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OS BONS NEGÓCIOS COM A TROCA DE CASA

Sábado Online

2023-09-28 14:43:06

A mudança contraria a crise: há famílias que agora vendem (bem) a habitação para comprarem uma maior , e ainda conseguem suavizar o crédito. Algumas revelam à SÁBADO como foi a transação. Mesmo em contraciclo e com juros em alta, há portugueses que estão a aproveitar para trocar de casa. Parece estranho? Nem tanto, se tiver em linha de conta que o imobiliário continua a valorizar e é possível fazer bons negócios com a habitação própria permanente. Até pode conseguir algum alívio, através de uma boa entrada para um novo empréstimo bancário, ficando com prestações mensais mais ligeiras. As trocas de casa fazem-se nos dois sentidos: upgrade (melhorar) e downgrade (reduzir), segundo Ricardo Guimarães, diretor da plataforma de dados Confidencial Imobiliário (CI). O upgrade, que é o que trata este trabalho, “acaba por ser uma oportunidade”, diz o economista. Perante a crónica falta de oferta, “o surgimento de construção nova mais cara acaba por contagiar o preço das casas usadas”. Ou seja, a usada “é uma boa base para alavancar a troca”, sobretudo para quem tem empréstimo bancário há mais tempo e, por conseguinte, mais amortizado. Claro que tudo dependerá da situação da família em termos de endividamento, mas tanto agentes imobiliários como vários clientes com quem falámos são unânimes em considerar que o mercado da troca de casa é uma boa solução. Basta ter alguns cuidados para garantir sucesso. Aliás, se é para mudar, que seja quanto antes, conforme defende Nuno Rico, economista da Deco Proteste: “Considerando alguns sinais de estagnação que estão a surgir em muitas economias, é possível que os preços dos imóveis sofram pequenas correções durante o ano 2024.” Três famílias acertam trocas das casas Vender bem para comprar melhor é o lema de três famílias, interligadas por transações imobiliárias sucessivas (trocas de casas usadas) ocorridas numa distância de 10 km, entre Paço de Arcos e Tercena, no concelho de Oeiras. O objetivo final foi sempre conciliar datas de escrituras, sem conflitos , as últimas decorreram depois do fecho de edição da SÁBADO, na 4ª feira, 27 de setembro ,, e, melhor ainda, não entrarem em sufoco financeiro pela subida constante das taxas de juro, pela 10º vez consecutiva, por ordem do Banco Central Europeu (BCE). Comecemos por Mariana Pinto, de 29 anos, e Tiago Marinho, 34, o casal que desencadeia a sucessão de trocas. Precisavam de mais espaço, não só pela bebé Matilde de 13 meses, como pelo regime de teletrabalho que ambos adotaram duas vezes por semana (ela é investigadora na área da nutrição e ele consultor financeiro). O seu T2 em Paço de Arcos, a 5 minutos de carro da praia, tornava-se apertado. A decisão de mudança surgiu naturalmente, em conversa à mesa de jantar com a prima de Mariana. Alexandra Silva, a familiar, diretora de operações da imobiliária Habita de Lisboa, lançou-lhes a ideia: e se avaliassem a casa? Uma vez que os preços persistem em alta, pelo maior custo de construção nova, pela demora nos licenciamentos e escassez de oferta , note-se que aumentaram 8,7% no segundo trimestre de 2023, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) ,, conseguiriam fazer bom negócio. Em três anos, desde que lá vivem, o imóvel de construção recente (2012) e dois lugares de garagem já tinha valorizado 30% (números redondos, valia 400 mil euros). Feita a avaliação, puseram-no logo à venda por 425 mil euros, em meados de março, para testar o mercado. Foi o melhor que fizeram. “Encontrámos primeiro comprador do que casa nova”, conta Tiago. Encontrar comprador primeiro Os principais interessados eram Alexandra Pedro e o marido, ambos de 29 anos, com uma filha de 14 meses (Constança) e a viverem num exíguo T1 de 30 m2. Quando viram aquele T2 de 102 m2, em maio deste ano, não vacilaram na proposta de compra. Mas sendo Tiago consultor financeiro e, como tal, pragmático nos números, preferiu não avançar no negócio enquanto não encontrasse casa à medida. A “tal” surgiu em julho, quando ele e a mulher se fixaram no anúncio do T3 de 116 m2 em Tercena. Com três varandas, era mais barato (anunciado a 390 mil euros, menos 35 mil do que a casa deles). “Fomos das primeiras visitas. Fiquei atento aos materiais, às eventuais humidades e se tinha domótica, como estores elétricos”, recorda Tiago. Mariana acrescenta: “Pareceu-me uma zona calma, com parques infantis , tendo a Matilde facilita.” Estavam prontos para a etapa seguinte, de negociação de preço. Entrou em cena a consultora deles, Catarina Silva, também da Habita e irmã de quem lhes tinha sugerido a troca de casa. Catarina rebateu o valor com o agente da outra parte até fecharem negócio por 385 mil euros. O preço médio de venda por metro quadrado em Tercena é de EUR2.650, segundo dados da Confidencial Imobiliário (CI) fornecidos à SÁBADO. Em simultâneo, Catarina, a mediadora, negociou a venda do T2 deles, em Paço de Arcos , zona onde o valor médio de venda ronda os EUR3.736/m2 (dados da CI). O casal que tinha mostrado interesse em maio (Alexandra Pedro e o marido) continuava à espera e rapidamente chegaram a acordo quanto ao preço: 398 mil euros (13 mil euros a mais do que o T3). A escritura foi feita a 18 de setembro. Tiago ficou agradecido à família de compradores por os terem deixado ficar mais uns dias no T2, até formalizarem a compra do T3 e revela que no novo empréstimo bancário recorreu a um intermediário de crédito e optou pela taxa fixa, de 3,8%. “Sentimo-nos mais seguros.” Têm motivos para tal, porque a taxa indexada à Euribor a 12 meses (a mais representativa em Portugal, sendo usada em 39,4% dos créditos à habitação) supera os 4%. O T3 em questão pertencia a Raquel Alcobia, que está noutra fase da vida: aos 49 anos já não precisa de tanto espaço. Divorciada e com um filho de 21 (Guilherme anda mais ausente de casa pelos amigos e pela namorada), prefere ganhar metros quadrados no exterior, num jardim para receber amigos e familiares. Passa do T3 para uma moradia, também em Tercena, com o mesmo número de quartos e dois pátios: um à frente, que vai ajardinar, e outro nas traseiras com barbecue instalado. Acordo para um final feliz A mudança das três famílias decorre já no próximo fim de semana, nos dias 30 de setembro e 1 de outubro. “Só com gente impecável é que se consegue um dominó destes. É superdifícil, todos os envolvidos recorrem a financiamento bancário que é um processo burocrático. Os portugueses continuam a fazer muitas trocas, mas nem sempre conseguem este upgrade”, avalia a consultora imobiliária Catarina Silva. A transição implica esforço de todas as partes. Os proprietários mais novos, Alexandra Pedro e o marido, que venderam o T1 em agosto passado por quase 200 mil euros, vivem temporariamente em casa de familiares. Os do meio, Mariana Pinto e Tiago Marinho, ultimam as arrumações para se mudarem para o T3: “Por dia, encaixotamos uma zona da casa e vamos deixando apenas as coisas essenciais.” A mais velha, Raquel Alcobia, bancária, vai para a casa dos pais (a 2 km) por uns dias, até assinar a escritura da compra da vivenda a 18 de outubro, 30% mais barata do que o T3. “Vai permitir-me um encaixe financeiro e fazer uma amortização do empréstimo. Vou ficar mais leve em termos de prestação: de EUR600 passo para EUR250 por mês”, conta Raquel. A experiência e as viagens levam-na à moda sustentável de destralhar. “Não faz sentido ter tanta coisa, nem preciso de tantos móveis para ter conforto. A idade traz o desapego dos bens materiais e a proximidade das pessoas, sobretudo dos pais que precisam da nossa companhia”, defende. E, como tal, encarou este processo com a tranquilidade possível. “Temos de estar preparados. Surgem contratempos que nos são alheios, mas o processo está a correr muito bem, está tudo sincronizado.” Casos como estes correspondem à “grande fatia do mercado”, nas palavras de Paulo Caiado (presidente da Associação dos profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal, APEMIP). Quer isto dizer que a transação pode estar , e está, na maioria das vezes , associada a “um teor sociológico”, acrescenta. Seja por nascimento, morte, casamento, separação, sucesso, ou insucesso no trabalho há inúmeros motivos que impulsionam à mudança de casa, que não somente o investimento e o lucro pela valorização crescente do mercado. No reabilitar é que está o ganho Do 10º andar de uma das torres do Restelo, as janelas rasgadas mostram a outra margem do Tejo, assim como o manto verde de Monsanto. São 200 m2 de construção robusta dos anos 80, numa estética datada onde não faltam azulejos floridos nos rodapés altos. Foi neste imóvel que a advogada Joana Azeredo Perdigão, de 34 anos, viu uma excelente oportunidade de troca e reabilitação posterior. “Gostei da luz, das áreas, da vista, dos quatro quartos espaçosos. Hoje em dia já não se encontra tanto espaço, a cozinha é gigante.” A odisseia envolveu obras profundas, intervenção de arquiteto e está prestes a terminar, em novembro. A pandemia fê-la perceber , tanto a ela como ao marido Tomás ,, que precisavam de uma casa maior. “Com a chegada do segundo filho tornou-se insustentável. Vendemos a da Lapa e mudámos para a dos meus sogros, que fica em frente àquela onde vivíamos.” Sendo o prazo médio para encontrar comprador de cinco meses , se o preço for ajustado ao mercado ,, no caso deles pode dizer-se que o processo foi supersónico porque só demorou um mês. O T2 de 115 m2 e dois lugares de garagem entrou no mercado a 12 de novembro de 2021 e a 13 de dezembro do mesmo ano foi sinalizado por uma portuguesa por mais de meio milhão (os antigos proprietários preferem não especificar valores), em contrato de promessa de compra e venda (CPCV). A escritura decorreu em abril do ano seguinte. Atualmente, o preço por metro quadrado de venda na zona é EUR5.003, de acordo com a CI. Neste segmento alto, mas ainda assim abaixo das casas de milhões, “as pessoas trocam de casa com alguma facilidade”, começa por dizer a consultora Carla Sá Fernandes, da imobiliária JLL, que vendeu o imóvel. Por exemplo, Joana e Tomás não chegaram a viver quatro anos nele. A agente corrobora: “Cerca de metade dos meus clientes são portugueses que fazem um upgrade da habitação própria permanente. Entre março e maio e outubro e novembro costumam ser meses fortes para a prospeção e troca de casa.” As tipologias mais trocadas são de T2 para T3, acrescenta, e o valor médio ronda os 750 mil euros. “Não adianta inflacionar”, insiste. Estrela, Campo de Ourique, Santos e Avenidas Novas são as zonas mais procuradas. No caso do apartamento da Lapa pesou a boa imagem, um ponto que Carla Sá Fernandes não descura aquando da divulgação para venda: “Eu e o fotógrafo estivemos mais de duas horas a arrumar a casa, a mudar tapetes, pusemos um na sala que não tinha, uma mesa que eles tinham na arrecadação. Tirámos molduras, objetos que não interessavam, quanto menos personalizada melhor.” Como valorizar o imóvel Quando uma família precisa de vender a habitação para comprar outra, deve primeiro pôr a sua à venda, “garantindo que durante o processo, e até encontrar uma nova, tem onde ficar, caso os timings não se coadunem”, recomenda Patrícia Barão, responsável do departamento residencial da JLL. Joana e Tomás assim fizeram. Continuaram à procura e em outubro de 2022 encontraram um T4 no Restelo (cujo preço médio por metro quadrado vendido na zona é de EUR4.905, de acordo com a CI). Escrituraram-no em janeiro deste ano a um preço que não revelam, apenas dizem que foi 50 mil euros mais barato do que o valor de venda do T2 da Lapa. Apesar de terem quase fechado negócio para a compra de uma casa no Rato, preferiram a do Restelo pela maior dimensão. Joana reforça: “Foi um upgrade em todos os sentidos.” Além de espaçosa, fica próxima do colégio dos filhos , Vasco, de 5 anos; e José Tomás, de 2 , e a 15 minutos de carro do trabalho de Joana. Desde abril, o apartamento está em obras. Contrataram um arquiteto amigo, Francisco Barosa, para o atualizar com um orçamento de 140 mil euros. Vão ter uma cozinha em ilha, o chão deixa de ser de pedra e passa a madeira, tornando-se mais acolhedor, as canalizações são trocadas, de uma das casas de banho fazem duas, a zona da lavandaria é delimitada por uma estrutura de ferro e vidro, entre outros pormenores que valorizam a casa. André Caiado, arquiteto, defende a medida: “A intervenção de arquiteto pode fazer toda a diferença, ao propor pequenas alterações do uso dos espaços interiores para uma melhor vida em família.” Recomenda ainda outras soluções para vários tipos de casas, como “rasgar vãos até ao pavimento para aumentar a iluminação natural, propor soluções de isolamento térmico, pelo exterior antes de voltar a rebocar e pintar.” Sobre os painéis solares vale a pena instalá-los, diz, porque além da sustentabilidade pagam-se “em menos de 6 anos”. Mais uma decisão acertada da família Azeredo Perdigão foi ter recorrido à taxa de juro mista no financiamento bancário, no caso fixa durante cinco anos e que depois passa a variável. Escolha que Nuno Rico, economista da Deco Proteste, diz fazer sentido porque nos últimos meses “têm vindo a ser propostas ofertas de taxa mista com valores muito atrativos, inclusive abaixo dos atuais valores da Euribor”. A importância da localização Há gaiolas com periquitos penduradas nas janelas, estendais de roupa e vizinhas à espreita , as que restam na zona onde o metro quadrado de venda é dos mais caros de Lisboa, EUR5.886 (referentes à freguesia da Misericórdia, segundo dados da CI). Alexandra Viveiros, consultora da Remax Collection, tem lá uma casa reabilitada de 75 m2 (área bruta) para investimento. Entre a Calçada do Combro e o Chiado, o T2 com azulejos pombalinos na sala tem estado arrendado (a última renda praticada foi de EUR1.200 por mês). Vagou no fim de 2022, então a coproprietária e o sócio decidiram pô-lo à venda. Desde 2017, quando o compraram, até agora o imóvel valorizou 26%. “Foi bom, porque tivemos o retorno do investimento com arrendamento”, conta Alexandra. Não faltaram interessados, quatro disputaram a compra. Alexandra admite que vendeu o imóvel mais caro do que o preço de mercado (EUR365 mil), precisamente pela reação da procura. A escritura será em outubro, com um espanhol que gostou da envolvente pitoresca e da proximidade do trabalho, no Instituto Cervantes, na Rua de Santa Marta. Reação previsível, no entender do arquiteto André Caiado, já que “a primeira e única máxima do imobiliário é a localização”. E justifica quão determinante pode ser para a troca: “Quem tiver uma casa numa destas localizações pode vender por um valor elevado, com o qual pode comprar outra casa que será por vezes maior, mais nova ou em melhor estado, noutra localização que não esteja tanto sob a pressão das luzes da ribalta.” Alexandra continua em busca da oportunidade para reinvestir, mas noutra zona. Uma ruína é a opção mais provável. “Lisboa está cheia de apartamentos para o segmento médio-alto, mas não são esses números que me interessam.” Desistiu do centro e viu casas nas zonas limítrofes por 250 mil euros, até chegar a Janas, em Sintra, que começa a estar na moda (o preço por metro quadrado de venda é de EUR3.047, dados da CI). Já tem uma em vista por aquele valor, que está muito degradada e tem jardim. Planeia reabilitá-la por 130 mil euros com obras no telhado, abertura de tetos, renovação da cozinha para estilo americano e da casa de banho. “A obra será de um ano, se der uma boa rentabilidade poderá ir para arrendamento. O valor final desta casa poderá vir a ser superior à de Lisboa.” Da compra em planta e permuta de casa Não perder 40 minutos nos engarrafamentos em hora de ponta na Circunvalação do Porto é ganhar qualidade de vida. Que o diga Filipe Moura, de 51 anos, CEO da Entrega Total/Doutor Finanças Antas, Porto (intermediário de crédito). Mora num amplo T3 em Pedrouços, com 149 m2, com a mulher e o filho de 24 anos, mas está farto do trânsito para o trabalho. “Aconselhei-me com duas agências imobiliárias para perceber o limite mínimo do valor da casa. Comparei com imóveis na zona vendidos recentemente”, conta, até estabelecer o preço de 324 mil euros. A casa está à venda há dois meses numa imobiliária local, a Rota das Casas, e recebeu oito visitas até à data, ainda que o proprietário não dependa financeiramente dela para avançar na compra da nova, em construção no empreendimento Antas Atrium. Portanto, não tem pressa na transação da usada, desde que a venda bem. “Existe uma confiança muito consistente que aponta para a continuidade da valorização, não se prevê perda de valor”, diz. A localização da nova permitir-lhe-á ir a pé para o escritório, que fica a nove minutos, assim como ao restante agregado que trabalha na mesma empresa. Há dois anos que o economista sonha com a mudança, foi dos primeiros a sinalizar a casa com 82 mil euros , 20% do valor do T3, de 411 mil euros, o restante será pago na escritura prevista no início do próximo ano. À época o projeto ainda estava em planta, quando o metro quadrado valia EUR3.600. Hoje em dia, naquela zona, Campanhã, o preço de venda do metro quadrado em imóveis de luxo é de EUR4.861 (dados do CI). Só por este pormenor já valeu a pena. “Bom investimento, para quem consegue e pode esperar”, diz. Sobre a construção, antes de sinalizar informou-se bem, analisou os currículos dos responsáveis da promotora imobiliária e o seu portefólio. “Agrada-me a qualidade de construção, as varandas e os serviços associados: ginásio, piscina interior, carregador elétrico na garagem, parque de bicicletas e zona arborizada com 15 mil m2.” Por estar na fase inicial, teve um bónus: a escolha dos acabamentos, das louças sanitárias das três casas de banho e a cor dos móveis de cozinha (em tons matizados). A primeira fase da obra , leia-se o primeiro bloco de 176 apartamentos , está quase concluída. Seguem-se mais cinco fases de construção, que António Rodrigues, diretor de marketing do Antas Atrium considera ser “o projeto residencial mais ambicioso ao nível nacional pela dimensão, localização e arquitetura.” Vai ao encontro dos clientes, muitos portugueses, diz, predominantemente de classe média e média-alta. “Tanto compram para residir como para investir.” Atenção à documentação Nem sempre o processo flui, quando a troca do usado para novo envolve um imóvel mais antigo, anterior a 1951. No caso, uma moradia de quatro pisos, numa zona nobre do Porto, cujos donos, um casal de idade, pretendeu vender para adquirir um apartamento moderno com todas as comodidades. Problema: o comprador da moradia recorreu a empréstimo e o banco “foi bastante exaustivo”, conta o consultor da Savills-Predibisa, Artur Pinto Leite, que representou os proprietários. “Todo o processo foi liderado por mim de modo a acelerar o que, de outro modo, teria sido bem mais moroso e colocaria em risco a aquisição do apartamento novo.” Teve de atualizar a certidão da conservatória predial e da caderneta predial, porque as áreas estavam desfasadas. Para o efeito, foi contratado um topógrafo certificado. A certa altura, também foi necessário recorrer ao arquivo histórico da câmara municipal para obter as plantas originais da moradia e uma licença de habitabilidade (de 1929 com um aditamento de 1931, descoberto na terceira ida ao arquivo). “Casos como este sucedem recorrentemente no setor”, diz. Permutas poupam impostos Não é comum dar a casa como moeda de troca à outra parte, sem ter de passar pelo calvário da venda , o que implica, conforme já foi referido, avaliação, anúncios, visitas, propostas, contrapropostas, etc. ,, mas aconteceu com Diogo Mota, de 32 anos, gestor, casado com a Joana Neves, 31, farmacêutica. “O construtor ficou com o nosso T3 e nós pagámos a diferença [62 mil euros] para aquisição do novo, também T3, de 245 mil euros”, explica Diogo. Mudaram-se em abril deste ano, quando a mulher estava grávida de sete meses (Duarte tem agora 4 meses). “Claro que acarreta stresse, mas como houve permuta o processo foi mais tranquilo.” A casa antiga tinha 96 m2, fora construída em 1997 e ficava em Valbom, freguesia do Porto. Esteve à venda por 190 mil euros, em outubro de 2022, recebendo cinco visitas de portugueses. No fim de dezembro, Diogo e Joana ficaram entusiasmados ao visitarem o apartamento a estrear e com mais área, 108 m2, em São Pedro da Cova, onde o preço por metro quadrado é de EUR1.403/m2 (dados CI). Foi então que o construtor lhes propôs permuta, já que traria benefícios às duas partes. A começar pelo empreiteiro, que negociaria a casa usada a um preço mais barato (183 mil euros). Para a família também seria vantajoso, porque o valor a pagar do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT) e do imposto de selo (IS) incidiriam sobre a diferença de valor dos dois imóveis permutados. “E se esta diferença for inferior a EUR97.064 ficará isento de IMT”, explica João Cardoso, consultor da Century 21 , Grupo Aliados II, que representou Diogo na transação. No caso, sendo o diferencial de 62 mil euros, Diogo e Joana ficaram isentos (pouparam cerca de 9 mil euros). Mas se por algum motivo, venderem o imóvel novo no prazo de um ano, ficam obrigados a pagar o IMT na totalidade, ou seja, “como se tivessem adquirido a casa por via de compra e venda tradicional [limitação imposta no Orçamento do Estado de 2023]”, explica o advogado especializado em Direito Imobiliário, Arcindo Pedro Moreira. No decorrer da transação, ao longo de três meses, a primeira deste tipo que o consultor João Cardoso acompanhou, houve apoio jurídico por parte da advogada da agência imobiliária. “A permuta aconteceu em março de 2023. Foi uma descoberta, fui-me informar mas não tinha conhecimento de nenhum caso”, diz Diogo, que também se aconselhou junto da advogada sobre o novo empréstimo bancário, a 40 anos. É certo que a prestação quase triplicou, pediram 170 mil euros, dentro da taxa de esforço máxima recomendável, a 35%, e optaram, como tantas famílias agora fazem, pela “paz” relativa da taxa fixa, a 3%. Porque à época, em fevereiro, a diferença entre esta e a variável não era muita. “Compensou, a taxa variável continuou a aumentar”, conta Diogo. Numa permuta com recurso a empréstimo, “o financiamento é mais fácil de ser aprovado”, continua o advogado Arcindo Pedro Moreira, porque o valor do empréstimo “é substancialmente mais baixo do que numa compra e venda normal.” De facto, Diogo diz que o banco “cooperou logo”. Contas feitas, o casal não podia estar mais satisfeito. Agora tem um lar com isolamento térmico e acústico, que o anterior não tinha, cozinha em ilha e máxima eficiência energética. “Deixámos de pagar 30 euros por mês pelo gás de esquentador. Passámos a ter bomba de calor, o que nos traz uma poupança acrescida no custo de eletricidade , agora pagamos EUR54 por mês, antes a conta era de EUR70 mensais.” Centralidade e chave na mão Numa década, Cristina Leite e a família numerosa , o marido e os cinco filhos entre os 17 e os 26 anos , trocaram cinco vezes de casa. Só a última foi a estrear. “As minhas filhas já perguntam, a brincar: Quanto tempo é que vamos ficar nesta? ”, conta a advogada de 57 anos. Cristina não esconde que gosta de obras na habitação própria permanente, de ver o “antes” e “depois” pelas intervenções que faz nos imóveis comprados com recurso a crédito bancário. “Adoro ver a transformação, as minhas amigas dizem que tenho jeito para decoradora. Em regra, muda-se para melhor”, diz. Luísa Azevedo Soares, consultora da imobiliária Lince, que já lhe vendeu três casas, corrobora: “Dá gosto fotografá-las. Vendi-lhe a última em menos de um mês, o comprador até quis ficar com a mobília.” Após a pandemia, em 2022, Cristina e a família regressaram ao centro de Lisboa. Já tinham vivido em São Bento (num T3+1) e nas Avenidas Novas (T5); depois experimentaram duas moradias em Cascais (sujeitas a obras), até se fixarem num T4 novo no Príncipe Real (onde o preço por metro quadrado de segmento alto vendido na zona é de EUR11.667, segundo dados do CI). Começaram numa casa de 450 mil euros e, pelas trocas sucessivas, chegaram à atual de 1 milhão. “Sempre que vendi as casas aproveitei o mercado estar em alta para fazer o upgrade”, assegura Cristina. Ganhou a vários níveis , tempo incluído ,, porque não perde horas no trânsito, como acontecia quando tinha de passar pela A5 (Lisboa-Cascais). Demora cinco minutos de carro a chegar ao trabalho e as filhas ficam perto das universidades. Mudança de casa e também de vida O IC19 é outra carga de nervos para quem vive na linha de Sintra. Lorena Sousa, 37 anos, conduziu naquela estrada diariamente durante oito anos, quando vivia no Cacém e trabalhava como técnica de emergência pré-hospitalar no INEM do hospital Amadora-Sintra. O marido, André Ramos, 34, assistente técnico, estava colocado em Carnaxide na Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. “Para entrarmos às 8h, tínhamos de sair de casa às 6h50. A falta de tempo começou a afetar a relação e tomámos a decisão de pôr a casa à venda”, conta Lorena. A moradia dos anos 70 com 115,9 m2 estava bem posicionada, junto de serviços e comércio. Acabou por ser vendida pela Remax Latina, a 31 de agosto de 2022, depois de muito disputado o preço com 12 propostas. Ficou por 305 mil euros. “Foi uma casa com muita procura, mas que até à baixa de preço não teve propostas [inicialmente estava à venda por 377 mil euros]. Após o ajuste de valor, teve uma adesão maior”, recorda a consultora Sónia Monteiro. O nível de urgência de fecho do negócio era máximo, já que o casal tinha pedido transferência profissional para Lagos e precisava de liquidez para comprar nova casa. Para acelerar a venda e criar um clima apetecível, Lorena espalhava ambientador pela casa e saía com a cadela de grande porte quando havia visitas. Por seu lado, a vendedora destacava os pontos fortes (a envolvente, área exterior, cozinha e WC do piso 0 remodeladas) e minimizava os fracos (proximidade do IC19, área dos quartos e o facto de estarem de origem sem renovações). “Nos quartos, mudámos a distribuição das camas e tirámos o máximo de ruído visual”, conta a vendedora Sónia Monteiro (agora na Century 21). Nesse verão, a família mudou-se para o Algarve , ainda sem pouso fixo. Arrendou um T3 por 700 euros mensais, uma pechincha em comparação com os valores praticados em Lisboa, e foi procurando casa mais barata do que a que tinha no Cacém. Nessa altura, Lorena engravidou , o agregado passou a cinco. Saindo do centro, descobriram uma moradia-oportunidade, T4+1, numa zona residencial, que compraram por 195 mil euros em março deste ano. Ali, o preço por metro quadrado de venda é de EUR3.404, segundo a CI. Desde então, tudo melhorou. Os filhos e a enteada de Lorena têm mais espaço. “Somos muito felizes e unidos”, diz ela. Os engarrafamentos de antigamente e o stresse associado parecem ter sido noutra vida, porque agora, diz o marido, levar os miúdos à escola é tranquilo: “Saímos às 8h10 de casa, o mais velho entra às 8h25, o do meio às 8h30 e eu chego ao trabalho às 8h40.” Prepare-se para as dores de cabeça O que dá trabalho no processo de troca: uma das proprietárias, Raquel Alcobia, explica o que passou na mudança do T3 para a moradia “Nem sempre os bancos aprovam com a rapidez que queremos” “Quando estamos a vender, muitas vezes somos surpreendidos porque a documentação está desatualizada” “No verão, os bancos e as repartições públicas não funcionam em pleno, por causa das férias” “Durante a transição, somos obrigados a pôr os móveis em casa de familiares ou em espaços arrendados, o que representa um custo acrescido” Em contagem decrescente: como fazer as mudanças de modo metódico Planeie, arrume e faça as contas para evitar o caos 1 mês , Antecedência com que deve começar os preparativos das mudanças. Desmonte cada divisão e limpe os objetos antes de os embalar. Identifique as caixas com os nomes dos bens; os frágeis devem ser rotulados como tal e embrulhados em papel de jornal ou panos. 10 km a 15 km , Intervalo médio de distância das mudanças, de acordo com 18% dos pedidos em território nacional, segundo a app de serviços Fixando. EUR6/h , Preço que as empresas de mudanças costumam cobrar. Compare orçamentos e escolha uma certificada e com seguro, caso haja algum dano durante o transporte. Os preços das casas aumentaram 8,7% no segundo trimestre de 2023, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). No mesmo período, registaram-se 9.696 transações na Área Metropolitana de Lisboa D.R. Saber negociar com os bancos: o que fazer e não fazer Compare as condições de crédito e faça as simulações *Certo: Se o novo empréstimo implicar o reembolso do crédito anterior com taxa variável, até ao fim de 2023 não pode ser cobrada a comissão por reembolso antecipado. *Certo: Nos novos contratos, os spreads devem ser negociados. Em média, estão abaixo de 1%. Os intermediários de crédito ajudam a negociar junto da banca. *Certo: Analisar o prémio (valor cobrado) do seguro de vida. A jurista da Deco Proteste, Magda Canas explica: “A generalidade das instituições bancárias penaliza o spread, caso o consumidor não subscreva os seguros associados ao crédito junto do banco. Contudo, existem situações em que a penalização sofrida na prestação é compensada pela diferença em termos de prémio, por subscrever os seguros fora do banco.” *Errado: Ficar-se pelo seu banco, sem comparar as condições de crédito de outros através de simulações. *Errado: Recusar produtos associados ao crédito, que ajudam a baixar o spread (como a conta-ordenado, débitos diretos, etc.) Truques para vender bem e saber comprar o imóvel usado com o máximo critério Pinte as paredes da sua e veja se há fissuras na outra Vendas: , As paredes devem estar impecáveis: nada de buracos (ao retirar os quadros), tão-pouco rachas, diz Patrícia Barão, responsável pelo segmento residencial da JLL. Molduras e objetos pessoais são para guardar. O arquiteto André Caiado vai mais longe: “Se quiser ir ao extremo, tenha um bolo no forno a cheirar bem quando os possíveis compradores forem ver a casa. Resulta ao nível do subconsciente...” , Não pôr a casa à venda em muitas imobiliárias. A advogada Cristina Leite recomenda três, no máximo. É importante a proximidade do comércio local, transporte e serviços que são úteis (escolas e supermercados), idealmente até 15 minutos a pé. Compras: , Caso opte por casas mais antigas, o arquiteto André Caiado indica vários cuidados: “Procure fissuras nas paredes; bata com os nós dos dedos no reboco, um som oco não será bom sinal. , Verifique se não tem cheiro a fungos. Se tiver cheio a bafio, tem humidade e terá infiltrações.” É obrigatória a apresentação da Ficha Técnica de Habitação, segundo o consultor Artur Pinto Leite. Trata-se de “um documento que descreve todos os elementos técnicos e funcionais de um edifício urbano habitacional, transmitidos após a conclusão de obras de construção ou reconstrução.” Descubra as Edições do Dia Publicamos para si, em dois períodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana Raquel Lito 07:00