, as fragilidades de um sistema nepotista e corrupto exposto pelos terramotos, na ausência de capacidade de uma resposta eficaz no auxílio à população", diz ao NOVO André Matos, professor de Relações Internacionais da Universidade Portucalense. É verdade que a economia turra continua a crescer, tendo registado uma progressão de 5.6% no ano passado. abrandando para 2.7% neste. segundo as estimativas do Fundo Monetário Internacional. mas a evolução tem sido afectada por uma inflação dramática. Em Abril. a taxa anualizada foi de 43,7%, ainda que tenha sido a mais baixa desde Dezembro de 2021, depois de ter superado os 85%, o valor mais elevado de todo o consulado de Erdogan. Jovens com peso As eleições turcas são. tradicionalmente. muito participadas, com uma afluência média superior a 82%, mas estas serão diferentes, devido à participação dos jovens, muitos deles a votar pela primeira vez. "Celta de 70% [dos 64.1 milhões de eleitores registados] são jovens com menos de 34 anos, dos quais cerca de 5.3 milhões votam pela primeira vez. Assim sendo, o nível etário é uma variável a ter em conta no resultado, sendo previsível que tanto na eleição presidencial como nas legislativas, o Presidente em exercício e a coligação que o apoia sejam penalizados, em nome do desejo de mudança próprio da juventude de um país de regime autoritário". diz ao NOVO José Filipe Pinto. professor de Relações Internacionais da Universidade Lusófona. A diáspora turca representa cerca de 3.5 milhões de eleitores. metade dos quais na Alemanha. "Tradicionalmente. a diáspora tem votado maioritariamente em Erdogan e no AKP, um voto justificado pelo orgulho decorrente da progressiva afirmação internacional da Turquia - veja-se o papel desempenhado nos acordos do Mar -- --! Negro -. mas também pela obra feita por ErdoTEXTO Ricardo Santos Ferreira gan na modernização das infra-estruturas viárias e de saúde", refere José Filipe Pinto. "Porém, a forma caótica como o Governo respondeu ao recente terramoto aponta no sentido de uma quebra de confiança da diáspora em Erdogan", aponta. A Turquia foi atingida por dois sismos. em Fevereiro, que provocaram, segundo as autoridades, 50,5 mil mortes, mais de 107 mil feridos e mais de 1,7 milhões de desalojados. Calcula-se que mais de 160 mil edifícios tenham colapsado, provocando a contestação por causa da fraca construção e da deficiente fiscalização, mas também da reacção governamental à situação de emergência. No entanto, a própria oposição reconhece que Erdogan é uma "máquina eleitoral", muito forte em eleições. Venceu duas corridas presidenciais. três referendos para alterar a Constituição e cinco eleições legislativas. -- Mudança dentro e fora Se Recep Tayyip Erdogan, conservador e populista. for reeleito, André Matos considera que não haverá mudanças dignas de registo. "Tudo leva a acreditar que dê continuidade à sua agenda conservadora tanto do ponto A oposiçào reconhece que Erdogan é uma "maquina eleitoral". Venceu duas corridas presidenciais, trés referendos para alterar a Constituição e cinco eleições legislativas de vista interno político, com a manutenção de um regime crescentemente ditatorial, de matriz islâmica, como, a nível económico, insistindo na desvalorização da lira para tornar as expor- tações turcas competitivas, mas com os efeitos potencialmente devastadores para a economia, nomeadamente ao nível da inflação e do custo de vida." Em Março, a lira caiu para um mínimo de 19 anos face ao dólar norte-americano, cotando a 18,9620 por dólar. A moeda turca perdeu 30% do seu valor face ao dólar no ano passado e 44% em 2021. A nível internacional, manten-do-se Erdogan no poder. Matos prevê "a continuidade de uma política externa de afastamento do Ocidente e da ligação transatlântica em prol de uma tentativa de reforço da sua influência no Médio Oriente, com parcerias reforçadas com a Rússia e Estados do Oriente". Já no caso de ser Kemal Kiliçdaroglu eleito, são esperadas alterações na politica interna e externa. "apesar da heterogeneidade da coligação que o apoia e de ser xiita num país maioritariamente sunita", diz José Filipe Pinto. "Haverá, seguramente, uma maior abertura no que concerne às liberdades e garantias indi ximidade com o Ocidente, promovendo relações mais estreitas com a União Europeia ELJE1. os Estados Unidos da América e a NATO", aponta, mas Pinto diz que não é expectável ainda o retomar das negociações para a Turquia aderir à UE. Esta mudança de paradigma implicará, necessariamente, algum distanciamento do lado que contesta a ordem global mundial nomeadamente a Rússia. a China e o Irão. "Para o Ocidente, é um ganho muito importante, particularmente agora, que a tensão do sistema internacional liberal vigente se encontra perante o desafio da guerra na Ucrânia. a agressividade russa e o incontestável poder chinês. Seria um contrabalançar muito interessante em termos sistémicos", refere Matos. Neste quadro. a questão que se tem colocado é se. confirmando-se uma vitória da oposição. a transmissão do poder será serena ou resultará em instabilidade. "É previsível que o derrotado não reconheça o vencedor e, sobretudo se Erdogan perder. a instabilidade terá tendência a acentuar-se", diz José Filipe Pinto. "É algo que não representa uma novidade, conhecida que é a dificuldade dos populistas - veja-se os exemplos de Trump e Bolsonaro - em assumir a derrota, mas que ganha maior acuidade quando figuras de topo temem the day after. conhecida que é a onda de corrupção que grassa na administração." "As manifestações e os confrontos de rua serão uma quase inevitabilidade", considera. Será um verdadeiro teste à democracia turca". finaliza André Matos. viduais, designadamente no que concerne à mulher, e uma aposta na clara separação de poderes, garantindo ao poder judicial a independência relativamente ao poder executivo. No plano económico, são esperadas medidas destinadas a resolver a grave crise económica com que o país se debate". aponta. Na política externa antevê-se uma mudança significativa. "Kiliçdaroglu é o candidato mais ocidental, afirma André Matos. "A sua eventual vitória está a criar uma grande expectativa no regresso da Turquia a uma maior pro Kemal Kiliçdaroglu, um xiita num país maioritariamente sunita, é considerado pró-ocidental e tem liderado consistentemente as sondagens