A Famel, a histórica marca portuguesa, fez a sua tão esperada estreia europeia no EICMA 2025, apresentando o modelo final da E-XF, o seu primeiro motociclo elétrico. O objetivo da Famel é liderar a mobilidade elétrica acessível, alinhando a nostalgia do design clássico com a engenharia moderna europeia. o modelo E-XF, inspirado na icónica XF-17, foi exibido nas variantes Café Racer e Classic. Embora se enquadre na categoria L3e (equivalente a 125 cc), visando condutores com licença A1 ou B com mais de 25 anos, a Famel aposta num motor de 5 kW, com velocidade máxima limitada a 100 km/h. A autonomia é de até 120 km, alimentada por até duas baterias removíveis de 1.8 kWh. A Famel, que destacou o facto de a E-XF ser “Produzida em Portugal”, aposta no grande diferencial da marca, que é a acessibilidade: o preço estimado para entrada na Europa ronda os 6500 EUR. Este valor é mais baixo do que o praticado pelos modelos premium de alta potência, permitindo à Famel competir com motos 125 cc a combustão de gama média/alta, promovendo o seu baixo custo operacional (“menos de 1EUR para 100 km”). As primeiras 100 unidades da E-XF têm entrega prevista para o início de 2026. Além da E-XF, a Famel revelou também um preview de um conceito de scooter elétrica, indicando uma estratégia de expansão para o crescente mercado da mobilidade urbana. A edição de 2025 da Exposição Internacional de Motociclos (EICMA) realizada em Milão, foi amplamente anunciada como a mais ousada e tecnologicamente avançada da história do evento. Este salão consolidou o facto de que a eletrificação na indústria de duas rodas ultrapassou a fase da mera micromobilidade e do commuter básico. Os lançamentos apresentados demonstr am um foco intransigente em design, desempenho e crucialmente, tecnologia de segurança de nível automóvel, redefinindo o que significa "motociclo elétrico” para o mercado europeu. Atendência de crescimento acentuado dos veículos elétricos na Europa, impulsionada por políticas de mobilidade urbana mais restritivas e incentivos fscais, está a obrigar os fabricantes a acelerar a sua transição. O EICMA 2025 serviu como a montra europeia essencial para a passagem de meros conceitos para modelos de produção L3e (equivalente a 125cc ou superior) e de alta performance, que estão preparados para começar a ser presença constante nas estradas de Portugal e do resto da Europa a partir de 2026. A nova vaga de modelos sublinha que a ênfase mudou da simples autonomia para a combinação do prazer de conduzir, a integração de sistemas inteligentes e a sofisticação tecnológica. Esta evolução, no entanto, resulta num aumento do preço e da complexidade destes novos veículos. TEXTO PEDRO OCHÔA 0 FOTOS MARCAS, EICMA FAMEL A AJP, fabricante portuguesa com um longo historial em motos de enduro e todo-o-terreno, marcou presença no EICMA 2025 para revelar os protótipos avançados da sua primeira investida elétrica de alta performance: a Fulgora. A AJP demonstra que as marcas nacionais estão prontas para competir em diferentes segmentos do mercado L3e. A Fulgora destacou-se pela sua elevada autonomia declarada, com a marca a prometer cerca de 250 km com uma única carga, posicionando-a num patamar de desempenho superior. Foram apresentadas duas variantes do protótipo: uma versão Scrambler e uma mais tradicional naked, visando testar a receção do mercado a diferentes estilos. A previsão de comercialização está agendada para março/abril de 2026, com a AJP a planear uma série inicial limitada de cerca de 1.000 unidades no primeiro ano, sinalizando uma entrada cautelosa, mas estratégica, no mercado europeu premium. AUP HONDA A presença da Honda no EICMA 2025 marcou um momento decisivo, com a fabricante japonesa a desvendar a versão de produção do seu primeiro motociclo elétrico para o mercado europeu: a Honda WN7. Este lançamento é um pilar da estratégia de eletrificação da Honda, que visa alcançar a neutralidade carbónica em todos os seus produtos até à década de 2040. A WN7 é o modelo de produção final derivado do “ EV Fun Concept apresentado no EICMA do ano anterior. O seu nome (w de Be the Wind, N de Naked e 7 de classe de potência) reflete a ambição de criar uma moto emocionante. A Honda está a posicioná-la para oferecer um desempenho comparável a uma moto de 600cc. As especificações impressionam: o motociclo está equipado com um motor refrigerado a água de 18 kW (nominal), capaz de gerar um pico de 50 kW e um binário robusto de 100 Nm. A WN7 suporta carregamento ultrarrápido (ccs2, padrão automóvel), permitindo que a bateria passe de 20% a 80% em apenas 30 minutos. A autonomia estimada é de mais de 130 km e chega ao mercado em fevereiro de 2026. ULTRAVIOLETTE A Ultraviolette reforçou no EICMA 2025 a sua ambição global, apresentando o novo motociclo X-47 Crossover e a scooter de alta performance Tesseract. A Ultraviolette estabelece o radar como o novo padrão de segurança no segmento L3e. A X-47 Crossover é o primeiro motociclo a integrar o radar de série. Este sistema, denominado UV HyperSense, trabalha em conjunto com câmaras onboard para oferecer sistemas avançados de assistência ao condutor (ADAS), incluindo monitorização de ponto cego, assistência à mudança de via, alertas de ultrapassagem e aviso de colisão traseira. A X-47 é uma máquina de alto desempenho, com um motor que gera 40 cavalos e 100 Nm de binário, permitindo uma velocidade máxima de 145 km/h. A autonomia é flexível, com opções de bateria de 7.1 kWh (211 km de autonomia) ou 10.3 kWh (323 km de autonomia). Embora o preço de lançamento na india seja atrativo (cerca de 2500 euros), o preço europeu não é ainda conhecido. YADEA E NIU No núcleo da moto há um hub digital construído em torno do chip Qualcomm Snapdragon QWM2290 (específico para motociclos), que permite uma integração de conectividade 4G, Bluetooth e Wi-Fi. Esta capacidade de processamento de nível automóvel é fundamental para O VCU (Vehicle Control Unit), que consegue orquestrar milhares de combinações de modos de condução, ajustando continuamente os parâmetros de desempenho e otimizando a entrega imediata de binário. Em termos de segurança e controlo, o FF.S6 oferece ABS de ângulo de inclinação sofisticado, que pode ser totalmente desativado. O ecossistema estende-se a uma app complementar e integração com smartwatches, permitindo recursos como operação sem chave e diagnósticos remotos. O preço para a Europa e a data de comercialização não foram ainda divulgados. As gigantes asiáticas Yadea e Niu demonstraram o seu rápido avanço na performance L3e. A Yadea, que organizou uma área de test-rides exclusiva para os seus modelos de alta performance, apresentou o modelo Velax.com uma velocidade máxima de cerca de 80 km/h e autonomia de aproximadamente 109 km, a Velax serve como um exemplo de moto elétrica que visa normalizar a estética EV, competindo no segmento commuter avançado. A Niu foi ainda mais ambiciosa, apresentando o Concept 06, uma scooter elétrica futurística que atinge uns impressionantes 155 km/h. Este modelo posiciona a Niu diretamente contra as maxi-scooters a combustão e elétricas de topo, demonstrando que as marcas asiáticas estão a rivalizar com a performance de média cilindrada. A Concept 06 também integra tecnologia de segurança avançada, incluindo um radar traseiro para projetar alertas de veículos em aproximação. A Royal Enfield apresentou o seu segundo modelo totalmente elétrico no EICMA 2025: a Flying Flea FF.S6. Este modelo é uma scrambler orientada para o off-road, que resgata a história dos motociclos ligeiros usados na Il Guerra Mundial. A FF.S6 demonstra um salto tecnológico, combinando ADN scrambler forquilha dianteira invertida e rodas 19“ (frente) e 18“ (trás) com uma arquitetura digital avançada. Um dos aspetos mais inovadores é o design da bateria, que utiliza uma caixa de bateria em magnésio nervurada, que não só ajuda na gestão térmica, mas também garante uma redução significativa de peso, um fator importante para a agilidade e desempenho fora de estrada. A Ezi, marca do grupo Keeway, utilizou o palco do EICMA para introduzir a sua linha Wonderful, destacando a segurança passiva como o seu principal diferencial no segmento de veículos elétricos. Destaque para a scooter Hypevolt, que integra um airbag no guiador. Este é um passo significativo para elevar os padrões de segurança, indo além do ADAS eletrónico e focandose na proteção do condutor. A integração de airbags em veículos de duas rodas pode representar a próxima fronteira na segurança, uma inovação que pode até influenciar futuras regulamentações europeias. A Ezi também apresentou o motociclo Hyperscram, um modelo scrambler elétrico com estilo retro. Equipado com um motor central de 12 kW de pico e autonomias de até 150 quilómetros, e ainda o modelo Hypercruise, assente na mesma plataforma mas com um estilo cruiser. EZI ROYAL ENFIELD ZERO MOTORCYCLES A Zero fez um movimento estratégico no EICMA 2025 ao entrar no competitivo mercado de scooters urbanas com a LS1. Este novo modelo destila o ADN de engenharia da marca num formato de scooter urbana compacta e elegante, focada na agilidade do dia a dia. A LS1 enquadra-se no segmento L3e e utiliza duas baterias removíveis localizadas na plataforma. Este design contribui para um baixo centro de gravidade, garantindo uma condução ágil no trânsito e espaço debaixo do assento para carga. O modelo oferece uma autonomia declarada de 115 quilómetros, que pode ser estendida até 173 quilómetros com uma terceira bateria opcional, sacrificando o espaço de armazenamento debaixo do assento.com chegada prevista para o final de 2025 e um preço na Europa de cerca de 5275 EUR, aLS1 promete ser uma séria oferta para uso urbano. Conclusão: o cenário L3e e as perspetivas para 2026 O EICMA 2025 estabeleceu inequivocamente que o segmento L3e elétrico está a amadurecer a uma velocidade impressionante, impulsionado por três vetores principais: performance, conectividade e segurança. A chegada da Honda WN7, com os seus 50 kW de pico e aposta no carregamento ccs2, valida a existência de um mercado premium para motociclos elétricos, onde o desempenho de "600 cc equivalente” é associado a um custo de utilização inferior a uma 50 CC. Esta decisão de engenharia estabelece que as baterias fxas de alta capacidade são a solução preferida para a performance, enquanto a permuta é relegada para a mobilidade urbana de baixa potência. O novo foco em sistemas ADAS e proteção A corrida por inovações de segurança torna-se tão intensa quanto a corrida por autonomia. A integração de radar na Ultraviolette x-47 e Tesseract, e o airbag na Ezi Hypevolt, definem o novo padrão de sofisticação. Estas inovações de segurança ativa e passiva são cruciais para a aceitação do consumidor europeu e para diferenciar os modelos L3e de luxo dos commuters básicos. Segmentação clara de mercado O mercado L3e para 2026 estará claramente polarizado. Num extremo, encontra-se a performance de luxo e alta autonomia (Honda WN7 Verge, e a nacional AJP Fulgora com os seus 250 km de alcance). No outro, a mobilidade acessível e estética (Famel E-XF). O preço de 6500 EUR da Famel mostra que ainda há espaço para competir no segmento de entrada L3e, oferecendo um forte apelo visual e vantagens operacionais contra os modelos a combustão. Enquanto iSSo, marcas como Niu e Ultraviolette elevam o nível das maxi-scooters (155 km/h) e da segurança, respetivamente, exercendo pressão sobre os preços através da oferta de tecnologia avançada. Em suma, o salão EICMA 2025 não apenas revelou novos modelos, mas sim um novo ecossistema onde a eletrificação significa prazer de condução e inteligência integrada, pavimentando o caminho para um 2026 que será definido pela competição em tecnologia de ponta. n LIVEWIRE A Livewire redefiniu a sua estratégia de produto no EICMA 2025 ao apresentar a versão de produção da S4 Honcho, uma mini-moto elétrica inspirada em modelos clássicos como a Honda Monkey. Ao contrário dos seus modelos s2 de alta performance, a Honcho destina-se a ser um veículo de entrada, equivalente à classe 125CC (L3e), focado em facilidade de utilização e um preço mais acessível. A Honcho utiliza um sistema de duas baterias removíveis localizadas sob o assento. Embora a capacidade ofcial não tenha sido confirmada, estima-se que cada bateria utilize o padrão de 1.74 kWh da Kymco, totalizando cerca de 3.47 kWh de capacidade. A aceleração de o a 50 km/h é anunciada como muito rápida (cerca de 3 segundos), e o início da produção está previsto para a primavera de 2026. E-XF Café Racer E-XF Classic A fabricante finlandesa Verge solidificou a sua presença na Europa, destacando os seus motociclos elétricos de design futurista hubless (sem cubo na roda traseira). Este design não é apenas uma declaração estética, mas uma forma de integrar o motor diretamente na roda, maximizando o binário e mantendo o centro de gravidade. A Verge continua a focar-se no mercado premium de alta exclusividade. PEDRO OCHÔA