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BRASILEIROS ENTENDEM COMO RÍSPIDA A LINGUAGEM DIRETA

Negócios Online

2024-07-16 15:16:05

Portugueses que se destacam lá fora ajudam a descobrir onde estão oportunidades de negócios e que tipo de empresas e atividades o país pode atrair. Uma iniciativa que junta o Negócios e o Conselho da Diáspora Portuguesa. | Conselhos da Diáspora Jorge Santos Carneiro Dono e Presidente do Grupo IOB; Conselheiro da Diáspora Portuguesa no Brasil CV Função e empresa atuais: Dono e presidente da IOB. É sócio-fundador da Alpasión, uma vinícola na Argentina e investidor em empresas, maioritariamente nos segmentos de tecnologia e imobiliário, em Portugal e no Brasil. Local de residência: São Paulo. Síntese do percurso profissional e académico: Jorge Santos Carneiro é licenciado em gestão de empresas pela Universidade Portucalense e completou um MBA em comércio internacional na ESADE. Estudou liderança no INSEAD (COL - Chalenge of Leadership) e mais recentemente nos EUA na Yale School of Management (YGELP). Foi presidente da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham) por dois mandatos e, em 2019, foi nomeado Officer of the Order of the British Empire (OBE), uma honra concedia pela Rainha Elizabeth II. Trabalhou no The Sage Groups Plc durante 20 anos tendo atuado como presidente da operação em Portugal, como membro do Board da Sage Espanha e, de 2014 a 2020, como presidente da Sage Brasil e América Latina. Em 2020, adquiriu a operação da Sage no Brasil e transformou a empresa na IOB. É membro do Quadro do Embaixador do Reino Unido no Brasil e membro do Conselho da Britcham. É sócio fundador da Alpasión, uma vinícola na Argentina. Em dezembro de 2022, foi nomeado Conselheiro de Portugal no Mundo, em um evento com a participação do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. Com essa nomeação, Jorge passou a integrar o Conselho da Diáspora Portuguesa, que tem o propósito de estreitar as relações entre Portugal e a sua diáspora, portugueses e luso-descendentes residentes fora do país há mais de três anos. Questionário elaborado e revisto por Paulo Morgado Coordenador dos Núcleos Regionais da Europa e Ásia da Diáspora Portuguesa 1. O que o/a levou a sair de Portugal? 2. Que vantagens ou desvantagens lhe trouxe o facto de ser português/a? 3. Que obstáculos teve de superar e como o fez? 4. O que mais admira no país em que está? 5. O que mais admira na empresa/organização em que está? 6. Que recomendações daria a Portugal e aos seus empresários e gestores? 7. Em que setores do país onde vive poderão as empresas portuguesas encontrar clientes? 8. Em que setores de Portugal poderiam as empresas do país onde está querer investir? 9. Qual a vantagem competitiva do país em que está que poderia ser replicada em Portugal? 10. Pensa voltar para Portugal? Porquê? 1. O que o/a levou a sair de Portugal? Em 2012, enquanto eu presidia a unidade da Sage, em Portugal, a multinacional avaliava a expansão de mercados, e surgiu a oportunidade de iniciar a operação da empresa britânica no Brasil. Aceitei esse desafio e, de lá para cá, pude vivenciar diversas experiências marcantes no país. De entre elas, destaco i) o período no qual fui presidente da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham) por dois mandatos; e ii) em 2019, quando fui nomeado Oficial da Ordem do Império Britânico (OBE) - uma honra concedida pela Rainha Elizabeth II para personalidades que fazem a diferença -, facto que muito me orgulha. Em 2020, a Sage decidiu focar sua estratégia em países onde poderia comercializar as suas soluções globais, o que, em algumas regiões, não era possível, pelas particularidades legais e fiscais de cada local. No Brasil, a Sage tinha apenas uma solução global, com muito pouco peso na operação local, sendo todos os outros produtos totalmente locais. O cenário tributário brasileiro tem diversas particularidades legais que impediam a implementação dos produtos globais. Por isso, a Sage decidiu então sair do Brasil. Na sequência desta decisão, tive a oportunidade de adquirir a operação da Sage no Brasil e desenvolver a empresa a partir das nossas soluções de conteúdo e software locais. 2. Que vantagens ou desvantagens lhe trouxe o facto de ser português/a? É notório que existe uma forte conexão entre Brasil e Portugal. Ao longo do tempo, o Brasil acolheu grandes ondas de imigração portuguesa. Isso nota-se no dia a dia, na arquitetura, na história, na gastronomia, na língua e em tantos outros detalhes. Apesar de existirem diferenças aqui e acolá, como no acento e na cultura, por exemplo, se olharmos para o lado das semelhanças, vemos como isso encurta caminhos e facilita o processo de adaptação. A perceção dos brasileiros em relação a Portugal mudou muito e muito positivamente nos últimos 10 anos, por várias razões. No entanto, o facto de ser português, que fica rapidamente evidente pelo meu sotaque, sempre foi um belíssimo cartão de visita. Os brasileiros sempre receberam com muito carinho os portugueses, que, como eu, para cá vieram morar. Sobre as desvantagens, uma delas foi achar que, por ter visto várias novelas brasileiras, sabia falar o português do Brasil e descobrir que isso não era verdade. Trocava o limão pela lima, dizia que precisava de uma camisola porque estava com frio, percebi que metade daquilo que eu dizia, as pessoas não compreendiam. Sendo que, pela sua cortesia, não me diziam que não tinham percebido. Mas, ainda que o idioma seja o português, há muitas diferenças na língua falada em cada país, o que causa diferenças de entendimento e até mesmo algumas situações engraçadas. 3. Que obstáculos teve de superar e como o fez? Logo de início, lembro-me de uma diferença cultural desafiadora: o brasileiro tem um jeito simpático, cordial e, no geral, quer agradar ao outro. Em outras palavras, é difícil para o brasileiro contrariar seu interlocutor, dizer "não" ou até "não sei". Ao mesmo tempo, entendem como ríspida a linguagem direta e objetiva dos portugueses. E, quando falamos em gestão, isso torna-se um desafio. Em algumas situações, quando é necessário saber exatamente o que está a acontecer para tomar decisões, esse modo de suavizar os fatos atrapalha. Levei um tempo até entender como lidar com isso. 4. O que mais admira no país em que está? As belezas naturais são lindas e dispensam comentários. Além disso, admiro muito as pessoas, a energia, o entusiasmo e a vibração que elas transmitem no dia a dia. Recentemente, tive uma experiência única ao desfilar numa escola de samba no Carnaval do Rio de Janeiro. Em tempos tão tecnológicos, em que todos estão sempre conectados, as milhares de pessoas fizeram o esforço de se privar de usar os seus telemóveis para não comprometer o desempenho da escola na avenida, seguindo a orientação dos organizadores. Cada pessoa ali tinha um papel único na missão de fazer aquela escola ganhar. Todos com a canção da escola na ponta da língua, organizados, esforçados. Um verdadeiro sentido de comunidade admirável, indescritível. Eu não tinha noção de como era e fiquei muito comovido com o que vivi ali. 5. O que mais admira na empresa/organização em que está? Certamente admiro as pessoas e, principalmente, a atitude delas. Enquanto líder de uma equipa com mais de 1.000 colaboradores, é muito prazeroso compartilhar do entusiasmo de cada um. Os brasileiros têm uma forma de expressar a sua alegria e gratidão que é muito efusiva e generosa. 6. Que recomendações daria a Portugal e aos seus empresários e gestores? Uma vez no Brasil, sê brasileiro. Muito mais importante do que criticar o que é diferente, é desfrutar do muito que o Brasil nos proporciona. 7. Em que setores do país onde vive poderão as empresas portuguesas encontrar clientes? O Brasil é um país enorme e apresenta uma vasta gama de oportunidades de negócios em diversos setores. O segmento de serviços, por exemplo, vem crescendo cada vez mais e há oportunidades em transportes, logística e comércio. O segmento de turismo também oferece inúmeras possibilidades de negócios. 8. Em que setores de Portugal poderiam as empresas do país onde está querer investir? Eu vivo em São Paulo, que considero ser a cidade onde se tem as melhores experiências gastronómicas do mundo. A excelência vai desde a qualidade da comida, passando pela decoração do espaço, até ao serviço atencioso e alegre, cordial. Creio que os brasileiros já estão a influenciar as nossas áreas de serviço em Portugal, e acredito que isso possa ser muito positivo para o desenvolvimento do turismo no nosso país, contribuindo para a excelência das experiências que podemos oferecer aos viajantes. 9. Qual a vantagem competitiva do país em que está que poderia ser replicada em Portugal? Eu acredito que a principal vantagem competitiva do Brasil é a sua dimensão: é um país extenso, com grande população, o que é impossível replicar em Portugal. Talvez valha aqui também a referência ao elevado índice de adoção das ferramentas digitais - como, por exemplo, WhatsApp e redes sociais - pela generalidade da população brasileira, que geralmente é muito recetiva a inovações. 10. Pensa voltar para Portugal? Porquê? Na verdade, nunca deixei Portugal. Divido-me, com muito prazer, entre Portugal e o Brasil, sendo que estou sempre desejoso de ir a Portugal quando estou no Brasil e de voltar ao Brasil quando estou em Portugal. Vou a Portugal com muita frequência - tenho família, amigos e negócios por lá, assim como em outros países. Negócios 12:00