À CONVERSA COM LUIS MATA PÉREZ
2025-12-06 22:12:26

Geografia e automóveis clássicos pouco têm a ver, mas Ono caso de Luis Miguel Mata Pérez, unem-se numa pessoa de grande carácter e muito afável que é professor na prestigiada Universidade de Salamanca e responsável pelo Museo de Historia de la Automoción de Salamanca. Salamanca é uma cidade espanhola que se destaca como fonte de cultura devido ao seu centro histórico classificado como Património Mundial da Unesco, à histórica universidade e à riqueza monumental que abraça estilos tão díspares como o Renascimento e o Barroco. Cidade Europeia da Cultura em 2002, Salamanca criou muitos espaços culturais e foi assim que nasceu o Museo de Historia de la Automoción de Salamanca (MHAS), dirigido por Luis Miguel Mata Pérez. Nascido há 62 anos em Salamanca, foi este professor de Geografia que há mais de 30 anos se ocupa da gestão de projetos culturais para a Comunidade de Salamanca, que fomos entrevistar ao mesmo tempo que passamos pelas várias salas do MHAS onde estão cerca de 150 veículos expostos que contam muitas histórias... De professor a curador de um museu automóvel? Bom, eu ainda sou professor de Geografia na Universidade de Salamanca! Mas, claro, que a minha atividade profissional nos últimos 30 anos tem sido a gestão cultural ligada à Câmara Municipal de Salamanca, tendo passado por vários projetos culturais da edilidade. Foi nesse enquadramento que surgiu o desafio de comandar a Fundação Gómez Planche e cuidar da sua coleção de automóveis. Quando começou o projeto do Museo de Historia de la Automoción de Salamanca? Quando Salamanca foi Capital Europeia da Cultura, a edilidade decidiu construir vários edifícios com os fundos comunitários entretanto atribuídos. Por outro lado, outros foram reabilitados e os projetos aceitavam dar outras funções aos edifícios que não as originas. Por exemplo, este edifício do museu foi totalmente renovado porque antes era uma fábrica de eletricidade. Foi a partir daqui que foram eletrificadas as primeiras casas de Salamanca. Usavam carvão para produzir energia e hoje é o lar do nosso museu. Portanto, e respondendo à sua pergunta, tudo começou em 2001 com o nascimento da Fundação Gómez Planche e, em 2002, com a génese deste projeto de museu que foi inaugurado pelo Rei Juan Carlos e pela Rainha Sofia. Como se explica este acervo tão grande? Tudo começa com a coleção Demétrio Gómez Planche que tinha de ser preservada e exposta. Depois fomos fazendo acordos com a Direção Geral de Tráfego de Espanha, o organismo estatal que se encarrega da gestão e da segurança das estradas espanholas. Depois juntou-se o Centro Histórico Iveco-Pegaso e, a determinada altura, começámos a receber doações de pessoas que desejavam entregar-nos os seus carros para exposição. Como é que tudo isso funciona? ? Museo de História de la Automoción de Salamanca foi o primeiro museu público dedicado ao automóvel e é o maior e mais reconhecido em Espanha. Ora, muitas pessoas já com idade avançada descobriram que OS seus filhos mais jovens não queriam saber das peças que alguns beneméritos do museu possuíam. Como não as queriam ver vendidas ou deterioradas, preferiram doá-las ao museu. e assim que temos alguns carros raros e até um MG doado por uma portuguesa! E deixe-me dizer uma coisa... Esta situação é interessante para O museu, mas é um sinal que nos deixa muito preocupados. Os amantes dos clássicos estão a envelhecer e as novas gerações não estão muito interessadas em defender oS clássicos. Vêm tudo como puro negócio com pouca paixão e isso deve levar-nos a refletir. A coleção do museu é fantástica. Quantos carros têm? Infelizmente estamos muito limitados em espaço. Temos expostos uma média de 150 carros e temos outros tantos guardados em armazéns. Por essa mesma razão, a nossa coleção de miniaturas está enclausurada em móveis onde não se podem ver as mais de três mil peças que temos e as motos encontram espaços aqui e acolá. Por outro lado, temos de ser muito criteriosos para aceitar uma doação, pois não temos mais onde guardar e expor. Temos de avaliar muito bem a valia dos modelos doados, pois não podemos ser um depósito de carros clássicos. Vou-lhe dar um exemplo: temos ali um Porsche 911 que nos foi doado e porque não tínhamos nenhum carro idêntico, aceitámos, mas depois tivemos de encontrar uma forma de o expor. Dou-lhe outro exemplo das doações que recebemos. Temos um Lucchini que fez as 24 Horas de Le Mans e que onos foi doado pelo seu proprietário com muitos pneus e material extra porque sentiu que este era o lugar certo para exibir o seu automóvel. é um carro que veio da Suíça, de camião, com o frete de transporte e entrega pago pelo dador do veículo, já que nós não tínhamos possibilidades para o trazer até Salamanca. Como é a relação do MHAS com Portugal? O nosso parceiro mais direto em Portugal é o Clube Escape Livre, mas mantemos boas relações com O Museu do Caramulo. Colaboramos há muitos anos como apoiantes das iniciativas do clube e como participantes nos seus eventos de clássicos. Penso que a linha de fronteira entre os dois países deve ser encarada como uma separação política e não como um muro e por isso continuamos a desenvolver projetos com o Escape Livre e outras instituições ligadas ao automóvel, tendo todo o gosto e interesse em aprofundar essas relações. O dinamismo do MHAS é algo que se destaca. Porquê? ? meu conceito de museu não se limita a ter peças expostas e esperar que as pessoas venham. Se fizermos isso, a função do museu esgota-se e as pessoas vêm uma vez e ficam satisfeitas. Não é nada disso que desejamos. Por isso temos um completo programa de exposições que vão mudando consoante os temas. Só para dar um exemplo, tivemos há pouco tempo uma exposição dedicada à Mercedes-Benz com várias peças importantes e com o primeiro automóvel feito pela Mercedes-Benz. E que ainda está cá ono museu cedido pela casa mãe! Por outro lado, temos vários modelos de competição que estão cedidos para exposição permanente, como O Lucchini que falei há pouco, um BMW M3 com "pedigree" ou também ainda um Fórmula 1 que foi pilotado por Fernando Alonso e que tem exposto o chassis e o motor. Peças verdadeiras e icónicas. Igualmente destacamos os vários Hispano-Suiza que expomos com orgulho, vários automóveis que fizeram história e outros que revelam um pouco da história do automóvel em Espanha. Enfim, queremos manter um elevado dinamismo para que as pessoas repitam a visita. ? museu nunca está igual com as exposições que organizamos e aquilo que fazemos fora do museu. Uma completa agenda de atividades com as escolas e outros estabelecimentos de ensino, palestras, visitas guiadas e eventos que permitem destacar a qualidade do museu e trazer mais pessoas a visitá-lo. O Museo de Historia de la Automoción de Salamanca quer ser mais que um museu, quer continuar a ser um polo de cultura e de interesse pelo automóvel. Só assim entendo a função de um museu. Luis Mata Pérez Entrevista Guardião da história automóvel em Salamanca O Diretor do Museo de Historia de la Automoción de Salamanca fala-nos dos grandes desafios para despertar o dinamismo cultural à volta da coleção de automóveis históricos do museu. "o Museo de Historia de la Automoción, mais que um museu, é um polo de cultura e de interesse pelo automóvel.: II “Temos um programa muito dinâmico de exposições. O museu nunca está igual a cada passagem dos visitantes.”