EDITORIAL - FUTURO ELETRIZANTE
2024-05-30 21:15:31

Tudo parece conjugar-se para que tenhamos um futuro eletrizante. Ou, dito de outra forma, eletrificado. Em que proporção e a que prazo, é ainda uma incógnita. Os veículos elétricos são a face mais pomposa do processo de transição energética, mas será muito difícil (para não dizer impossível) atingirmos a neutralidade carbónica (e, posteriormente, o netzero) sem um mix energético completo, que contempla, já hoje, outras soluções avançadas (como os biocombustíveis, onde se incluem os combustíveis sintéticos e o biodiesel), que aproveitam as infraestruturas existentes e não implicam grandes alterações no estilo de vida dos consumidores. Será, porventura, utópico pensar-se que o parque automóvel possa ter apenas veículos 100% elétricos. Temos assistido, inclusivamente, a avanços e recuos por parte de alguns construtores nesta matéria. O ano de 2023 bateu todos os recordes de vendas de viaturas elétricas em Portugal. Segundo a ACAP (Associação Automóvel de Portugal), do total de veículos ligeiros de passageiros novos matriculados no ano passado (199.623), 18,2% foram elétricos (36.390), 13,6% híbridos p/ug-in (27.146) e 14,5% híbridos (28.859). Já entre janeiro e abril deste ano, dos 76.373 novos veículos ligeiros de passageiros vendidos, 12.247 foram elétricos (16%), 9.301 híbridos plug-in (12,2%) e 12.290 híbridos (16,1%). Segundo a UVE (Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos), o parque circulante de VE em Portugal situa-se nas 130.250 unidades (2010 a 2023). No caso dos PHEV, o número desce para 97.890 no mesmo período. Agora, façamos um exercício: peguemos nos 5,5 milhões de veículos que compõem o atual parque circulante no nosso país e dividamos por 236.053 (total de veículos vendidos em 2023, contemplando todos os segmentos e tipologias, considerando, para este efeito, que eram 100% elétricos). Seriam necessários 23,3 anos para termos um parque circulante só de VE. Ainda demorará algum tempo até que o aftermarket independente sinta o real impacto dos veículos elétricos na sua atividade e possa ver ameaçado o seu modelo de negócio como o conhecemos hoje. Liguemo-nos à corrente, sim, mas com as devidas precauções para não apanharmos um choque. ¦¦¦¦ Bruno Castanheira brunocastanheira@checkupmedia.com Bruno Castanheira