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HÁ CADA VEZ MAIS CARROS ELÉTRICOS NAS ESTRADAS DA EUROPA, MAS EM PORTUGAL NEM POR ISSO: SÓ REPRESENTAM 0,9% DOS VEÍCULOS NA ESTRADA

Expresso Online

2024-05-31 21:15:08

Vítor Andrade Coordenador de Economia Carlos Esteves Jornalista infográfico Cristiano Salgado Ilustrador Como está a correr a transição para a mobilidade elétrica? Será que um dia todos iremos trocar o nosso velho carro a gasóleo ou a gasolina por um elétrico ou mesmo por um híbrido? Se está naquela altura em que às vezes dá por si a olhar para o seu velho carro e a equacionar se ainda vale a pena continuar a gastar dinheiro com ele nas idas à oficina ou se será melhor comprar um carro novo, seguramente que também já colocou a si mesmo a outra questão (do momento): avanço já para um carro elétrico? Há uma vasta gama de fatores a considerar antes de fazer a escolha (já lá vamos) mas, só para ter uma ideia, no passado mês de abril, em Portugal, 2823 pessoas deram esse passo e no conjunto dos primeiros quatro meses do ano foram vendidos 12.247 carros elétricos em território nacional. TOP 10 DE MARCAS QUE MAIS VENDERAM EM 2023 Em milhões de veículos Dentro das fronteiras da União Europeia entraram no mercado mais 108.552 novos carros elétricos apenas no mês de abril e, a nível global, os dados mais recentes - da EV Volumes - apontam um total de 10 milhões de veículos 100% elétricos vendidos durante todo o ano de 2023. O registo deste tipo de veículos a nível europeu aumentou 17% em relação a 2022, enquanto na China as vendas cresceram 36% em 2023. Já nos Estados Unidos e no Canadá o crescimento homólogo foi de 46%. Num primeiro olhar sobre esta autêntica bateria de números é quase impossível ficar indiferente ao que se está a passar e facilmente se constata que estamos aqui perante uma tendência ou mesmo uma mudança de paradigma no que respeita à mobilidade automóvel. E podemos ainda acrescentar que, de acordo com a Agência Internacional da Energia (AIE), em 2023, se registaram mais de 250 mil novos carros elétricos por semana, mais do que o total anual de 2013, dez anos antes. Os automóveis elétricos representaram cerca de 18% de todos os carros vendidos durante o ano passado, contra 14% em 2022 e apenas 2% cinco anos antes, em 2018. “Estas tendências indicam que o crescimento permanece robusto à medida que os mercados de automóveis elétricos amadurecem”, pode ler-se ainda no último relatório da AIE, publicado há poucas semanas, intitulado “Tendências nos Carros Elétricos”. VENDAS DE VEÍCULOS ELÉTRICOS E HÍBRIDOS Em milhões Ora, acontece, porém, que nas estradas da União Europeia circulavam 252 milhões de automóveis ligeiros de passageiros em 2022, de todos os tipos de motorizações, mais 1% do que no ano anterior - e estes são os dados mais recentes apresentados em fevereiro pela Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA, na sigla em inglês). Nesse relatório conclui-se, no entanto, que apenas 1,2% dos carros em circulação, àquela data, eram elétricos. Ou seja, ainda estamos na infância desta nova forma de mobilidade. Em Portugal, o cenário é ainda mais redutor e a percentagem de carros movidos a eletricidade em circulação é mais baixa do que no conjunto da UE: apenas 0,9% do total, segundo a ACEA. Nos primeiros quatro meses do ano, foram vendidos 12.247 carros elétricos em território nacional. Os preços elevados e as limitações da autonomia entre carregamentos ainda afastam muitos potenciais compradores Ainda segundo a mesma fonte, o país europeu com maior percentagem de carros elétricos nas estradas é a Noruega, onde já representam 20,8% do total. No espaço da UE, apenas seis países têm uma percentagem de carros elétricos superior a 2%, com destaque para a Suécia, com 4% da sua frota automóvel eletrificada. Claro que, no nosso dia a dia, cruzamo-nos frequentemente com carros elétricos nas estradas por onde andamos, especialmente da marca norte-americana Tesla, que é também a mais vendida não apenas em Portugal como a nível global (ver infografia). Só nos primeiros quatro meses deste ano a marca fundada pelo multimilionário excêntrico Elon Musk vendeu 3339 carros no mercado nacional, mais do dobro do seu competidor mais próximo - a BMW, com 1273 unidades comercializadas. VENDAS ANUAIS DE VEÍCULOS ELÉTRICOS... Em milhares, entre janeiro e abril de 2024 ...E HÍBRIDOS EM PORTUGAL Em milhares, entre janeiro e abril de 2024 Mas a Tesla, que em 2023 liderou o mercado global, com 1.808.600 carros vendidos, mais 39% que no ano anterior, segundo a Car Industry Analysis, trava agora uma luta titânica com a sua grande rival: a chinesa BYD, com as vendas já na casa das 1.586.900 unidades e com um crescimento de 81% face ao ano de 2022. A marca chinesa chegou mesmo a ultrapassar a Tesla no último trimestre do ano. E se somarmos os elétricos e híbridos, a BYD rondou os 3 milhões de unidades. A indústria automóvel chinesa lidera, aliás, de forma clara a venda de automóveis elétricos à escala global. Basta notar que no top 25 das marcas mais representativas neste segmento, mais de metade são chinesas. Pelas contas da consultora EV Volumes, no final de 2023 deveriam estar em circulação - em termos acumulados - 40 milhões de carros eletrificados à escala global, 70% dos quais totalmente elétricos e 30% híbridos. “Para 2024, esperamos vendas de 17,8 milhões de automóveis eletrificados, um crescimento de 25% em relação a 2023, com os elétricos puros a atingirem as 12,8 milhões de unidades, e os híbridos 5 milhões”, concluem os analistas daquela consultora internacional. VENDAS DE VEÍCULOS ELÉTRICOS EM PORTUGAL Em milhares, entre janeiro e Abril Perante tanto otimismo, importa, porém, notar que, de acordo com um levantamento recente realizado pelo centro de estudos Observador Cetelem, apenas 20% das intenções de compra acabam por se concretizar. Tudo por causa do preço. Sim, o custo dos carros elétricos, em geral, é 35% a 40% superior ao dos carros a diesel ou a gasolina, de acordo com uma consulta feita pelo Expresso a algumas marcas presentes no mercado automóvel nacional. Essa diferença é especialmente notada nos segmentos médio e médio alto do mercado. Nos nichos topo de gama a paridade de preços praticamente já existe. A apetência pelos elétricos é compreensível pois, em termos de gastos com consumos, ao fim do mês, essa opção pode representar uma conta quatro vezes inferior àquela que nos é apresentada se formos utilizadores de um carro com motor a combustão, tendo em conta os preços atuais no mercado dos combustíveis. O verdadeiro ganho surge quando se carregam as baterias do carro elétrico em casa, numa tomada doméstica, na tarifa bi-horária, em que o preço médio do kWh ronda os EUR0,13, sendo que o gasto final nos 100 quilómetros percorridos é de EUR2,18. Se o carregamento for igualmente feito em tomada doméstica, mas em tarifa simples, com um preço médio do kWh na ordem dos EUR0,20, o custo por 100 quilómetros sobe para EUR3,31. O percurso mais caro para os mesmos 100 quilómetros é o que é feito por um carro a gasolina, que gasta, em média, EUR10,76. Se for num carro a gasóleo é ligeiramente mais barato, e pode rondar os EUR9. Em matéria de consumos, parecem restar poucas dúvidas: a opção pelo carro elétrico compensa. No entanto, ainda se levantam várias questões no momento da escolha. Desde logo, o preço. Como ficou dito atrás, os carros elétricos podem ser 35% a 40% mais caros do que os carros com motor a combustão. Depois, coloca-se de imediato a questão da autonomia, que continua limitada, sobretudo para viagens, o que constitui um fator de stresse adicional para quem vai a conduzir. Associado a isto, há ainda a dificuldade nos pontos de carregamento. E para quem mora em edifícios sem garagem e sem pontos de carregamento por perto, os níveis de ansiedade tendem a aumentar. Ainda assim, é inegável que estamos perante uma tendência, mas continua a ser ajuizado ponderar bem todas as opções de motores disponíveis no mercado. Portanto, se tiver de trocar de carro, não se precipite. Eletrifique-se, sim, mas só se puder e, não se esqueça, um carro deve ser um objeto de liberdade e não uma fonte de preocupações.