CARREGAR CARROS ELÉTRICOS SEM CABOS: SERÁ QUE VAI SER UMA REALIDADE?
2025-12-08 22:07:31

A evolução dos carros elétricos começa logo na forma e tecnologia como se carregam. E, se hoje é necessário um cabo e uma ficha, isso pode mudar, em breve. Aliás, há já investigações que mostram a qualidade do carregamento por indução. Carga rápida e simples de carros elétricos sem cabos Na Suíça já circulam os primeiros veículos adaptados para carregamento indutivo. O sistema, desenvolvido em colaboração entre a Empa e vários parceiros do projeto INLADE, permite que um carro receba energia simplesmente ao posicionar-se sobre uma placa emissora instalada no solo. Nada de fichas, nada de manobras extra. Para quem chega cansado a casa ou carrega o veículo em espaços públicos onde a rotatividade é elevada, esta comodidade faz a diferença. O interesse não se limita ao conforto. A ligação automática abre uma porta clara a modelos energéticos mais flexíveis. Assim que um carro fica estacionado, a sua bateria pode integrar-se na rede e atuar como armazenamento distribuído, algo especialmente valioso em países que avançam para uma maior penetração solar e eólica. A experiência do projeto, impulsionado com o apoio do Departamento Federal de Energia e dos cantões de Zurique e Argóvia, demonstra que a tecnologia já tem um nível de maturidade suficiente para testes reais, sem depender de protótipos de laboratório. https://pplware.sapo.pt/wp-content/uploads/2025/12/carregar_sem_Fios01.mp4 Mas não há perdas maiores do que com o cabo? A equipa da Empa comprovou que a eficiência ronda os 90%, equivalente à de um carregador convencional. Este dado é fundamental porque, historicamente, o carregamento sem fios levantou dúvidas devido a possíveis perdas energéticas. Neste caso, não. Mesmo em cenários exigentes, com neve, chuva ou pequenas desvios no alinhamento, o desempenho manteve-se estável. A precisão no estacionamento ainda exige alguma atenção do condutor, embora o sistema inclua ecrãs de orientação e, no futuro, será o próprio assistente de estacionamento do veículo a posicionar o carro sobre a bobina emissora. Entretanto, a interoperabilidade continua a ser uma prioridade. Os testes incluíram medições de compatibilidade eletromagnética para garantir que o campo magnético não interfere com pacemakers, telemóveis, chaves do carro ou os próprios sistemas internos do veículo. Após superar estes controlos, os carros receberam aprovação individual para circular nas vias suíças. Esta validação é importante porque a falta de normas comuns tem sido uma das barreiras à expansão do carregamento indutivo. Embora organismos internacionais trabalhem em regulamentações unificadas, projetos como este ajudam a pressionar para que fabricantes e operadores adotem interfaces compatíveis e seguras. À esquerda uma estação de carregamento indutivo no demonstrador move da Empa que atinge uma eficiência de cerca de 90%, comparável ao carregamento convencional por cabo. À direita um visor adicional no interior do veículo que indica a posição ideal para estacionar, enquanto o sistema verifica automaticamente se há objetos ou seres vivos entre as bobinas. Fotos: Empa Amortecedor para energias renováveis O potencial energético é talvez o aspeto mais interessante. Um carro elétrico permanece parado cerca de 23 horas por dia, tempo mais do que suficiente para se tornar um amortecedor de energia renovável. Com sistemas bidirecionais, o veículo poderia devolver eletricidade à rede em momentos de elevada procura e recarregar quando houver excedente, sobretudo durante horas de forte produção fotovoltaica. A nível económico, esta abordagem ajuda a reduzir a fatura elétrica se o carregamento for programado para horas com maior proporção de renováveis ou menor preço. Em alguns municípios europeus já se estudam incentivos para frotas que forneçam flexibilidade à rede através deste tipo de tecnologias. O carregamento indutivo simplifica tudo porque elimina a fricção diária: o carro liga-se sozinho, sem depender de que o utilizador se lembre de o ligar à corrente. Potencial O carregamento indutivo pode tornar-se numa peça real do sistema energético, não apenas num acessório cómodo. Se combinado com redes inteligentes e tarifas dinâmicas, facilita que os veículos atuem como microrreservas renováveis em bairros, empresas ou comunidades energéticas. Outro aspeto promissor é o seu uso em parques de estacionamento públicos e estações de táxis ou carsharing, onde a rotatividade constante torna mais difícil manter os carros carregados manualmente. Nesses cenários, a automatização garante níveis de bateria adequados sem intervenção humana. A médio prazo, esta tecnologia poderá integrar-se em infraestruturas de mobilidade elétrica ligeira, veículos de distribuição ou autocarros urbanos que recarregam durante paragens breves. Não precisa transformar a cidade de uma só vez, apenas instalar placas onde realmente acrescentem valor. Vítor M