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DA ACADEMIA PARA O MERCADO, A PASSOS LARGOS

Visão

2023-05-18 06:01:13

Da Academia para o mercado, a passos largos As startups são o rosto do empreendedorismo, mas o espírito está a contaminar a Academia, cada vez mais orientada para antecipar as necessidades do mercado e formar as formações que se dizem do futuro, mas são já o presente P O R FÁT I M A D E S O U S A “R ecordo ainda jovem, em casa dos meus pais e em conversa à refeição, de falarmos de pessoas com iniciativa, pessoas que faziam/criavam coisas, projetos, negócios. Na altura, as palavras inovação e empreendedorismo não faziam parte do nosso léxico, mas, na verdade, era disso que estávamos a falar.” São palavras de João José Pinto Ferreira, diretor do MIETE , Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico, formação conjunta das faculdades de Engenharia e de Economia da Universidade do Porto (FEUP/FEP), que mostram como o empreendedorismo é transversal ao quotidiano, muito embora só recentemente o termo tenha saltado para a ribalta associado às novas empresas de base tecnológica. A leitura que o professor faz desta memória era de que, nessas conversas à mesa, a re?exão já se focava no empreendedor, no “motor que, com a sua iniciativa, liderava e fazia as coisas acontecer”. “Ao longo da vida, todos encontramos pessoas com iniciativa, são as pessoas que organizam os jantares, as idas ao cinema, que nos motivam para fazer coisas interessantes, desa?antes, diferentes”, comenta, num testemunho para a VISÃO. Esse ímpeto empreendedor transborda, muitas vezes, para a vida empresarial, dando forma a projetos inovadores, assentes em ideias de nicho, que fogem ao modelo tradicional de negócio e de investimento. Foi como se o empreendedorismo se tivesse pro?ssionalizado, sendo as startups a sua face mais visível. Mas o espírito empreendedor contamina também positi vamente as empresas já estabelecidas, mais convencionais. Como atesta Elisa Tarzia, vice-presidente da 351 , Associação Portuguesa de Startups, “o pensamento empreendedor, inovativo, pode mudar radicalmente a forma como as empresas trabalham”. Em que medida? Porque , responde , “pessoas com pensamento empreendedor e criativo ajudam as empresas e a sociedade a criar novas soluções para problemas, oportunidades e tecnologias que nem sequer existem nos dias de hoje”. Mas será que o espírito empreendedor se aprende e se ensina? E em que medida as instituições de ensino estão atentas a esta nova realidade e a incorporam nos seus planos curriculares e na sua oferta formativa? A Nova SBE reivindica esse contributo na aproximação do mundo académico ao mundo empresarial. Pedro Brito, associate dean para Formação de Executivos, assegura que a visão da faculdade está assente no princípio de que constitui “uma plataforma de desenvolvimento de talento e conhecimento para o mundo, impactando positivamente a sociedade”. “E, para tal, a proximidade estabelecida entre a escola e os parceiros corporativos tem permitido desenvolver não só uma cultura de inovação e de empreendedorismo, presente nos programas educativos, como respondido de forma e?caz a desa?os reais das empresas”, enquadra. Na sua ótica, as escolas têm um ativo muito importante que pode estar ao serviço da sociedade , os alunos. Sejam eles de mestrado, de doutoramento ou executivos. “São eles que, de forma direta, contribuem para a criação de valor”, a?rma, dando conta de alguns dos projetos que procuram responder às necessidades do mercado. Uma das áreas é o apoio à internacionalização das empresas, em que os alunos exploram temas como estratégia, marketing e análise de mercado, nos mais de 250 projetos realizados, por ano, na escola. No domínio da literacia ?nanceira, o centro de investigação de ?nanças desenvolveu um programa gratuito, “Finanças para todos”, que conta com mais de 12 000 inscrições e com o qual se pretende dotar os portugueses com mais e melhores ferramentas para gerir a suas ?nanças pessoais. Outro domínio relevante é o do acesso a talento: 70% dos alunos de mestrado da Nova SBE são internacionais, oriundos de mais de 90 países, o que dá às empresas acesso a talentos com uma educação de elevada qualidade, com vontade de trabalhar no mercado internacional. Noutro campo, o da competitividade das pequenas e médias empresas (PME), a Nova SBE está a desenvolver uma plataforma de mentoria gratuita, que possibilita o acesso a especialistas em áreas de apoio ao crescimento, da internacionalização ao ?nanciamento, passando pela transição energética e pela transformação digital. Em matéria de inovação, Pedro Brito destaca que o Nova SBE Innovation Ecosystem e o Nova SBE Haddad Entrepreneurship Institute trabalham com os “O pensamento empreendedor, inovativo, pode mudar radicalmente p a forma como as empresas trabalham” ELISA TARZIA Vice-presidente da 351 , Associação Portuguesa de Startups clientes do futuro, os alunos, assim como professores, especialistas, startups, empresas e outros stakeholders no processo de ideação e prototipagem de soluções de elevado impacto para as empresas parceiras. A importância dos alunos enquanto ativo ao serviço da sociedade é corroborada pelo diretor do MIETE, que não tem dúvidas de que a iniciativa e a criatividade acompanham uma grande maioria dos jovens e dos/as estudantes universitários/as em Portugal. “É por este motivo que considero da maior importância a formação em competências alinhadas com a criação de oportunidades de inovação e com o caminho realizado pelo empreendedor no lançamento de um novo projeto; seja o caminho realizado dentro de uma empresa existente ou na criação de uma nova”, realça. João José Pinto Ferreira acredita na promoção do “aprender fazendo”, no contexto de trabalho em equipas multidisciplinares , integrando estudantes com diferentes formações ,, usando, a cada passo, as técnicas e ferramentas mais adequadas, suportadas pela teoria e pelas melhores práticas. “O conhecimento e a prática, combinados, promovem a autocon?ança na construção futura de oportunidades”, conclui. É precisamente nesse “aprender fazendo” que se foca a JUNITEC , Júnior Empresas do Instituto Superior Técnico. De acordo com a presidente, Ana Matos, desde o primeiro ano de licenciatura até ao último ano de mestrado, os alunos têm oportunidade de, em cenários reais, aplicar os seus conhecimentos e desenvolver as suas competências académicas e técnicas. “Trabalhamos há mais de 33 anos no mercado real e diariamente incentivamos os nossos membros a olhar para a sociedade, os seus problemas e desa?os e a promover soluções realmente diferenciadoras e com impacto real na sociedade”, sublinha, evocando a colaboração com organizações como a Fundação Calouste Gulbenkian e o CeiiA , Centro de Engenharia e Desenvolvimento como fonte de oportunidade para a concretização de trabalhos de grande potencial. Ana Matos a?rma que o empreendedorismo sempre foi uma prioridade, “e hoje mais do que nunca”. E a prova disso é o Apollo, um programa de aceleração de startups, que conta com o apoio de “algumas das maiores referências do ecossistema do empreendedorismo em Portugal”, e que, pela primeira vez, é extensivo a toda a Universidade de Lisboa: trata-se do primeiro programa de incubação de estudantes para estudantes. “Acreditamos que temos o dever, a responsabilidade e o poder de fomentar uma cultura empreendedora na Academia, no mercado e na sociedade”, testemunha Ana Matos. A vice-presidente da 351 defende que “um ambiente académico que incentiva a mentalidade empreendedora e o pensamento criativo pode ser o impulso necessário não só para a formação de líderes visionários e solucionadores de problemas, mas também para se criar uma força de trabalho que seja a prova do futuro”. Por sua vez, o associate dean para Formação de Executivos da Nova SBE partilha a convicção de que as escolas têm uma oportunidade de criação de valor única na sociedade: “Quanto mais as escolas e empresas se unirem em torno dos principais desa?os societais, mais sinergias iremos criar para Portugal.” 84 VISÃO 18 MAIO 2023