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QUE MOBILIDADE PARA BRAGA? - ENTREVISTA A TEOTÓNIO ANDRADE DOS SANTOS

Sim

2023-03-20 00:41:10

TEOTÓNIO ANDRADE DOS SANTOS ADMINISTRADOR DOS TRANSPORTES URBANOS DE BRAGA Os Transportes Urbanos de Braga (TUB) estão a recupe-rar passageiros, esperando--se que, em 2023, ultrapas-sem novamente a barreira dos 12 milhões de pessoas transportadas. É um número que espelha o investimento feito ao longo dos últimos anos na renovação da frota, na melhoria da oferta, na melhoria do acesso à informação e na redução e simplificação dos tarifários. Em breve, a frota receberá mais 30 unidades totalmente elétricas, um número que vai permitir à empresa melhorar o serviço, ser mais eficiente energeticamente e apostar numa mobilidade cada vez mais sustentável. Os projetos não ficam por aqui: a criação de serviços especiais demonstra como é possível criar soluções de mobilidade mais racionais e que vão responder a várias necessidades identificadas, nomeadamente, nos setores da hotelaria, restauração e indústria, algo que, de resto, já está a acontecer. Também em breve a cidade começará a mudar, com a instalação do BRT na cidade, um projeto que não vai substituir oferta, mas antes alargá-la e melhorá-la. Numa cidade com milhares de lugares de estacionamento para o transporte individual, muitos deles gratuitos, como se consegue fazer a transição modal para formas mais sustentáveis de mobilidade? "Os Transportes Urbanos de Braga têm de indicar o caminho para a mobilidade sustentável na região" Houve uma diminuição do uso do autocarro até 2013, para números bastante baixos [10.246.960 passageiros]. Depois registou-se uma recuperação para números a rondar os 12,5 milhões, antes da pandemia. Que trabalho foi feito para recuperar esses passageiros? Até 2013, os TUB vinham a perder passageiros, ano após ano. Desde 2013 até 2019, cresceram quase 22%, a uma média de cerca de 3,6% ao ano. Depois veio a pandemia e, como é óbvio, as pessoas ficaram retidas em casa e o número de passageiros caiu abruptamente para cerca de 7 milhões. Em 2021, foram 8,2 milhões os passageiros transportados e, em 2022, transportamos 11,2 milhões. Portanto, cerca de 90% do que era em 2019. E este mês de janeiro já foi muito bom, inclusivamente superámos o mês de janeiro de 2019 em cerca de 1%. Estamos novamente a crescer apostando na melhoria do serviço, no aumento da oferta, na redução do tarifário, na melhoria da informação e na promoção do serviço. É provável que se chegue novamente à barreira dos 12 milhões de passageiros? Se tudo correr normalmente, em 2023 vamos superar esse número. Vamos voltar a crescer e a conquistar mais clientes. Queremos que mais pessoas possam deixar o carro em casa ou nos parques mais afastados e que utilizem os transportes públicos. É por isso que estamos a melhorar a oferta. Já em Janeiro deste ano melhorámos a linha que liga a estação da CP à Universidade do Minho. Passou a ter uma frequência de dez minutos. Quando chegarem os 30 novos veículos elétricos - a previsão é recebê-los ainda primeiro semestre, vamos melhorar também as frequências dos circuitos urbanos, vão passar a ser de 20 minutos, quer a linha 40, quer a 41. E, depois, em Setembro, vamos lançar uma nova linha que liga o Hospital Privado de Nogueira à Universidade do Minho, pela Varian te da Encosta, evitando que as pessoas tenham de vir ao centro da cidade para irem para a UM, o mesmo acontecendo no sentido oposto, dando resposta a outras zonas da cidade que se têm desenvolvido muito demograficamente. Como é que se definem a abertura e frequência das linhas? É pela solicitação do público e das empresas ou é uma aposta dos TUB de que ali vai haver muita procura? Há várias formas. Nós temos uma equipa, que trabalha diretamente com a administração, e que está permanentemente a estudar a cidade de forma proativa e vai identificando necessidades de novas linhas, de reforço de linhas ou de melhoria de percursos. Depois, é preciso avaliar as propostas que resultam dessa avaliação, a renovação da frota e a entrada de mais frota para o serviço para realmente avançarmos. Repare: nós não estamos a substituir umas linhas por outras, estamos a aumentar a oferta. Em 2013, percorríamos cerca de 5,2 milhões de quilómetros; em 2022 fizemos 6,3 milhões e, em 2023, temos previstos quase 6,6 milhões de quilómetros para dar resposta ao aumento da procura. Ainda assim, e apesar de não haver um estudo que o comprove, parece-me que há mais carros no concelho. Sim, sem dúvida. Há mais carros, mas também há mais pessoas na cidade. A cidade cresceu muito mais do que que tinha crescido nos anos anteriores. Os últimos censos registam pelo menos 12.000 pessoas a mais no concelho... há muitos a utilizar o transporte coletivo, mas há muitos mais ainda a usar o transporte individual, temos de tentar captar, evitando que as pessoas vão cada uma no seu carro de casa para o trabalho ou para as deslocações do dia-a-dia. Em Braga, cada automóvel, em média, circula com 1,3 pessoas, portanto, é quase cada carro para transportar uma pessoa, o que não faz qualquer sentido. Há muitas cidades que utilizam os parques intermodais, um local onde se deixa o carro, usando o transporte coletivo para entrar na cidade, regressando à noite para ir para casa. Acha que o passageiro do Minho, nomeadamente o passageiro de Braga, está preparado para isso? Nós já estamos a fazer isso em algumas linhas, de forma informal. Temos parcerias com grandes superfícies, nomeadamente, E.Leclerc, Nova Arcada, Av. Robert Smith, onde as pessoas podem deixar o seu transporte individual. Começamos a testar este formato em 2014 nos grandes eventos da cidade, com muita procura nesses dias, e, então, decidimos lançar linhas em 2015 e 2016 para dar resposta diária a esse interesse. Há linhas que começam no E.Leclerc , de 20 minutos em 20 minutos, sete dias por semana. Há linhas que começam no Minho Center e Nova Arcada, e já notamos, com particular destaque no parque do E.Leclerc, que há várias pessoas a deixarem o carro e depois a fazerem o último troço de deslocação dentro do concelho, chamemos-lhe assim, em transporte público. É preciso fazer mais, muito mais, os habitantes de Braga habituaram-se a utilizar o transporte individual, porque dispõem das rodovias e parques de estacionamento que surgiram com o crescimento urbano - só no centro da cidade há 39 parque de estacionamento ... 39 parques é um número considerável. Os parques que se foram construindo ao longo de décadas no centro são um convite para a utilização do transporte individual. Esses parques raramente enchem durante o ano, apenas duas ou três vezes, por exemplo, na Noite Branca. Há sempre lugar para estacionar, é mais fácil levar carro. Fazer com que as pessoas percam este hábito leva tempo e é um processo demorado. Se analisarmos o crescimento de outras cidades na captação de pessoas para usarem os transportes públicos, estamos com números muito bons, mas ainda há muito trabalho a fazer, de melhoria e promoção do transporte publico coletivo. Acha que o cidadão do concelho de Braga já avalia a aquisição de viatura própria em função da existência ou não de resposta em termos de transporte público? Já vemos pessoas a pensarem nesses termos. Jovens que já não querem tirar a carta de condução, famílias que antes tinham dois carros e neste momento já só têm um. É uma transição que demora tempo, mas temos de dar resposta com transportes públicos de qualidade, eficientes, amigos do ambiente e confortáveis. Eu trabalho nesta área há quase 22 anos e, quando, há 20 anos, dizia a pessoas amigas que era preciso usar transportes públicos, diziam que eu era maluco [risos]. Muitos ainda não querem utilizar, mas, pelo menos, já não dizem que eu sou maluco. Entretanto, passaram 20 anos de educação, de sensibilização. Há mais notícias sobre alterações climáticas, acerca da necessidade de escolhermos um caminho de sustentabilidade, mas ainda há muitas pessoas que acham que toda esta problemática não é para eles, é para o vizinho. Temos de continuar a investir na sensibilização e a mostrar como é fácil, cómodo e rápido usar os transportes públicos, porque sabemos que vai dar frutos. Os TUB fizeram cerca de 2 milhões de kms em frota verde, desde Outubro de 2018, e transportaram mais de 5 milhões de passageiros em modo elétrico. Acha que as novas gerações, os passageiros de amanhã, valorizam estes dados? Interessa às pessoas, porque são cada vez mais sensíveis às questões ambientais, às questões energéticas e às questões das alterações climáticas. Dentro de poucos meses, teremos aqui mais 30 veículos elétricos para juntar aos 13 que já temos, num investimento de mais de 31 milhões EUR, dos quais 18 suportados pelos TUB. Estas novas viaturas vão ajudar a melhorar a qualidade da frota, a qualidade da oferta que proporcionamos aos cidadãos e contribuir para a descarbonização da cidade. Em termos de frota total, estamos a falar de cerca de 40% que vai passar a eletrificada? No final de 2023 cerca de 38% da frota em operação será elétrica. Serão 68 autocarros limpos, dos quais 43 elétricos e 25 a gás natural. AIM 11 SN» 1 20 "o chega ais 30 uto~o.s. t étricos" 1 cr 1 MOBILIDADE Ricardo Rio previu o BRT para 2025, um dos projetos em que os TUB estão envolvidos como não poderia deixar de ser. É uma meta aceitável? Como é que vai mudar a cidade, sabendo que, atualmente, quase não temos sequer linhas dedicadas (BUS) para os autocarros? BRT, como o próprio nome indica, significa Bus Rapid Transit. E um sistema de transporte em autocarro (sobre pneus), em via própria e dedicada, com validação no exterior. Essa validação exterior é realizada nas paragens, antes da chegada do veículo, de modo a permitira umenta ra velocidade comercial. Relativamente ao BRT de Braga conseguimos, em 2021, ter o apoio do então ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, e do primeiro ministro, António Costa, que nos incitaram a avançar, e que iria surgir uma "cal" direcionada para Braga. Sugeriram-nos avançar com todos os estudos necessários para prepararmos essa candidatura. Fizemos inicialmente um estudo preliminar e depois um estudo de procura mais aprofundado. Este estudo de procura teve como objetivo definir uma rede com os destinos de desejo. Para tal, utilizamos como base a procura que os TUB têm no concelho, a procura dos operadores interurbanos e a procura dos utilizadores da CP, porque são estas pessoas que já utilizam atualmente os transportes coletivos. Depois, foi necessário utilizar modelos matemáticos que avaliam o crescimento da procura com a implementação de um sistema deste tipo. Finalmente, e para complementar toda a informação adquirimos os dados de uma rede de telemóvel dos habitantes de todo o distrito com desagregação à freguesia. O que se pode fazer com os dados? Com estes dados podemos perceber as movimentações das pessoas, por freguesia, e conhecer a cada momento como é que as pessoas se deslocam - naturalmente, estes dados são anónimos, apenas temos acesso aos dados de mobilidade. Por exemplo, sabemos que, na freguesia de São Vicente, há x percentagem de pessoas que se deslocam para São Lázaro, em determinados dias e a determinadas horas; ou de Maximinos que se deslocam para o centro e por aí adiante. E um instrumento de trabalho muito importante, pois permite perceber os fluxos e comportamentos de mobilidade das pessoas, para de seguida sermos mais competentes na elaboração das linhas de BRT e nas linhas da rede regular. Atualmente, já concluímos o estudo de procura e estamos, neste momento, a estudar a possibilidade de inserção urbanas de quatro linhas de BRT, para perceber as complicações que existem e de que forma deve ser feita a implementação deste sistema na cidade de Braga. Vai modificar o aspeto da cidade, que por si já tem muitos constrangimentos. Nós queremos aliar a modernidade de um sistema que é similar a um metro de superfície a funcionar em via dedicada com uma cidade com 2000 anos. Não vamos demolir edifícios históricos para fazer passar o BRT... Estamos a trabalhara toda a força e empenho para estudar todos os parâmetros, ouvir as pessoas e preparar um projeto exequível, adaptado às necessidades da cidade, para poder candidatá-lo quando surgir a call que o Governo nos prometeu, e que prevemos acontecer durante o ano de 2023. Incluído no PRR? Não. Segundo a informação do Governo de Portugal será para enquadrar no Portugal 2030. Numa Avenida com três vias, parece ser mais fácil instalar a linha de BRT, mas como se vai fazer em Avenidas com apenas uma ou duas vias? Nas ruas ou avenidas com mais de uma via, pode ser instalado mais à direita ou ao centro, porque há menos obstáculos, menos interseções e menos constrangimentos, como entradas de garagens, entroncamentos ou cruzamentos. Nos outros casos estamos a fazer um estudo de inserção urbana rua a rua. Vamos pensar num exemplo prático: no sentido ascendente, a Rua 31 de Janeiro termina em duas ruas de uma via em cada sentido e em duas vias (Avenida Central e Rua do Raio) no mesmo sentido. O estudo que está a ser preparado não indica que todas as ruas tenham de manter a sua configuração ou os sentidos atuais. Ou seja, estamos a preparar um estudo em que, para além do BRT, é necessário que o resto do trânsito continue a fluir normalmente. Temos consciência de que apesar do incremento de procura que pretendemos, nem todos os cidadãos vão utilizar o BRT. Muitas pessoas vão continuara utilizar o carro e também a rede regular dos TUB. Rede regular essa que vai sofrer algumas atualizações porque não vamos operar em concorrência com o BRT, com percursos e horários sobrepostos. Tem noção de quantos autocarros se pode tirar da cidade com a instalação do BRT ou vão ser complementares com o BRT? Nós não vamos retirar a oferta, vamos aumentar e melhorar a oferta. Algumas linhas serão alteradas, porque pode não fazer sentido ter duas possibilidades com os mesmos horários para a mesma zona, mas globalmente haverá mais e melhor oferta em transporte publico no concelho de Braga, é esse o nosso foco. e MOBILIDADE 11~M1~11111 TRRIISPORTE5 UROM40.5 rlff RI2dif,1:1 . ~1§ 8k4004. crry Gou) ir "O BRT não vai substituir oferta, mas alargá-la e melhorá-la" UFIGÉ Cl 1111.11101 ETS,X24 TP Os autocarros podem circular nas vias do BRT? Estamos a estudar esse assunto. Em determinados pontos, sim, em outros não, porque também não queremos que ambas as frotas sobrecarreguem a via e degradem a velocidade comercial do BRT. Vai depender dos locais e das frequências que vamos implementar. O que vai mudar na operação dos TUB com a construção da linha de alta velocidade e as consequentes novas ligações que vão ser feitas? O que está previsto já há muitos anos, e que voltou a ser discutido ultimamente, é a estação da alta velocidade ser em Semelhe, mais concretamente no Lugar de Cid, que está identificado no PDM e nos planos nacionais como o local de paragem da alta velocidade em Braga. Aguardamos mais informações. Neste momento, não está ainda previsto que a linha de BRT faça essa ligação. Tendo em conta a oferta que prevemos para o BRT e o crescimento da cidade, só se justifica fazer essa linha depois de termos a certeza que a alta velocidade vai avançar e que a estação será mesmo naquela localização. Nos últimos tempos, surgiram algumas novas ideias, que indicam que a alta velocidade deveria terminar em Gondizalves.... Qualquer que seja a escolha, terá sempre uma linha de BRT a assegurar a ligação à cidade, mas deverá ser desenhada propositadamente até ao local escolhido e apenas quando as obras da alta velocidade começarem. É uma situação que não nos preocupa neste momento. Há outros problemas maiores para resolver[risos]. Não acha que, em vez de se falar de mobilidade de Braga, devia falar-se de mobilidade da região Minho, com uma rede de transportes públicos a ligar Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão? Penso que sim, temos de ter uma visão mais integrada. Já existe uma massa critica considerável nesta região que designamos por quadrilátero urbano. Porém, hoje, temos um panorama de transportes e mobilidade algo retalhado em termos de gestão, com as CIM do Cávado e do Ave, depois Braga e mesmo Barcelos, que querem ter um papel preponderante nesta questão. Os TUB, fruto do seu grande conhecimento, estão a apoiar a Câmara Municipal de Barcelos na área da mobilidade e dos transportes públicos. Temos mais 40 anos de experiência na gestão de redes e de transportes públicos. As Cl Ms não tinham qualquer experiência, estão a qualificar-se, para gerirem transportes públicos... porém, penso que o território e a população ganhariam se houvesse uma entidade supramunicipal, com know-how, que pudesse gerir os transportes e as questões da mobilidade de uma forma mais integrada, dando dimensão e consistência a todo este território. Estamos a falar de um território de mais de um milhão de pessoas, mas há muitas barreiras territoriais. Neste momento, nós estamos limitados às fronteiras do concelho, nem a Prado conseguimos ir. A linha de autocarro termina antes da ponte [de Prado], quando poderíamos ir um quilómetro mais à frente e evitar que os nossos clientes atravessassem a ponte ao frio, ao sol, a chuva, para apanharem o autocarro do lado de cá [de Braga]. Falta enquadramento legal? Vontade política? Há uma gestão local de cada de cada um dos seus territórios e, eventualmente, falta uma visão mais coletiva e mais integrada destes temas. Não faz sentido haver uma ligação até à Morreira, por exemplo, e depois não ter compatibilidade em termos de horário para prosseguir para Guimarães; ou vir nos transportes de Guimarães e depois não ter continuidade para Braga, porque não há ligação naquele horário. O utilizador não vai escolher aquela opção se depois não tem continuidade, para circular entre concelhos! Nos TUB estamos a tentar fazer esse trabalho dentro dos limites geográficos que nos estão impostos, por exemplo, percebendo e compatibilizando os horários com Comboios da CP ou na Estação de Camionagem com os operadores das outras redes de transporte que aí operam criando uma intermodalidade funcional... mas não podemos ir muito mais além. Uma das críticas que se fazia aos TUB há uns anos era a falta de informação disponível, horários nas paragens desatualizados ou errados, ou seja, faltava qualidade na relação empresa/ cliente. Foi uma das intervenções que achou prioritárias? Foi um caminho óbvio que teve de ser feito, mas não é possível fazer tudo ao mesmo tempo. Durante anos, congelámos os tarifários, reduzindo-os quando o aumento de clientes permitiu equilibrar as contas inclusive, em 2023, voltámos a baixar mesmo com o aumento da inflação e do custo geral de vida. Baixámos o passe de 30EUR para 28EUR s e, na coroa mais urbana, passou de 18EUR para 14EUR. Não pretendemos aumentar as receitas cobrando mais a cada cliente. Pretendemos, isso sim, alargara nossa base de clientes. Se o número de clientes aumentar porventura os tarifários até podem ser mais reduzidos. Apostámos na gratuitidade total para estudantes até ao 12.° ano e, em 2024, vamos alargar a medida aos estudantes universitários, ou seja, queremos que os mais jovens, os adultos de amanhã, tenham a possibilidade de usarem os transportes públicos e perceberem os benefícios. Nesse sentido, a questão da falta de informação era crítica e, por isso, apostámos na renovação de todas as paragens, no sentido de fornecer melhor informação aos nossos clientes. Por exemplo, com QRCodes para descarregar para o smartphone, com informação visual mais clara e precisa, com material refletor nas próprias paragens [e são quase duas mil], para se verem bem em alturas de pouca luminosidade. No sentido de melhorar o conforto, preparamos, também, com a Câmara Municipal, um caderno de encargos para um novo concurso de abrigos, porque chove muito em Braga e temos de melhorar as condições de espera. Estamos, também, na fase final de testes do Sistema de Ajuda à Exploração, que nos permite monitorizar em tempo real onde é que está cada veículo, se está atrasado, se está adiantado. Depois de implementado, essa informação estará disponível aos utilizadores, através dos painéis exteriores e numa app que vamos apresentar em breve. Continua 1 MOBILIDADE 99 "Estamos a investir muito na informação em tempo real para melhorar a experiência dos utilizadores dos TUB" A informação é um dos fatores fundamentais para melhorar a mobilidade dos territórios. Sem dúvida, mas também a confiança: o cliente tem de ter a certeza que o veículo vai aparecer e no horário previsto. Não podemos quebrar essa confiança. O pior que pode acontecer é o utilizador ir para a paragem e não saber se o autocarro vem ou não vem, nem quanto tempo demora. Se essa pessoa tiver um compromisso importante vai pensar duas vezes da próxima vez que quiser usar os transportes públicos. É imprescindível darmos essa confiança ao cliente. Num mundo como o que vivemos, já não faz sentido não haver informação em tempo real. Lisboa limitou a entrada de carros anteriores a 2000 em várias zonas. Acha que essa limitação também se pode aplicar em Braga, não só aos veículos ligeiros, mas também aos pesados de passageiros? A cidade de Braga é muito centrípeta, isto é, converge para o centro, pelo que vejo com muita dificuldade que isso possa acontecer. Temos é de fazer uma transição modal mais forte e mais rápida para modos de transporte mais sustentáveis, reduzindo deste modo a utilização do transporte individual. Mas há cuidado para enviar os autocarros mais recentes e elétricos para a zona central da cidade? Sim, nós tentamos colocar não só os melhores autocarros nas linhas de maior procura, mas também atender a outros condiciona lismos do percurso, consumos e outros indicadores. A nossa ideia, como disse, é renovar toda a frota e colocar na estrada apenas veículos amigos do ambiente. A cidade foi crescendo, com rodovias urbanas de grande velocidade a atravessá-la e muitos parques de estacionamento. Da forma como a cidade cresceu é difícil criar medidas muito restritivas. Queremos continuar a apostar na transferência modal, no entanto, não totalmente imposta, porque a cidade tem as suas particularidades - há hotéis, há espaços comerciais e respetiva logística, há investimentos que se fizeram e que precisamos respeitar. Que é preciso mais conforto e mais acessibilidade nos transportes públicos no acesso à cidade, não tenho dúvida nenhuma. De que forma é que a contratação de novos talentos para aqui por TUB e valorização de quem já cá estava, ajudou na sistematização e valorização da informação para tomar decisões? Já existiam muitas pessoas de grande valor aqui na empresa, mas a estes, fomos acrescentando outros com qualidade, que vieram trazer novos conhecimentos. Este mix de experiência permitiu criar uma equipa com muito know-how, que está sempre focada na melhoria contínua e orientada para os clientes. Contratámos motoristas, operários para a manutenção, revisores, engenheiros, técnicos de planeamento, informáticos, financeiros, agentes para os EUB, entre outros. Procuramos sempre os melhores técnicos para dar resposta aos desafios que identificamos. Temos, sem dúvida, uma equipa de grande qualidade que tem conseguido resultados extraordinários e únicos. Uma das preocupações dos empresários, nomeadamente das áreas da hotelaria e restauração, mas também da indústria, tem a ver com as dificuldades de mobilidade dos colaboradores em horários fora da oferta dos TUB e, também, ligação compatível aos concelhos vizinhos. Foi anunciada a possibilidade de criação de linha especiais ou serviços especiais pelos TUB. Como funciona? Já começámos a responder a necessidades concretas de empresários de várias áreas. Neste momento, já temos serviços dedicados para a Bosch e para a APTIV. Temos, também, serviços dedicados para o Centro Comercial Nova Arcada. Conseguimos, ainda, uma parceria muito interessante com o Parque Industrial de Pitancin hos, através de uma solução dinamizada pela DST, e que permitiu juntar um conjunto de empresários e que possibilitou encontrar uma solução para os trabalhadores dessa zona industrial. Através da realização de um inquérito conseguimos identificar necessidades de mobilidade e depois lançar uma oferta que, dentro do que era expectável, responde às necessidades. Este tipo de serviço tem vindo a crescer, abrangendo cada vez mais empresas. Estamos em vias de fechar com mais uma empresa de grande dimensão um serviço de transporte com especificidades próprias e temos cada vez mais solicitações. Inclusivamente, fazemos parte de um grupo de trabalho dinamizado pela Associação Empresarial Braga, no âmbito da hotelaria, e que tem como objetivo para os Transportes Urbanos de Braga conhecer melhor a realidade neste setor, identificar necessidades e, dentro das nossas possibilidades, dar respostas as situações específicas. As pessoas não podem pensar que vai haver um autocarro à porta de cada casa e de cada empresa. Tem de haver dimensão e raciona lidade. Tentamos que as nossas linhas sirvam a maior parte das pessoas, o utilizador comum, ao longo do dia, todavia, determinados nichos têm de ter uma resposta mais cirúrgica com um transporte flexível a pedido. Nesse sentido, começámos em Setembro o transporte de alunos com necessidades específicas, de vários municípios. Por via da delegação de competências do Estado Central aos municípios, a Câmara Municipal de Braga decidiu que seriam os TUB a organizar e gerir este transporte. Assim, as escolas de Braga, para além de alunos de Braga, acolhem crianças e jovens provenientes de vários concelhos do Minho. São cerca de 130 meninos provenientes de vários municípios e que representam um primeiro esforço dos TUB no lançamento de um transporte flexível por agendamento prévio. O resultado é muito satisfatório, dado que em anos anteriores, o Estado só assegurava o transporte no final de Outubro e nós, este ano letivo, no final de Setembro já estávamos a transportar todas as crianças. Agora, queremos generalizar esse serviço de transporte flexível para o resto da população, complementando a nossa oferta de transporte público regular com esta solução. Alargando-a, também, à restante população? Sim. Nós queremos garantir que, por exemplo, um cidadão de uma freguesia no limite do concelho possa virar jantar a Braga, possa vir ao cinema, possa vir com a família ao centro da cidade em qualquer dia, mediante um agendamento prévio com os TUB. Pode ser um táxi com três lugares, pode ser um minibus com nove ou dez lugares. Tudo depende da procura. O que não podemos fazer é ter um autocarro que gasta 50 litros aos 100km, a circular todos os dias do ano para uma determinada freguesia, quando apenas duas ou três pessoas querem essa solução e apenas três ou quatro vezes por mês. Quando colocamos um autocarro que não tem procura, estamos a desgastar o autocarro, temos de disponibilizar um motorista e estamos a poluir desnecessariamente. A nossa ideia é mudar o paradigma e pensar em dar resposta às necessidades que existem realmente. Querermos generalizar essa oferta durante o ano de 2023, ao concelho de Braga. Dessa forma podemos dar resposta, por exemplo, a empresários que têm trabalhadores com horários até mais tarde ou por turnos. Imagine: se hoje um trabalhador sai às 2h da manhã e, na semana seguinte, sai às 8h, não podemos ter uma resposta de transporte regular para esses horários, mas devemos criar um transporte especial, que responda àquela necessidade. Como poderá ser feito a gestão deste serviço? Estamos a testar plataformas para que os utilizadores possam interagir de forma fácil e rápida, mas que não seja apenas num contexto online, porque ainda há pessoas com alguma dificuldade de acesso a novas tecnologias. Estamos a pensar numa plataforma dedicada e, em alternativa, marcação por telefone, com pelo menos 24 horas de antecedência. É uma solução interessante para a população mais idosa. Sem dúvida. Se alguém quer ir a uma consulta, marca antecipadamente e nós organizamos o transporte. Hoje em dia já não faz sentido termos linhas a funcionar com um ou dois passageiros em alguns horários. Devemos ter uma oferta para essas áreas mais cirúrgica e nos horários em que a população efetivamente necessita. Um transporte adaptado à necessidade e à realidade. Porquê que os TUB subscreveram o Pacto de Mobilidade Empresarial? O Pacto de Mobilidade Empresarial de Braga (PM EB) é uma iniciativa promovida pelo BCSD Portugal e pela Câmara Municipal de Braga que visa contribuir para uma mobilidade mais sustentável no concelho de Braga e que teve o apoio do Sr. Presidente da República. A assinatura deste pacto permitiu às empresas signatárias reduzirem a sua pegada de carbono, ter acesso e partilhar conhecimento sobre mobilidade sustentável e melhorar as relações com outras empresas, organizações e instituições locais. Os principais objetivos são o ambiente, a inclusão, o bem-estar e a saúde e estão completamente alinhados com o trabalho que os Transportes Urbanos de Braga tem vindo a fazer nos últimos anos.