ECO-RALLY DA MADEIRA COM O MASERATI GRECALE FOLGORE - O QUE FALTA À MADEIRA PARA SER UM PARAÍSO DOS ELÉTRICOS? PARA DESCOBRIR, COMEÇÁMOS POR UM RALI DE ELÉTRICOS...
2025-12-08 22:07:32

AMadeira reúne várias características ideais para a mobilidade elétrica. No entanto, a penetração destes veículos ainda é limitada. Este desafio insular não é exclusivo da Madeira , por isso resolvi ir ao terreno investigar, para extrair lições que valham tanto para a ilha como para outras regiões similares. A minha jornada começou ao participar num rali de carros elétricos. Por que participo em ralis de elétricos? Embora em outubro tenha estado intensamente envolvido nas iniciativas do projeto Viver Elétrico, aproveitei a oportunidade para ir à Madeira nos dias 3 e 4 e integrar o Eco Rally da Madeira, que este ano passou a contar para a maior competição mundial de ralis elétricos, organizada pela FIA. Ao participar nestas provas de regularidade, pretendo reforçar a missão do “Viver Elétrico”: esclarecer dúvidas sobre veículos elétricos e disseminar conhecimento objetivo e factual. Costumo recorrer a modelos que transmitam uma mensagem simbólica. Desta vez levei comigo um Maserati Grecale Folgore , exatamente o mesmo modelo que a Cristina Ferreira e eu conduzimos de Lisboa a Turim, em junho. A escolha não foi inocente: quis verificar se um SUV de luxo consegue ser simultaneamente um estradista de longo-curso, um veículo citadino e um desportivo que desperte emoções , especialmente junto de quem é cético quanto à eletrificação. Não convenci o João Quando cheguei ao Funchal, conheci o simpático taxista João Vieira, que me conduziu até à Praça CR7, onde ocorreram as verificações técnicas do rali. Ele conduzia um Mercedes Benz E 270 CDi com mais de 800.000 km e afirmou que não tinha nenhum interesse em migrar para um elétrico. O argumento principal: a fiabilidade, particularmente face à orografia exigente da ilha, que parece penalizar veículos usados no serviço profissional. É compreensível que pessoas confiem nas tecnologias com que já estão familiarizadas , e que novas soluções sejam vistas com desconfiança. Durante o rali percorremos estradas com inclinações próximas dos 30%. É exatamente nessas subidas íngremes que o binário instantâneo dos motores elétricos ganha vantagem sobre motores de combustão, que dependem de caixas de velocidades para encontrar a faixa ideal de binário. Nesse sentido, a orografia da Madeira potencia as qualidades dos elétricos. Quanto à durabilidade, o risco de avarias em componentes mecânicos é muito menor num veículo elétrico: há menos partes móveis, não há embraiagem, não há caixa de velocidades, etc. Além disso, as baterias modernas de tração são projetadas para durabilidades que ultrapassam facilmente o milhão de km. Em resumo: se o João trocasse o seu E 270 CDi por um BEV, teria uma ferramenta de trabalho mais adequada às estradas madeirenses , um automóvel que poderia durar mais, proporcionar muito mais conforto, ter custos menores de utilização, manutenção simples e menor tempo de imobilização. Os elétricos são particularmente adequados ao serviço de táxi, sobretudo para motoristas independentes com possibilidade de carregamento doméstico. Claro que 20 minutos de corrida foram insuficientes para abordar todos os temas com o João , mas abriram caminho para uma eventual conversa mais profunda. A Madeira tem potencial para a eletrificação da mobilidade? Embora já conhecesse a Madeira, nunca a tinha explorado por dois dias completos ao volante. Em muitos momentos pensei em parar o Maserati apenas para apreciar as paisagens: mar, montanhas, cascatas, nevoeiro, cenários que mudam em minutos. A ilha combina natureza, urbanismo e desenvolvimento regional. Por exemplo, o centro do Funchal está apenas a cerca de 15 km do Curral das Freiras, uma das zonas mais belas da ilha. A rede de estradas e túneis oferece excelente acessibilidade numa região que outrora era bastante difícil de percorrer por terra. Além da adaptabilidade natural dos elétricos à orografia, há outros fatores favoráveis: A Madeira tem cerca de 73 km de extensão máxima por estrada e uma rede de vias rápidas relativamente curtas, o que torna a autonomia dos veículos elétricos um fator pouco crítico. Com uma temperatura média anual de 18°C a 20°C, o clima é ideal para baterias e carregadores operarem eficientemente. O funcionamento silencioso e a ausência de emissões locais fazem dos elétricos aliados naturais da paisagem e dos objetivos de sustentabilidade da região. Atualmente, há 112 postos de carregamento público na Madeira (electromaps.com), o que é passível de expansão. Esse número por si só não precisa ser um entrave: como a população não está muito concentrada em edifícios, o carregamento doméstico é viável. E o crescimento da rede pública ou privada depende mais da dinamização da procura do que de barreiras técnicas. E o Maserati, como se comportou? Os ralis de regularidade são muito mais difíceis do que parecem e eu tenho recorrido a todo o tipo de desculpas (!) para justificar os fracos resultados obtidos nestas competições. Até o presidente da Câmara de Porto Moniz disse que as minhas descrições das paisagens eram “desculpas” para justificar resultados modestos. Nestes eventos, o navegador é fundamental , e, desta vez, eu fui acompanhado pelo Marco Leça, piloto e copiloto madeirense, que se revelou extremamente competente e gentil. Se não posso culpar nem o carro nem o navegador, resta-me a falta de equipamento adequado de medição, que impediu que muitos “zeros” registados no percurso fossem oficialmente contabilizados. Confesso que os resultados da competição de regularidade são aquilo que menos me preocupa nestas provas e aquilo que eu mais gosto são mesmo dos momentos de condução “menos regular”... o que nos leva ao próximo tema! Os “eletrodomésticos” afinal ainda andam umas coisas Todos aqueles que gostam de automóveis, como eu, têm admiração pela obra de engenharia que é um motor a combustão. Mas se há quem consiga compreender que há melhores alternativas ao motor de combustão para as condições de circulação atuais e futuras, também há quem desenvolva uma resistência visceral à propulsão elétrica. Na indústria automóvel e particularmente na área da competição, há várias pessoas que têm sintomas desta resistência. Uma das manifestações deste fenómeno é chamar aos automóveis elétricos “eletrodomésticos”, enfatizando a sua suposta incapacidade de produzir as emoções e as sensações típicas dos mais icónicos modelos desportivos. Nos Eco Rally geralmente existe uma prova complementar, disputada num troço encerrado ao trânsito, onde os concorrentes podem sentir um pouco mais de adrenalina, apesar de continuar a ter objetivos de competição de regularidade. Depois de termos feito a primeira subida da Power Stage do Eco Rally da Madeira em modo “regula-ridade”, o Marco e eu decidimos fazer a segunda subida em “modo sport” e registar o percurso em vídeo. É preciso demonstrar o potencial de versatilidade da propulsão elétrica. Por exemplo, o Maserati Grecale Folgore, que é um SUV de luxo, estradista por vocação, não sendo um citadino perfeito nem um automóvel de competição, consegue um compromisso entre estas três utilizações que dificilmente é alcançado por um automóvel equivalente a combustão. Na cidade é extremamente silencioso, é fácil e agradável de conduzir e circula sem emissões locais. Em utilização mais dinâmica, como aquela que fizemos durante a Power Stage do Eco Rally da Madeira, num troço fechado ao trânsito, foi possível constatar as sensações proporcionadas pelos 557 cv de potência, 820 Nm de binário e pela transmissão AWD. Não sendo um automóvel desportivo, o Maserati Grecale Folgore demonstra, nestas condições, um comportamento dinâmico muito bom e capaz de impressionar até quem está habituado à competição. Depois da Power Stage o próprio Marco Leça afirmou que começou a encarar os elétricos de uma forma diferente, compreendendo a versatilidade de utilização destes automóveis. O que realmente falta para a Madeira se tornar um paraíso elétrico? Durante a minha estadia, dialoguei com vários condutores de veículos a combustão sobre os elétricos. Muitos repetiram objeções típicas: “as estradas são exigentes para elétricos” ,, “autonomia insuficiente” “poucos pontos de carregamento” , “baterias com durabilidade duvidosa” Masos factos remetem ao contrário. A orografia favorece os elétri-cos. A autonomia deixou de ser um problema significativo. A Madeira tem 14 estações de carregamento por cada 100 km2 e 48 por cada 100.000 habitantes, segundo dados da Electromaps , densidades superiores a distritos continentais com população semelhante (fonte: Electromaps). Além disso, a ilha já atingiu 45% de produção energética renovável, e existe o programa +ENERGIA para elevar essa quota. A imagem da “Pérola do Atlântico” encaixa naturalmente com uma mobilidade mais sustentável. Então, o que falta para que os elétricos ganhem popularidade? É essencial fortalecer a confiança dos clientes e de todos os atores envolvidos. Há que comunicar de forma clara , sem ambiguidades, sem mitos , como é viver o dia a dia com um automóvel elétrico: vantagens, limitações, estratégias de carregamento, custos. A conveniência de carregamento (em casa, no trabalho, nos postos públicos) precisa ser enfatizada e adaptada às rotinas. É fundamental articular esforços com Governo Regional, municípios, concessionários, operadores de carregamento (OPCs, eMSPs) e demais stakeholders para acelerar a infraestrutura e a aceitação. A equipa do Viver Elétrico está totalmente disponível para colaborar com esses agentes na Madeira e noutras regiões com características semelhantes. Ricardo Oliveira World Shopper | #ViverEletrico Ricardo Oliveira